Escândalo dos frigoríficos pode virar a vaca louca da imagem do Brasil
Mesmo décadas depois do mais famoso escândalo envolvendo carnes na história recente do Ocidente, ainda há quem não se sinta totalmente seguro ao comer um bife na Inglaterra. Apesar de o país não ser famoso pela sua gastronomia, a notícia global sobre a doença da vaca louca, que registrou a contaminação de mais de 220 pessoas desde 1996, fez com que a reputação do rosbife britânico (uma instituição nacional) ficasse manchada por um longo tempo.
Esta é uma das maiores ameaças envolvendo o escândalo da contaminação de carnes em frigoríficos brasileiros, revelado pela operação Carne Fraca, da Polícia Federal: os efeitos sobre a imagem do país e sobre seu comércio no exterior.
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo, e muitas vezes é associado naturalmente a sua produção de carnes, e tudo isso pode ser afetado pela corrupção dos frigoríficos –mesmo que o impacto das carnes estragadas brasileiras não tenha gerado problemas tão sérios de saúde quanto a vaca louca, que chegou a causar mortes.
O nome do país está associado a restaurantes especializados em churrasco nas principais cidades de todo o mundo. O Brasil se destaca, até de forma romantizada, como uma alternativa ao método industrializado de criação de gado implementado nos Estados Unidos e em parte da Europa. Por mais que não seja exatamente esta a realidade, há muita gente no resto do mundo que acredita que os bois brasileiros são criados de forma idílica, livres para passear e se alimentar de pasto, o que acaba pesando positivamente na imagem da carne brasileira.
Ou pelo menos era assim, até a Carne Fraca mostrar ao resto do mundo que a corrupção (tão forte na imagem do Brasil), chegou até suas carnes. O caso foi amplamente noticiado de forma crítica na imprensa internacional.
"Frigoríficos gigantes do Brasil exportam carne podre", destacou um título da rede britânica BBC na sexta. "Empresas brasileiras subornaram inspetores para manter carne estragada no mercado", disse o jornal "Telegraph". "O mais recente escândalo do Brasil: Propina, ácido e exportação de carne estragada", lia-se em uma reportagem da rede de economia "Bloomberg".
O jornal "Financial Times" foi bem direto ao tratar dos efeitos do escândalo na economia: "As ações dos maiores frigoríficos do Brasil despencaram enquanto a polícia realizava uma operação contra a corrupção na indústria, indicando que membros das empresas subornaram oficiais para fechar o olho para a exportação de carne contaminada", diz.
A preocupação com os impactos disso na imagem do país é evidente no governo. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou uma reunião de emergência com o adido comercial da União Europeia no Brasil. Segundo ele, o próprio presidente Michel Temer demonstrou preocupação com a imagem internacional do Brasil e com o impacto da operação no mercado exportador.
É difícil saber qual vai ser, na prática, este impacto. Por um lado, é verdade que há os efeitos de os estrangeiros poderem ver com mais suspeita os produtos brasileiros em seus supermercados –o que pode derrubar exportações, aumentar ainda mais a crise econômica e fazer com que o país seja sempre lembrado como o Reino Unido é associado à vaca louca.
Por outro, entretanto, a narrativa do escândalo das carnes estragadas pode se enquadrar na imagem que o Brasil vem construindo da sua luta contra a corrupção.
Por mais que não haja uma saída clara para a atual crise política do país, analistas internacionais frequentemente tratam da operação Lava Jato e do aumento das notícias sobre corrupção no Brasil como algo positivo, um símbolo de que o país decidiu lutar de forma séria contra as forças ocultas na política e na economia.
Se as operações contra a corrupção conseguirem sucesso em diminuir a prática de subornos, o país pode até sair de mais este escândalo fortalecido, mostrando que não admite práticas erradas nem em uma de suas indústrias mais fortes. Tudo vai depender de como as coisas vão se desenrolar e de qual narrativa vai ficar marcada na reputação do país no resto do mundo.
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