Política – Brasilianismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br Daniel Buarque é jornalista e escritor com mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute do King's College de Londres. Fri, 31 Jan 2020 12:20:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Conservadorismo de Bolsonaro dá força ao monarquismo, diz Financial Times http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/14/conservadorismo-de-bolsonaro-da-forca-ao-monarquismo-diz-financial-times/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/14/conservadorismo-de-bolsonaro-da-forca-ao-monarquismo-diz-financial-times/#respond Tue, 14 Jan 2020 18:02:48 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6239

A chegada de Jair Bolsonaro ao poder e ascensão do conservadorismo político no Brasil estão alimentando um movimento favorável à restauração da monarquia no Brasil, diz uma reportagem publicada pelo jornal de economia Financial Times.

Segundo a publicação, o monarquismo ganha força porque há pessoas que acham que a República e a política tradicional no Brasil são responsáveis pelos problemas do país, o que também está associado à eleição de Bolsonaro em 2018.

A reportagem cita Dom Bertrand, que se apresenta como “príncipe imperial do Brasil” e diz que a república brasileira é esquizofrênica. Segundo ele, os monarquistas apoiam a agenda do governo de Bolsonaro, especialmente em defesa da liberação de armas, a política contra o aborto, o ceticismo em relação ao aquecimento global e a abertura da economia.

O Financial Times indica que o apoio à monarquia ainda é baixo no Brasil (em torno de 10%), e questiona o argumento do grupo de que há um aumento de interesse em relação a ele. Ainda assim, a reportagem indica que há um fortalecimento desse grupo com o novo governo, e ele se sente mais próximo ao governo e com mais espaço para defender publicamente a volta da monarquia.

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No exterior, documentário foi chamado de ‘mergulho na política brasileira’ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/no-exterior-documentario-foi-chamado-de-mergulho-na-politica-brasileira/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/13/no-exterior-documentario-foi-chamado-de-mergulho-na-politica-brasileira/#respond Mon, 13 Jan 2020 15:30:19 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6234

Indicado ao Oscar, o documentário brasileiro “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, teve grande repercussão na imprensa internacional após ser lançado no exterior, em junho do ano passado.

O filme foi chamado de “mergulho na política brasileira” pelo jornal norte-americano Los Angeles Times. Segundo a publicação, o filme é fascinante e oferece uma visão dos “terremotos” que afetam o sistema político brasileiro nos últimos anos.

Leia também: ‘Democracia em Vertigem’ será referência sobre o Brasil para estrangeiros

Outras publicações importantes, como o New York Times –que indicou o filme como um dos melhores do ano–, o jornal britânico The Guardian e a revista Americas Quaterly publicaram textos avaliando o filme e o retrato que faz da situação do Brasil.

Segundo o NYT, o documentário se debruça sobre questões a respeito de o que levou a uma mudança radical na política brasileira, passando de governos com tendência de esquerda à chegada da extrema-direita ao poder. O jornal explica que o filme tem um olhar de esquerda, e que em alguns momentos parece descrever uma grande conspiração política contra esse grupo político. Ainda assim, vê méritos na obra.

“Os fatos e argumentos apresentados deveriam ser estudados por qualquer pessoa interessada no destino da democracia, no Brasil e em qualquer outro lugar”, diz.

O filme criou polêmica dentro do Brasil, e especialistas indicam que ele tem o potencial de se tornar “o principal ponto de referência para os não-especialistas na história recente do Brasil”.

A avaliação foi feita pela pesquisadora Stephanie Dennison, diretora de estudos brasileiros da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Em entrevista ao blog Brasilianismo, em julho de 2019, ela explicou que o fato de o filme ser um documentário faz com que carregue “um certo grau de autenticidade” à interpretação que faz da política brasileira.

Para Dennison, apesar de “Democracia em Vertigem” de fato fazer uma “leitura pessoal e ligeiramente ambígua da história brasileira”, muitas das críticas ao filme são infundadas. “Nem este nem um filme como ‘O Processo’ se propuseram a ser abrangentes em suas explicações da história recente do Brasil”, disse.

“Pessoalmente, não acho que tenha havido imprecisões no relato que Costa faz da situação instável da democracia brasileira nos últimos anos. Isso não significa dizer, claro, que não há muito mais na história do que o que é representado no filme. ‘Democracia em Vertigem’ será útil como uma contrapartida para algo como ‘O Mecanismo’, de José Padilha, também disponível na Netflix, que por sua vez é cheio de imprecisões”, avaliou.

