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Com Tea Party e líder adolescente, Brasil importa política imatura dos EUA

Daniel Buarque

16/04/2015 12h59

Reportagem sobre adolescente brasileiro que lidera movimento político no site

Reportagem sobre adolescente brasileiro que lidera movimento político no site "Libertarian Republic"

Um dos temas mais curiosos do noticiário internacional em 2009 foi quando o adolescente Jonathan Krohn, então com 13 anos, subiu ao palco de uma convenção política nos EUA para defender uma postura mais conservadora da oposição republicana ao governo. O discurso de Krohn virou notícia internacional, e o jovem líder conservador se tornou celebridade, participando de dezenas de programas de política na TV do país (assista abaixo ao discurso de Krohn).

Na época do aparecimento de Krohn, apenas os republicanos mais conservadores realmente levavam a sério o que ele falava, e sua presença na mídia era mais uma demonstração de algo "bizarro" que acontecia na política dos Estados Unidos – uma demonstração de extrema imaturidade política. Por todo o mundo, analistas ridicularizavam o fato de os conservadores terem que ir buscar em um garoto de 13 anos a inspiração para a oposição ao governo democrata. Claro que é saudável que um país envolva jovens e adolescentes na política, mas aceitar que o principal movimento de oposição é liderado por um adolescente realmente diz muito sobre a maturidade do país.

Em 2009 isso valia para os Estados Unidos, mas em 2015 vale para o Brasil, que parece ter importado o modelo americano e expõe características de radicalismo e imaturidade política para o resto do mundo. É inegável que o momento político brasileiro tem sérias divisões, e que a oposição tem conseguido achar vários motivos para mobilizar milhares de pessoas indignadas com o governo. A questão não é a essência da crítica ao governo, mas a forma radical e imatura como ela aparece no Brasil.

Perfil do jovem Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre, publicado pela AP

Perfil do jovem Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre, publicado pela AP

O aparecimento do adolescente como símbolo conservador nos EUA aconteceu em um momento de intensa briga política entre o governo recém-empossado do democrata Barack Obama e uma oposição que se tornava cada dia mais radical, empurrada pelo então crescente Tea Party (grupo de extrema-direita dos EUA). Em meio à atual briga política entre o governo e a oposição no Brasil, analistas internacionais começam a comparar os grupos radicais que pedem impeachment de Dilma Rousseff com o Tea Party americano, e até um líder conservador adolescente o Brasil tem também: Kim Kataguiri.

Aos 19 anos, o adolescente que lidera o Movimento Brasil Livre (MBL) foi o foco de um perfil publicado pela agência de notícias Associated Press (AP) e passou a ser tratado como "estrela" pelo site americano "The Libertarian Republic", revista digital de defesa do mercado livre e de políticas conservadoras.

A liderança conservadora de um adolescente, "é a melhor notícia que escutamos da América Latina no ano inteiro", segundo Silvio Canto Jr., colunista do site "American Thinker", especializado em análises de política e economia com tendência liberal. "Frank Sinatra costumava cantar que as pessoas bebem muito café no Brasil. Parece que agora pode haver um 'Tea Party' com um pouco de samba também", diz o texto, fazendo um jogo de palavras com "tea", que significa chá, e café.

A comparação com o Tea Party apareceu na revista "The Economist" desta semana, que ressaltou que o MBL é "muito jovem e muito fragmentado para conseguir  se infiltrar no Congresso, ao contrário do Tea Party americano". O próprio título da reportagem fala sobre o grupo: 'Tea Party Tropical'.

A referência ao Tea Party aparece também no texto da AP com o perfil do líder do MBL, que ressalta que o livro "The Tea Party Goes to Washington" (O Tea Party vai a Washington) era um dos que tinham destaque na prateleira da sede do movimento. Por outro lado, a imaturidade do movimento criado por adolescentes foi destacada pela AP em sua reportagem, explicando que parte do trabalho dos ativistas da oposição ao governo é "criar memes de internet ridicularizando Rousseff, e divulgando reportagens, vídeos e informações sobre os protestos no Facebook".

O longo perfil do "adolescente libertário" foi publicado pela AP no fim de março e foi republicado por dezenas de sites pelo mundo, dando visibilidade ao grupo conservador que faz oposição ao governo, defende Estado mínimo e pede o impeachment de Dilma Rousseff. A AP se refere a Kataguiri como um "teen", adolescente, magro "de 19 anos que largou a universidade", que se juntou a outros jovens ativistas "inspirados pelo libertarianismo e ideais conservadores de livre mercado" para criar o MBL.

A AP ressalta ainda o quanto foi rápida a "ascensão" do adolescente brasileiro. "Dois anos atrás, quando os protestos contra a corrupção e baixa qualidade de serviços públicos apareceram pelo Brasil, Kataguiri era um estudante do ensino médio que evitava as manifestações. Hoje, ele é o rosto público do Movimento Brasil Livre".

O adolescente americano Krohn, que por alguns meses foi o jovem rosto do conservadorismo americano, hoje tem 20 anos e é um jornalista para a mídia "liberal" dos EUA. Liberal nesse caso é quase sinônimo de "esquerda", uma guinada ao lado completamente oposto ao que ele defendia em 2009. Pouco tempo depois de sua ascensão, ele rejeitou muito do que defendeu e escreveu quando mais novo, se colocando como uma pessoa "mais madura", mesmo que ainda muito novo. Resta ver como a juventude conservadora brasileira vai se comportar no futuro, e como a política brasileira vai agir para se demonstrar mais madura para o resto do mundo.

Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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