Marcos Troyjo: Diplomacia de Lula/Dilma não projetou Brasil no palco global
A ideia de que a ascensão da imagem do Brasil no mundo ao longo dos últimos anos deu ao país protagonismo nas relações globais é um erro, segundo o pesquisador e colunista da "Folha de S.Paulo" Marcos Troyjo.
Em um texto publicado nesta quarta-feira, Troyjo alega que o Brasil teve uma grande oportunidade e chegou a um "camarote" dessa política internacional, mas que se comportou de forma errada e deixou de aproveitar a chance de se consolidar como importante ator naquele palco.
Sua avaliação pode soar um tanto exagerada, mas ela não nega o fato de que o país teve um aumento na sua visibilidade internacional nas últimas décadas, e que passou a ser mais reconhecido. Sua crítica central indica que o aumento da projeção não se consolidou em aumento de importância real ou de força internacional.
"Enquanto esteve no camarote VIP, o Brasil teve, a um só tempo, os olhos do mundo sobre si e um excelente ponto de observação para antecipar tendências. Ao optar pelo acessório e o perdulário, comportou-se como o "rei do camarote" das relações internacionais", diz.
Troyjo é economista, diplomata e cientista social, e dirige o BRICLab da Universidade Columbia em Nova York. Seu texto avalia as mudanças das relações exteriores do Brasil a partir do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência e da chegada de José Serra ao Itamaraty.
Veja abaixo alguns trechos do texto dele
"A diplomacia de Lula-Dilma não projetou, a bem da verdade, o país ao centro do palco. Nossos tradicionais ativos e potencialidades, de território, população, peso relativo do mercado interno e patrimônio ambiental, somaram-se a um conjunto de fatores positivos. A estabilidade macroeconômica herdada (e dilapidada) pelo lulopetismo, o bônus demográfico, o superciclo das commodities e a promessa de uma superpotência energética permitiram-nos acesso ao "camarote VIP" frequentado por potências emergentes.
De lá, equipado por uma boa estratégia de inserção global, poderia ter continuado a ascender, mas desperdiçou boas oportunidades que lhe passaram à frente.
No camarote VIP, o Brasil pouco fez por reformar-se internamente ou adaptar-se à globalização. Com a possível exceção da agenda global do meio ambiente e dos marcos para o desenvolvimento sustentável, o país pouco liderou. Os Brics, seja como sinônimo de classe de ativos ou plataforma de inserção global, não representam uma formulação "Made in Brazil". Tampouco o G20.
Dizer que de agora em diante o Brasil vai abandonar a "liderança" da integração latino-americana é uma bobagem. Empatias ideológicas e a multiplicação de fóruns regionais para a crítica aos males do mundo não são sinônimos de integração. Enquanto comprar uma garrafa de um bom vinho argentino for mais barato em Nova York do que em São Paulo, a integração não é para valer."
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