Dennison é especialista em cinema e soft power brasileiro e é autora de livros como o recente “Paulo Emílio Salles Gomes: on Brazil and Global Cinema” (University of Wales Press) e “Remapping Brazilian Film Culture in the 21st Century”, que vai ser publicado pela editora Routledge.

Em linha com o que disse o NYT, ela alega que o filme brasileiro pode ajudar a entender a ascensão de políticos de tendência autoritária e de direita em vários países do mundo.

“Um filme como ‘Democracia em Vertigem’ pode ser lido como fornecendo algum tipo de chave universal para entender pelo menos parte da história dessa guinada para a direita. As manobras de bastidores por parte das elites (políticas e financeiras) e grupos religiosos conservadores para não perder uma oportunidade de se beneficiar de qualquer coisa que empurre o eleitorado a seu favor podem ser vistas em outros lugares. A política maquiavélica pode ser vista em jogo no atual parlamento britânico em relação ao Brexit, por exemplo.”

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Bolsonaro cita aumento da confiança no Brasil, mas mundo mostra ceticismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/10/bolsonaro-cita-aumento-da-confianca-no-brasil-mas-mundo-mostra-ceticismo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/10/bolsonaro-cita-aumento-da-confianca-no-brasil-mas-mundo-mostra-ceticismo/#respond Fri, 10 Jan 2020 16:48:02 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6231

O presidente Jair Bolsonaro declarou que seu discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, foi responsável por recuperar a “confiança do mundo no Brasil”. O otimismo do presidente pode ser considerado exagerado, entretanto, parte de uma retórica que não ajuda tanto assim a economia do país.

Por um lado, é evidente que analistas estrangeiros ainda são muito críticos à situação da política brasileira, e desconfiam da saúde da democracia do país —chegando a falar até mesmo em “guerra cultural”.

E mesmo na economia, com o risco país em baixa, falar em “confiança do mundo” soa forçado.

Ao contrário do que o presidente alega, analistas internacionais dizem que a economia brasileira está indo bem “apesar” da atuação dele. Segundo um balanço do primeiro ano de Bolsonaro no poder publicado pela revista The Economist, Bolsonaro só piorou a imagem do país. Para piorar, as declarações do presidente alimenta dúvidas no resto do mundo sobre a recuperação da economia brasileira.

A julgar pelo comportamento do mercado internacional, percebe-se que ainda há muita desconfiança dos investidores estrangeiros em relação a uma aguardada retomada da economia brasileira. Tanto que muitos deixaram de apostar no país no ano passado.

Por mais que exista um certo otimismo em relação ao futuro por conta das reformas econômicas, os investidores estrangeiros mantêm um pé atrás, como revelou em dezembro uma reportagem publicada pelo jornal de economia Financial Times.

“Enquanto os locais parecem manter a sua fé no programa econômico liberal do governo, estrangeiros estão mais céticos”, explicava o FT. A publicação dizia até mesmo que há uma frustração no resto do mundo por conta da redução do ritmo de reformas na economia que era esperado após a aprovação das mudanças na Previdência.

Segundo o jornal, os investidores aguardam sinais claros da economia brasileira que sejam mais do que a retórica do presidente. Bolsonaro pode até falar que o mundo está mais confiante, mas isso parece fazer parte dessa mesma retórica que o Financial Times diz não ser suficiente para atrair investidores.

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Censura a Porta dos Fundos expõe ao mundo a ‘guerra cultural’ no Brasil http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/09/censura-a-porta-dos-fundos-expoe-ao-mundo-a-guerra-cultural-no-brasil/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/09/censura-a-porta-dos-fundos-expoe-ao-mundo-a-guerra-cultural-no-brasil/#respond Thu, 09 Jan 2020 18:41:49 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6222

A censura imposta por um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ao especial de Natal do grupo Porta dos Fundos ganhou grande repercussão no resto do mundo. Internacionalmente, a visibilidade do caso expõe o Brasil como um país em que há crescente pressão política por censura a produções culturais. O caso vem sendo tratado como exemplo da “guerra cultural” vivida no Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência.

