Anthony Pereira: O Brasil não é tão corrupto assim
O pessimismo parece estar tomando conta do país quando se fala em corrupção. A corrupção foi a principal motivação da maioria dos brasileiros que foram às ruas nas manifestações do último fim de semana. Esta indignação nacional com o desvio de dinheiro pode ter efeitos positivos para o Brasil, segundo o diretor do Instituto Brasil do King's College de Londres, Anthony Pereira: "Pensar que o Brasil é o país mais corrupto do mundo pode ser bom, pois isso pode incentivar o país a reformar o sistema", explicou. Isso é válido mesmo que uma análise comparativa com o resto do mundo mostre que "o Brasil não é tão corrupto assim", disse.
Em entrevista ao Blog do Brasilianismo, Pereira ressaltou que dizer que o Brasil não é tão corrupto quanto se pensa no país não significa que o problema seja pequeno, de jeito nenhum. "Um dos principais problemas relacionados à corrupção no Brasil é que, no alto nível de negociação, os valores envolvidos são muito altos. A magnitude de dinheiro desviado nesse escândalo da Petrobras é imensa", disse. Mas enquanto a cada dia a Operação Lava Jato traz mais detalhes dos esquemas de desvio de dinheiro da Petrobras e cria a sensação de que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, é preciso avaliar a situação da corrupção no Brasil dentro do contexto internacional .
"Se compararmos o Brasil com os outros países do BRIC, será que alguém diria que o Brasil é mais corrupto de que Rússia, Índia e China? Acho que é difícil acreditar nisso. Os valores envolvidos em corrupção nesses outros países é realmente grande. Mesmo em países desenvolvidos há muita corrupção. Eu costumava morar na Louisiana, que é uma região das mais corruptas nos Estados Unidos. Até nosso ex-prefeito e ex-governador já foram presos", explicou.
Pereira é um dos mais importantes brasilianistas da atualidade. Ele dirige o instituto dedicado a estudar o Brasil no King's College London, uma das mais respeitadas universidades da Inglaterra. Doutor por Harvard, sua área de pesquisa inclui questões relacionadas a democracia e autoritarismo, movimentos sociais, cidadania e as transformações econômicas e sociais do Brasil nas últimas décadas. Ele é também autor de livros como "Ditadura e Repressão" (e, para ser transparente neste post, ele foi meu orientador durante a pesquisa de mestrado sobre a imagem internacional do Brasil).
Transparência
Com esse olhar internacional, Pereira cita uma pesquisa publicada pela ONG Transparência Internacional sobre a percepção de corrupção pelo mundo. O levantamento mostra quantas pessoas de cada país já foram vítimas da corrupção, que é basicamente ter que pagar propinas. "O total de brasileiros que pagou propinas em 2014 foi de 13,9% da população, que é muito menor de que o resto da América Latina exceto Chile, Uruguai, Colômbia e El Salvador. Essa é apenas uma medida de corrupção, mas mostra que não é um problema só no Brasil. Há fortes evidências de que o Brasil não é o mais corrupto."
Segundo a Transparência Internacional, o Brasil é o 69º país com menor percepção de corrupção no mundo – não é uma posição tão boa, é verdade, mas isso significa que existem 106 países com mais corrupção de que o Brasil entre os 175 analisados pela ONG.
Apesar da comparação global, medir a corrupção é praticamente impossível, Pereira explicou. "Há muitas áreas cinzentas dentro da discussão a respeito de corrupção. Uma das coisas que se debate com indignação nos Estados Unidos e na Inglaterra é a enorme influência do dinheiro na política, em situações que não são necessariamente ilegais, mas que violam o sentido de igualdade de cidadania e a noção de que com a democracia se tem a soberania popular", disse, citando vantagens a doadores a campanhas eleitorais no Reino Unido.
A corrupção na Petrobras, entretanto, é um caso grave, ele ressalta. "O Petrolão é ilegal e viola o senso de o que é eticamente correto, mas há muitos outros aspectos de vida política no Brasil e no resto do mundo em que atividades legais violam o que é eticamente correto. É uma questão muito complexa e relativa."
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