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Novo presidente de associação de brasilianistas promete manter pluralismo

Daniel Buarque

05/04/2016 11h54

Bryan McCann, novo presidente de associação de brasilianistas promete manter pluralidade

Bryan McCann, novo presidente de associação de brasilianistas, promete manter pluralidade

O historiador norte-americano Bryan McCann, professor da Universidade Georgetown, começou esta semana com um grande desafio à sua frente. Ele acaba de assumir a presidência da Brazilian Studies Association (Brasa), entidade que reúne cerca de 700 pesquisadores em universidades internacionais voltados a pesquisas relacionadas ao Brasil. E se tornou presidente em meio a um momento turbulento para os brasilianistas.

Logo após McCann assumir a associação, um posicionamento político da Brasa sobre a crise brasileira gerou uma forte dissidência interna. Tanto assim que seu antecessor na Presidência, o cientista político Anthony Pereira, professor do King's College de Londres, renunciou a seu cargo no Comitê Executivo da Brasa e solicitou sua desfiliação da entidade. Além dele, outros dois brasilianistas também pediram desfiliação, e há uma forte divergência entre diferentes grupos que formam a associação.

Apesar da tensão causada pelo posicionamento da Brasa sobre uma ameaça à democracia brasileira em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o novo presidente da associação discorda da ideia de que há uma cisão entre os brasilianistas.

Em entrevista ao autor deste blog Brasilianismo para a "Folha de S.Paulo", McCann minimizou o racha da Brasa e explicou que houve uma confusão com os procedimentos internos da associação, o que aumentou a tensão entre os pesquisadores. Ele defendeu, entretanto, que a Brasa continua sendo uma associação não-partidária, e disse que o grupo vai continuar sendo pluralista.

"Não acho que podemos chamar o que houve de crise, e isso não vai afetar a colaboração entre os pesquisadores. A questão é que precisamos melhorar nossos procedimentos, tornar os processos mais claros. Vou anunciar formalmente que vamos continuar valorizando o pluralismo", disse.

Ele explicou que, após a votação no congresso dos brasilianistas, a Brasa vai oficialmente publicar o manifesto sobre ameaças à democracia brasileira como uma posição da associação, mas vai explicar que não foi uma decisão unânime. "Nós não conhecíamos bem os procedimentos internos, havia limitações de tempo, mas uma clara maioria apoiou a declaração", disse.

Até a semana passada, McCann era vice-presidente da Brasa, e assumiu a Presidência no fim de semana, antes da renúncia de Pereira ao Comitê Executivo da associação. Ele foi um dos pesquisadores que apoiaram o abaixo-assinado que foi divulgado pela internet no fim de março, antes que o texto fosse levado como proposta à conferência. "O manifesto estava sendo assinado individualmente, e eu assinei, mas então houve uma proposta de torná-lo a posição oficial da Brasa. Este tipo de manifesto oficial é algo novo para a associação", disse.

Segundo McCann, a dissidência dentro da Brasa é um reflexo da polarização política que existe no Brasil atualmente, mas não chega ao nível de radicalismo que se vê entre brasileiros. "Todos os brasilianistas estão preocupados com a situação da democracia no Brasil. A preocupação está relacionada especialmente aos processos", explicou.

O livro "Brazil, um país do presente" dedica um capítulo inteiro à importância dos estudos brasileiros no exterior para a formação da imagem internacional do país. Ele relata que a associação de brasilianistas foi criada nos anos 1990 e desde 2006 se consolidou como a "voz diplomática" dos estudos brasileiros no exterior.

A ideia de criação da Brasa surgiu durante uma reunião do grupo maior de que os brasilianistas faziam parte, a Lasa (Latin American Studies Association – Associação de Estudos da América Latina). A Lasa tinha se consolidado desde os anos 1970 e já tinha mais de 5 mil sócios nos anos 1990, e os brasilianistas sentiam que o congresso era grande demais, fazendo com que o Brasil quase desaparecesse. Além disso, os estudiosos do Brasil sentiam que a Lasa não tinha interesse no país nem no idioma português. Foi então que um grupo com cerca de 40 pesquisadores de Brasil que faziam parte da Lasa se reuniram em uma sala separada e debateram a hipótese de criar uma associação de estudos brasileiros.

Segundo o professor Marshall Eakin, que participou da negociação para criar a Brasa e foi o nome mais importante dos primeiros anos do grupo, a ideia gerou controvérsia, pois os brasilianistas antes haviam passado anos brigando por atenção dentro do grupo de estudos da América Latina, tentando provar que o Brasil era parte dela, e de repente mudou de foco e passou a se apresentar de forma completamente separada, com outra associação exclusiva para o país. "Aqui nos Estados Unidos, somos ao mesmo tempo brasilianistas e latino-americanistas, pois ensinamos também America latina na graduação. Então somos sempre vistos primeiro como pesquisadores de América Latina e depois de Brasil. Estamos registrados na graduação como especialistas em América Latina com especialização no Brasil", explicou. Mesmo sem um consenso foi proclamada ali a criação da Associação de Estudos Brasileiros, com o professor Jon M. Tolman, da Universidade do Novo México, como o primeiro presidente do grupo, a partir de 1994. "Cansamos de ser o reboque da Lasa, eles nunca deram atenção ao Brasil", dizia o professor de literatura brasileira da Universidade do Novo México.

De 1992 a 2004, período em que a Brasa foi transferida para o Tennessee, a principal atividade da associação era a montagem de congressos e encontros de pesquisadores. Foi então que ela começou a se propor como "voz diplomática" do grupo, Eakin assumiu como diretor-executivo da associação e começou o trabalho para tornar o Brasil ainda mais visível na academia americana, montando uma infra-estrutura para que o grupo se tornasse mais forte.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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