“Um juiz no Brasil decidiu nesta semana que a Netflix deve tirar do ar um curta-metragem que descreve Jesus como um homem gay, argumentando que isso pode causar ‘danos irreparáveis’ aos cristãos do país”, diz uma reportagem publicada pelo jornal americano The New York Times.

“A decisão do juiz colocou o filme no centro de um debate mais amplo sobre a censura no Brasil. É o mais recente ponto de inflamação nas guerras culturais do país, que se tornaram cada vez mais amargas desde a eleição do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro em 2018”, complementa o NYT.

A ideia de “guerra cultural” ganhou destaque no resto do mundo especialmente durante o carnaval de 2019, quando Bolsonaro atacou a festa popular após ser ridicularizado pelo país.

A revista de cultura e cinema Variety destacou que a decisão sobre o Porta dos Fundos indica que no Brasil a liberdade de expressão “não é absoluta”.

Segundo reportagem da agência Associated Press publicada por veículos como a revista Time, a decisão sobre o Porta dos Fundos “chega no momento em que alguns grupos civis dizem que o presidente brasileiro de extrema-direita, Jair Bolsonaro, está travando uma ‘guerra cultural’, cortando fundos para projetos de artes que desafiam os ‘valores cristãos’ e investindo contra celebrações extravagantes de carnaval”.

A polêmica em torno do especial de natal do Porta dos Fundos deu uma grande visibilidade internacional ao grupo brasileiro de humor. Desde que o quadro retratando Jesus como homossexual foi disponibilizado, dezenas de reportagens foram publicadas no exterior sobre a produção, sobre os protestos contra o grupo, sobre o ataque terrorista à sede da produtora e agora sobre a censura ao episódio.

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Imprensa internacional destaca inspiração chilena de protestos em São Paulo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/08/imprensa-internacional-destaca-inspiracao-chilena-de-protestos-em-sao-paulo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2020/01/08/imprensa-internacional-destaca-inspiracao-chilena-de-protestos-em-sao-paulo/#respond Wed, 08 Jan 2020 12:48:48 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6219

A onda de protestos realizados no Chile no fim do ano passado inspirou a manifestação contra o reajuste das tarifas de transporte público em São Paulo nesta semana, segundo reportagens publicadas por veículos de imprensa internacionais.

“Quase 600 pessoas marcharam nessa terça pelas ruas de São Paulo, a maior cidade do Brasil, contra o aumento do preço do transporte público, inspirador desta vez pelas manifestações do Chile que se tornaram um estouro social”, diz a agência de notícias EFE.

Segundo a rede alemã Deutsche Welle, a inspiração chilena era evidente em cartazes levados por manifestantes, e os protestos tratavam não apenas do preço do transporte, “mas também contra a política de corte liberal do governo de Jair Bolsonaro”.

Desde o início da onda de protestos no Chile e em outros países da América Latina, observadores internacionais se mostram atentos à possibilidade de manifestações voltarem a marcar a paisagem do Brasil. O governo brasileiros chegou a recuar de propostas de reformas econômicas por medo de mobilização nas ruas, o que gerou frustração no mercado internacional.

Segundo a revista The Economist, os protestos no fim do ano passado paralisaram governos da América Latina, e poderiam ser uma ameaça à estabilidade do governo brasileiro em meio a uma tentativa de recuperação econômica. Para o editor americano Brian Winter, entretanto, o Brasil não parecia, em novembro de 2019, ter clima suficiente para que protestos tão fortes tomassem as ruas do país.

Apesar de a manifestação de São Paulo ter inspiração no Chile, os protestos ainda não parecem ter atingido uma força proporcional ao que se viu em outros países.

Segundo a DW, “esta é a primeira concentração de 2020 contra o aumento das tarifas de metrô, ônibus e trem de São Paulo, um ato de reivindicação que vem se repetindo na capital paulista nos últimos anos e que vem perdendo força paulatinamente”.

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Após ‘humilhação’, PSDB tenta seduzir bolsonaristas moderados, diz Le Monde http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/apos-humilhacao-psdb-tenta-seduzir-bolsonaristas-moderados-diz-le-monde/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/26/apos-humilhacao-psdb-tenta-seduzir-bolsonaristas-moderados-diz-le-monde/#respond Thu, 26 Dec 2019 12:04:01 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6183

A eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência do Brasil em 2018 é tradicionalmente vista como uma derrota da esquerda brasileira, mas na verdade representou também “uma verdadeira humilhação” para o PSDB, diz uma reportagem publicada pelo jornal francês Le Monde nesta semana.

