Na mídia internacional, corrupção da Fifa não é um escândalo 'do Brasil'
O "país do futebol" por enquanto vê sua imagem sair quase intocada pela mídia internacional na cobertura do maior escândalo de corrupção relacionada ao esporte e à Fifa. O problema aparece como uma questão que toca o Brasil, naturalmente, mas como uma questão internacional que não diz respeito especificamente ao país – diz-se até que o Brasil pode se beneficiar das investigações.
Questões relacionadas a corrupção em geral no Brasil têm tido ampla divulgação na mídia internacional nos últimos tempos, e a atual cobertura não poupa o Brasil por achar que o país é "mais limpo". Pelo contrário, escândalos de corrupção relacionados ao futebol estavam entre as principais notícias internacionais sobre a Copa do Mundo de 2014. Acontece, entretanto, que quando se fala de corrupção no futebol, o Brasil é apenas uma pequena parte em um escândalo que aparenta ser muito maior de que o país. No caso atual, a imprensa mundial vê a corrupção como um escândalo do esporte e da própria Fifa – não de um ou outro país. Tanto é assim que o Brasil sequer era mencionado na reportagem original sobre o caso, publicada pelo "New York Times".
A operação liderada pelo FBI na Suíça levou à prisão sete dirigentes do alto escalão do futebol mundial, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marín, sob a acusação de corrupção em entidades ligadas à Fifa. No total, 14 réus são acusados de extorsão, fraude, lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades. A investigação aponta suborno de US$ 150 milhões em questões ligadas a transmissão de jogos e direitos de marketing do futebol na América do Sul e Estados Unidos. O Brasil aparece aí no meio, mas não é o principal alvo da investigação ou das reportagens sobre ela.
Por mais que haja brasileiros entre os investigados e detidos, e por mais que a investigação aponte irregularidades em negociações de campeonatos no Brasil, a corrupção da Fifa tem sido tratada como um problema internacional do esporte, com envolvidos em vários países. Além de Brasil, aparecem citados África do Sul, Rússia, Qatar e investigados de vários outros países. Nenhum país tem sido apontado como tendo resposabilidade direta pelos desvios na federação internacional do esporte.
O Brasil tem sido poupado das críticas internacionais, que atacam com muita força a própria Fifa. E mesmo quando o país aparece com destaque nas reportagens publicadas pelo mundo, muitas vezes é até de forma positiva.
O tabloide britânico "Daily Mail", por exemplo, destacou o discurso da presidente Dilma Rousseff defendendo uma ampla investigação da Fifa. Já segundo o "Guardian", "poucas pessoas no Brasil lamentam a prisão de José Maria Marín, um político dos tempos da ditadura e ex-chefe da CBF, em Zurique".
Até a CBF conseguiu aparecer sem ser apontada como parte do problema. Em uma reportagem da agência France Presse, a Confederação Brasileira de Futebol é citada por ter dado apoio "público e total" às investigações.
No "Financial Times", o destaque maior foi dado ao envolvimento de José Hawilla, dono da Taffic, "empresa de mídia esportiva que controla virtualmente todo o negócio do esporte no país". Segundo a publicação, a admissão de culpa de Hawilla atinge o coração da hierarquia do futebol no Brasil.
Em entrevista à "Folha", Andrew Jennings, autor de livros sobre corrupção na Fifa vê no atual escândalo uma chance de limpar o futebol no Brasil. "Há uma chance de construir o futebol brasileiro a partir da raiz. Agora é tempo do governo brasileiro chegar e dizer que vai organizar o futebol. Vocês [brasileiros] votaram neste governo. Se acontecer uma limpeza na CBF, o Brasil estará dando uma contribuição legítima para o futebol mundial", disse.
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