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Blog do Brasilianismo

Futebol, Gisele Bündchen e Olimpíada: A imagem do Brasil na Bósnia

Daniel Buarque

21/08/2015 09h45

11911779_864508746972813_221059402_nPor Gabriel Bonis*

Brasil é uma ótima definição de Brasil em Sarajevo. O primeiro Brasil, com S mesmo, é um restaurante/bar em uma rua estreita do centro da capital da Bósnia-Herzegovina. A fachada do local capricha no letreiro verde, amarelo e azul. No interior, camisas da Seleção e garrafas de cachaça completam o cenário. Mas a relação com o país fica mesmo apenas nas aparências. Não há nada de brasileiro no cardápio e uma funcionária avisa que o futebol é a única razão para a homenagem.

11908001_864508220306199_214553991_nNa Bósnia, país europeu da região dos Balcãs, a imagem do Brasil ainda é, em grande parte, sinônimo de bola em campo na maioria das conversas. Na melhor universidade da Bósnia (a Universidade de Sarajevo) não há acadêmicos especializados em temas relacionados à América do Sul, por exemplo.

A distância geográfica do Brasil e a pouca presença de brasileiros na Bósnia contribuem para esse cenário, mas a atuação tímida do Itamaraty é outro fator. O governo brasileiro abriu sua embaixada em Sarajevo apenas em 2011. Até 2012, a Bósnia não tinha representação diplomática no Brasil. O que exemplifica a relação não muito próxima entre os dois países.

Ainda que a Bósnia tenha surgido como país apenas em 1992, após a declaração de independência da Iugoslávia que provocou uma intensa guerra civil entre 1992 e 1995, a aproximação brasileira foi demorada. Isso tem efeitos econômicos. Segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo Itamaraty, o comércio entre os dois países é pequeno. Atingiu US$ 27 milhões entre 2002 e 2008, caindo para US$ 6,7 milhões entre 2009 e 2012.

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A percepção do Brasil entre a população local tende a ser vaga e presa a clichês. Uma conversa sobre Brasil com colegas de trabalho (homens e mulheres) tem resultados interessantes. As associações mais constantes com a imagem do país são futebol (incluindo a Copa do Mundo), sensualidade dos brasileiros, Olimpíada e novelas. Mas há quem arrisque comentar sobre a maior exposição da população negra à exclusão social e sobre o papel dos BRICS, grupo de economias emergentes composto por Brasil, Russia, India, China e África do Sul, na economia mundial como um contraposto a potências ocidentais.

11911748_864509050306116_69595379_nOs protestos de 2013, que tiveram ampla repercussão internacional, são genericamente entendidos como "atos contra a Copa do Mundo", sem uma abordagem maior das diversas pautas presentes naqueles atos. As manifestações recentes contra Dilma Rousseff também parecem ter atraído alguma atenção, mas ninguém soube detalhar os motivos da aparente insatisfação dos brasileiros em relação ao governo federal. É claro que não é possível generalizar a percepção da imagem de um país em conversas tão reservadas, vale lembrar.

O Brasil não costuma ganhar muito destaque na imprensa da Bósnia. Entre as notícias mais recentes publicadas nos principais veículos do país, temas ligados à sensualidade brasileira tiveram espaço comparável aos das manifestações de domingo. A despedida da modelo brasileira Gisele Bündchen das passarelas foi noticiada pelo site "Slobodna Bosna". A biografia de Andressa Urach narrando sua vida como prostituta de luxo apareceu no "Dnevni Avaz", com destaque para o suposto caso da modelo com o jogador de futebol português Cristiano Ronaldo.

O mesmo jornal, no entanto, deu espaço para os protestos do último domingo contra Dilma Rousseff. O "Dnevni Avaz" destacou que cerca de 125 mil pessoas foram às ruas em São Paulo para pedir a saída da presidente.

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A filial da Al Jazeera nos Balcãs também deu espaço aos protestos, focando na "degradação" da economia brasileira e no aumento dos preços dos alimentos que derrubaram a popularidade de Dilma. Além disso, a Al Jazeera registrou os planos das autoridades do Rio de Janeiro em destacar 85 mil policias e soldados das forças armadas para fazer a segurança da cidade durante as Olimpíadas, mas citando um relatório da ONG Anistia Internacional sobre o elevado número de assassinatos extrajudiciais cometidos pela polícia fluminense.

Gabriel Bonis é pesquisador e mestre em Relações Internacionais pela Queen Mary, Universidade de Londres. Atualmente mora em Sarajevo e é editor do Politike, blog sobre política internacional, direitos humanos e economia.

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Sarajevo, na Bósnia

Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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