Para professor, Trump inspira conservadorismo de direita na América do Sul
A ascensão de Donald Trump na política dos Estados Unidos está ajudando a alimentar o crescimento de movimentos conservadores na América Latina, segundo uma análise do professor Omar G. Encarnación publicada na prestigiosa revista de política internacional "Foreign Policy".
Segundo Encarnación, o "trumpismo" pode ser percebido em países como Brasil, Argentina e Chile, onde políticos de direita assumiram o poder nos últimos anos. "Pela primeira vez em décadas, as três maiores economias da América do Sul estão nas mãos de governos conservadores", avalia.
Professor de Estudos Políticos no Bard College, no Estado de Nova York, Encarnación admite que muito ainda separa a postura do presidente americano dos líderes latinos. Segundo ele, também é natural perceber que o crescimento da direita é uma reação ao predomínio da esquerda ao longo das últimas décadas, o que gerou uma fatiga no continente.
Ainda assim, ele diz que há importantes pontos em comum entre os líderes conservadores da América do Sul e Trump. Entre as semelhanças, ele aponta o conservadorismo social, o crescimento da força política de evangélicos e declarações xenófobas e contra a imigração.
O artigo diz que o Brasil é o principal exemplo de crescimento desse conservadorismo social –embora erre ao dizer que o impeachment de Dilma Rousseff tenha ocorrido por corrupção.
"A direita latino-americana também está adotando o conservadorismo social com mais rigor do que nunca, seguindo o modelo estabelecido pela direita cristã americana nos anos 80. Isso é mais pronunciado no Brasil, com sua crescente população evangélica; embora o Brasil continue sendo o maior país católico do mundo, cerca de 30% dos brasileiros agora reivindicam uma identidade evangélica, acima dos 10% registrados apenas três décadas atrás. Este movimento está agora começando a flexionar seus músculos políticos, com o incentivo dos aliados à direita política. Líderes evangélicos foram uma força impressionante por trás do impeachment de Dilma Rousseff, a primeira presidente do Brasil, por acusações de corrupção em 2016, depois de se cansarem do liberalismo social do Partido dos Trabalhadores de Dilma e seu apoio ao aborto, direitos gays e educação sexual."
Segundo o professor, é possível afirmar que os evangélicos também estão por trás do governo de Michel Temer, o que pode ser comparado ao que acontece atualmente nos EUA.
"Como Trump, Temer buscou uma aliança com líderes evangélicos para amenizar o impacto de inúmeros escândalos e lapsos de ética. De fato, Temer, um católico de ascendência libanesa, pode até dever seu emprego ao movimento evangélico. Em 2016, sua ascensão à presidência foi ameaçada por um boato de que ele era um adorador do diabo. Líderes evangélicos correram para o lado de Temer para declarar em uma mensagem de vídeo para a nação através de redes sociais que Temer não era um satanista. Em troca dessa ajuda, Temer nomeou vários líderes evangélicos para seu gabinete", diz.
Encarnación também cita o crescimento de movimentos xenófobos no Brasil, e compara as declarações do deputado Jair Bolsonaro contra imigrantes haitianos ao discurso de Trump.
Bolsonaro, "acusou os refugiados haitianos no Brasil de 'trazer doenças ao país'. Isso ecoa a alegação de Trump de que os haitianos que imigraram para os Estados Unidos 'todos têm AIDS"', diz.
Apesar do crescimento da direita na América do Sul, Encarnación diz que o conservadorismo econômico na região é mais limitado do que nos EUA por conta da alta desigualdade. Para ele, isso explica como políticos como Temer não conseguem levar adiante uma agenda de maior austeridade econômica. Além disso, ressalta que a esquerda do continente pode ter perdido força, mas continua viva.
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