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Análise brasilianista: Brasil não vai se tornar outra Grécia, diz Calhoun

Daniel Buarque

18/09/2015 12h50

Entrevista de Craig Calhoun, diretor da London School of Economics (LSE), ao

Entrevista de Craig Calhoun, diretor da London School of Economics (LSE), ao "Valor Econômico"

Em entrevista concedida ao jornal "Valor Econômico", o cientista político Craig Calhoun, diretor da London School of Economics (LSE), defendeu que o Brasil não está em uma situação tão dramática quanto a da Grécia. Para o brasilianista, o país tem problemas econômicos sérios, com riscos relacionados ao endividamento, mas muito do que acontece no país hoje tem influência política.

"Mudanças constantes em políticas só tornam os grandes mercados e empresas mais nervosos", diz. Segundo ele, o impeachment da presidente traria traria instabilidade ao país.

Clique aqui para ver a entrevista completa no site do Valor

Veja abaixo alguns trechos da entrevista.

O que espera para o futuro do Brasil?
Calhoun: O Brasil não vai se tornar uma outra Grécia ou algo parecido. Não está tão mal assim em termos financeiros. Mas deve ter algum tipo de progresso. Vinha tendo, mas parou, por má administração, políticas ruins, corrupção e falta de confiança disseminada. E começou com a falta de confiança do setor empresarial. Quando isso acontece, as empresas deixam de investir, gerar novos empregos. Isso afeta todo mundo. O que as pessoas fizeram nos últimos anos foi tomar mais dinheiro emprestado. O que aconteceu nos últimos anos é que a quantidade de crédito mais que dobrou. O brasileiro passou a viver melhor, mas isso aconteceu porque teve acesso ao crédito. Parece progresso, mas, como se baseou em boa medida em crédito, essas pessoas estão muito mais vulneráveis. Qualquer coisa negativa que aconteça, elas sentem depressa. Sentem-se mais inseguras. Antes, talvez você não tivesse carro, ou uma casa mais bonita, mas pelo menos significava que você não iria perder a sua casa que não era assim tão boa. Agora, eu tenho a casa melhor, mas, e se não conseguir pagar? Vou perdê-la. Esse é um motivo para que o ingrediente psicológico da falta de confiança seja parte tão grande do problema.

A palavra impeachment tem sido cada vez mais usada no país. O senhor acha que isso ajudaria a estancar a situação ruim que o país vive ou traria mais instabilidade?
Calhoun: Um impeachment traria instabilidade, não resta dúvida. Se vale a pena ou não é algo que dependerá exclusivamente da capacidade de se criar um governo mais estável e eficiente após esse processo. E isso é realmente uma questão política.

O senhor fala em crise de confiança externa e interna. A situação econômica piorou na mesma medida que a confiança?
Calhoun: Objetivamente, a situação não é tão ruim em termos econômicos. As pessoas sabem disso. O Brasil deveria ser um país mais rico. Houve progresso. A taxa de desemprego está subindo agora, mas caiu durante muito tempo. Esteve entre 12% e 13% há 10, 12 anos. Não está tão alta como antes. Por isso falamos em crise de confiança. Lembra de quando o Brasil vivia a hiperinflação? O crescimento já foi muito baixo. A situação está muito melhor. O problema é que as pessoas temem voltar atrás, não têm confiança agora. Não é que a situação tenha voltado ao que era dez anos atrás, mas elas têm medo que aconteça. Está melhor do que há dez anos, mas pior do que no ano passado. Temem que as perdas continuem, porque não veem o problema da corrupção resolvido, ou uma ação unificada por parte do governo. As pessoas olham para tendências, não para números absolutos. Não têm essa memória histórica. É como sentem que a situação caminha agora.

Como recuperar a confiança dessas pessoas e dos empresários?
Calhoun: Parte importante dessa resposta é política. O país precisa de estabilidade. Mudanças constantes em políticas só tornam os grandes mercados e empresas mais nervosos. Não está claro se Dilma conseguirá promover essa estabilidade, porque isso vai depender da capacidade do governo de resolver a questão do escândalo da corrupção e das suas políticas de maneira que ainda não se viu. Isso seria um ponto de partida. Será que o governo poderá de fato resolver a questão da corrupção, ou a corrupção é algo que chega tão próximo do poder central que é impossível para eles dar um fim para o problema? Isso também criaria instabilidade e dificuldades para que as autoridades remanescentes consigam construir a estabilidade. Um governo fraco seria ruim nesse contexto. Mas a verdade é que a preocupação deveria ser se o governo vai se mostrar fraco por causa da sua incapacidade de lidar com a corrupção, porque já há uma competição entre membros do governo e outros políticos sobre quem vai ganhar e quem vai perder poder. Isso traz dificuldades para este momento em que é preciso haver união em torno de uma política, para haver confiança na economia.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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