Em editoriais, imprensa estrangeira se coloca contra impeachment no Brasil
A imprensa internacional tem se colocado fortemente contrária à ideia de um impeachment no Brasil desde o início da crise política do segundo mandato de Dilma Rousseff. Ao longo dos últimos meses, não foram raras as reportagens e análises internacionais que apontam que o caminho da retirada da presidente, do ponto de vista internacional, seria um erro.
Nesta semana, logo após o terceiro grande protesto nacional contra a presidente, alguns dos principais veículos da mídia estrangeira publicaram editoriais e entrevistas analíticas em que indicam que o Brasil vem passando, sim, por sérios problemas políticos e econômicos, mas reiteram a necessidade da manutenção da ordem institucional no país e indicam que faltam alternativas viáveis ao atual governo.
De uma única vez, "New York Times", "Financial Times", "El País", "France Presse" e vários outros veículos deixaram bem mais evidente o olhar estrangeiro contrário ao impeachment no Brasil.
O "New York Times" abre seu editorial indicando que o país está em farrapos, e passando por uma séria turbulência, mas que "apesar de as investigações terem criado enormes problemas políticos para Dilma e levantado questões sobre seu trabalho no Conselho da Petrobras, antes de se tornar presidente, ela admiravelmente não demonstrou esforços para constranger ou influenciar as investigações", diz.
"Não há dúvidas de que os brasileiros estão enfrentando tempos duros e frustrantes, e que as coisas ainda vão piorar antes de começarem a melhorar. Dilma também vai lidar com muitos problemas e críticas. Mas a solução não deve ser debilitar as instituições democráticas que são as garantias últimas de estabilidade, credibilidade e governo honesto", diz.
O tom do editorial do "NYT" é semelhante ao do publicado pelo jornal de economia "Financial Times", tradicionalmente visto como um dos veículos internacionais mais críticos ao governo Dilma.
"A presidente deveria permanecer no cargo, apesar dos pedidos por impeachment", diz. O posicionamento é de que apesar da posição precária do governo, se Dilma for afastada, ela "provavelmente seria substituída por outro político medíocre", que implementaria as mesmas medidas econômicas do atual governo.
Uma reportagem com tom editorial da agência de notícias France Presse repete o que parece um mantra de analistas internacionais sobre a crise política do Brasil: "O impeachment põe em risco a democracia no país".
A rede de TV americana CNN convidou o historiador Jeffrey Lesser para comentar os protestos no Brasil em um artigo publicado em seu site. Apesar de não atacar a ideia de impeachment diretamente, a CNN argumenta que dificilmente Dilma deixará o poder.
"A renúncia ou impeachment de Dilma são cenários improváveis, e os protestos contra a presidente e seu partido não oferecem soluções para a atual crise de corrupção ou a continuidade dos problemas sociais e de desigualdade econômica. O que os protestos destacam, entretanto, é a continuidade de uma democracia vibrante no país", diz.
Em uma reportagem publicada em sua página em português, a rede britânica BBC também deu voz aos críticos à saída de Dilma. Para brasilianistas, impeachment pode arranhar imagem do Brasil no exterior, diz.
"Até pouco tempo o Brasil era visto como um exemplo de estabilidade entre os países latino-americanos e emergentes e, sem uma justificativa clara e forte, um impeachment poderia ser percebido por observadores como uma volta ao passado", opina Matthew M. Taylor, professor da American University e pesquisador do Brazil Institute do Woodrow Wilson Center. "Poderia ser um revés para a imagem do Brasil no exterior."
Em um texto que fala sobre o culto às personalidades na política latino-americana, a revista "Christian Science Monitor" repete a analista Shannon K. O'Neil, do Council of Foreign Relations, que diz que um novo impeachment pode enfraquecer a democracia brasileira.
O jornal espanhol "El País" publicou em sua página em espanhol um artigo do pesquisador brasileiro Milton Seligman em que diz que a crise atual tem solução. "As manifestações populares de comingo contra a presidente brasileira Dilma Rousseff não mudarão o cenário nem a favor nem contra o governo", diz.
"Se Dilma fosse destituída, o novo governo deveria surgir de uma força política hegemônica capaz de dar a harmonia necessária para que uma nova administração governe o Brasil. Essa nova força política não existe no cenário brasileiro."
De forma parecida, a revista francesa "Nouvel Observateur" destacou em título que "Dilma não se vai". "Mesmo que ela seja contestada, Dilma Rousseff não vai sair. Não há mais do que especulações. Ela foi eleita de forma legítima", diz o analista Christophe Ventura.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.