Polarização muda forma como Brasil reage ao ser alvo de piada no exterior
Algo mudou na forma como o Brasil reage ao ser alvo de piadas no resto do mundo.
Na última semana, um comediante britânico bateu panelas na rede de TV HBO, questionando como era possível que a presidente Dilma Rousseff não estivesse envolvida no escândalo de corrupção na Petrobras, já que ela havia chefiado o conselho da estatal. O vídeo rodou o país, se tornou um dos assuntos mais populares em redes sociais e fez muita gente se dizer "envergonhada", mas não gerou protestos ou pedidos de desculpas formais por parte da população ou do governo. E isso é novidade.
Os brasileiros sempre tiveram um forte sentimento de proteção contra ofensas internacionais. Ao longo das últimas décadas, sempre que alguma voz pública falava sobre o Brasil, mesmo sendo na ficção, os brasileiros reagiam de forma defensiva, como se tivessem sido profundamente ofendidos em sua honra – chegando a fazer pedidos formais de retratação.
Foi assim com Os Simpsons, desenho animado que retratou o Brasil no episódio "O feitiço de Lisa", de 2002, mostrando macacos no meio da rua. Isso se repetiu quando o ator Robin Williams contou uma piada sobre os motivos de o Rio de Janeiro ter sido escolhido como sede das Olimpíadas, e quando o ator Sylvester Stallone fez comentários jocosos sobre o Brasil, ambos em 2009. Todas as piadas eram interpretadas como ataques, gerando repreensão na mídia brasileira.
O caso mais recente foi diferente. O vídeo em que John Oliver explica ao mundo os protestos pelo Brasil foi amplamente comentado como "sátira", "piada", "sarro", mas nenhuma voz proeminente protestou.
O brasilianista Joseph A. Page me disse certa vez que o Brasil não deveria ficar ofendido com essa exposição irônica, pois isso demonstrava uma maior relevância do país no cenário internacional. "Piadas mostram um interesse maior no país. Ter piadas sobre o Brasil significa que as pessoas estão pensando e falando sobre o país", disse, em 2010.
A mudança vista na últma semana poderia ser fruto de um amadurecimento dos brasileiros, que talvez tivessem assumido uma postura com auto-crítica maior, permitindo que o Brasil se veja foco de piadas sem se sentir atacado.
Talvez não. Grande parte das reações na imprensa brasileira apontou que a sátira não tinha o país como alvo, mas o governo, e a presidente. Talvez a reação diferente neste caso recente seja apenas um efeito da atual polarização política por que o país passa, em que ataques a Dilma são aceitos em meio à enorme queda da sua popularidade.
Pensando desta forma, os brasileiros insatisfeitos com o governo podem até ter se sentido representados pelo humorista. A reação ao vídeo pode ser vista como se a piada com o governo estivesse, na verdade, valorizando sua postura política de oposição, valorizando a postura crítica do país em relação à corrupção. Isso pode até ser uma melhora em relação ao que havia antes, mas não mostra necessariamente amadurecimento do país.
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