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Mídia estrangeira acusou governo de SP de 'sonambulismo' na crise hídrica

Daniel Buarque

23/09/2015 16h06

Premiado por gestão da água, governo de SP foi chamado de

Premiado por gestão da água, governo de SP foi chamado de "sonâmbulo" no exterior

Em meio a uma grave crise hídrica no estado há mais de um ano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vai receber um prêmio pela gestão da água no Estado de SP, dado a ele pelo Congresso Nacional. Em entrevista, Alckmin disse que o prêmio é "merecido" e que "São Paulo hoje é um modelo para o Brasil do ponto de vista de recursos hídricos".

Pelo que se vê na imprensa internacional há meses, o mundo não reconhece bem este modelo paulista de gestão da água. O governo do estado foi apontado como um dos responsáveis pela crise hídrica, e foi acusado de "sonambulismo" pela incapacidade na reação ao problema.

Parte dos relatos reunidos neste post – em itálico – foram publicados em fevereiro deste ano, no endereço antigo do blog Brasilianismo (quando se chamava 'Brazil no Radar').

Meses antes de a palavra "racionamento" surgir na política paulista como se fosse novidade, no começo do ano, a imprensa internacional já previa "desastre", "colapso" de São Paulo por conta do "sonambulismo" do governo.

Desde 2014, o mundo inteiro está de olho na falta de água que afeta o Sudeste do país. Uma busca por notícias em inglês mostra que há mais de 50 mil resultados para os termos "crise hídrica" e "Brasil".

Os principais veículos de comunicação internacionais já noticiaram problemas relacionados à seca – a maioria delas ainda em 2014, antes do governo paulista admitir problemas maiores. O nível dos reservatórios de água, que costuma interessar apenas às pessoas que são abastecidas por eles, está sendo acompanhado de perto pela imprensa internacional.

"Colapso" foi a palavra usada pelo site da rede Bloomberg, de notícias de economia. Isso aconteceu em 21 de outubro de 2014, antes do segundo turno das Eleições, e três meses antes de Alckmin inaugurar o uso do termo racionamento. A reportagem destacava que uma forte seca ameaçava o fornecimento de água da "maior metrópole" do país.

Os jornais gringos até têm destacado que o Sudeste do Brasil vem enfrentando a pior seca em oito décadas, mas o governo não está sendo poupado das críticas pela falta de ação para evitar maiores problemas para a população. Em uma edição de dezembro de 2014, a revista "The Economist" já dizia que "o governo demorou a responder à seca no coração industrial do Brasil."

A falta de resposta do governo foi destaque também na rede britânica BBC ainda em novembro de 2014. "É interessante notar que tanto o governo do estado quanto o federal foram lentos em reconhecer que existe uma crise, apesar da enorme quantidade de evidências", diz a BBC, que fala em falta de senso de urgência e em "sonambulismo" dos governantes.

Também em novembro, a agência de notícias Reuters destacou a seca e disse que São Paulo teria que tirar água "da lama". Um mês depois, em dezembro, mas ainda bem antes de uma ação mais transparente e concreta do estado, o jornal norte-americano "Los Angeles Times" dizia que o governo "minimiza a crise hídrica enquanto moradores sofrem". Segundo a publicação, "falta de planejamento e manipulação política por parte das autoridades exacerbaram a crise".

O governo do estado pode até continuar fingindo que está tudo bem e aceitar "modéstia à parte" que merece ser premiado, mas a população que vive no estado e que está constantemente sob ameaça de racionamento e falta de água sabe que o problema é muito mais sério. A questão é tão óbvia, que mesmo quem não fala português e mora em países distantes sabem da gravidade da crise hídrica. Chamar o prêmio dado a Alckmin de merecido é continuar preso ao mesmo "sonambulismo" que levou a situação a sua gravidade atual.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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