Segundo a publicação, um ano depois de receber menos de 5% dos votos, o partido que havia participado de todos os segundos turnos presidenciais por 25 anos agora tenta “seduzir” os bolsonaristas moderados.

O jornal francês trata o PSDB como um partido da direita na política brasileira, e diz que esse espectro cria situações complicadas na sua renovação mais conservadora. “A iniciativa causou surpresa porque, paradoxo dos paradoxos, a direita brasileira encontra suas raízes na esquerda”.

Essa “reconstrução incerta” do “novo PSDB”, diz o Monde, passa pela figura “controversa” do governador de São Paulo, João Doria. O plano do partido seria se colocar como uma alternativa intermediária na polarização entre a esquerda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a extrema direita de Bolsonaro.

Segundo o Monde, 2020 verá o primeiro grande teste dessa nova versão do PSDB, com as eleições municipais no país.

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Com Bolsonaro, Brasil troca liderança por protagonismo negativo no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/com-bolsonaro-brasil-troca-lideranca-por-protagonismo-negativo-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/com-bolsonaro-brasil-troca-lideranca-por-protagonismo-negativo-no-mundo/#respond Mon, 16 Dec 2019 09:40:08 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6167

A avaliação crítica dominou os comentários de analistas estrangeiros sobre a participação do Brasil na Cúpula do Clima, a COP-25. A conferência em Madri terminou sendo vista como um fracasso, e o Brasil, que um dia liderou este tipo de fórum internacional, assumiu um protagonismo negativo. De líder na ação contra o aquecimento global, o país virou uma obstrução.

O colunista da Folha Nelson de Sá reuniu os principais comentários da imprensa internacional sobre o Brasil na COP-25. Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung , o Brasil “bloqueou acordo na conferência do clima”, e foi “o maior obstáculo” no encontro na Espanha. A própria Folha publicou reportagem comentando como o Brasil obstruiu as negociações e impediu a tomada de decisões.

A COP-25 se consolidou, assim, como um símbolo completo da guinada ideológica do Itamaraty sob Bolsonaro. Evidente em áreas como defesa da democracia, direitos humanos, comércio, relação com os EUA, relação com Cuba, Mercosul e vários outros assuntos de política internacional, a transformação do perfil internacional do Brasil é exemplificada de forma perfeita pela questão do clima.

A mudança de postura da política externa brasileira havia sido anunciada um ano antes, logo depois da eleição, e revela uma inversão de prioridades do país que pode afetar o soft power e a busca por mais prestígio internacional. Ao abandonar o que alguns no governo veem como “globalismo”, o país perde cartas importantes para seu perfil internacional até mesmo em negociações bilaterais.

Evidente ao longo de todo o ano, a guinada do Brasil abandona um forte capital simbólico que vinha sendo acumulado pelo país desde os anos 1990, com a Rio-92, e que tinha se tornado ainda mais importante na Rio+20.

O Brasil era, até 2018, visto no resto do mundo como um dos países mais importantes na luta contra o aquecimento global, e um dos melhores articuladores internacionais em encontros multilaterais reunindo mais de uma centena de países em busca de soluções conjuntas para problemas globais.

Tudo isso mudou desde a eleição de Bolsonaro. O país foi tratado como um problema para o ambiente global ao longo de 2019, com as queimadas na Amazônia e no Pantanal. E Bolsonaro passou a ser visto como o “vilão ideal” da luta contra as mudanças climáticas –o que afeta a posição do Brasil no cenário internacional.

Mais do que isso, essa imagem de país que luta contra o aquecimento global e suas políticas ambientais eram apontadas por muitos observadores externos como o caminho mais seguro para a construção de um papel relevante para o Brasil em política global.

Sem um arsenal militar forte que garantisse protagonismo pelo chamado “hard power” e impusesse a presença do Brasil nas principais mesas de negociação global, o Brasil sempre precisou buscar caminhos alternativos para alcançar relevância. O desenvolvimento econômico, que também é fonte de poder internacional (como no caso da Alemanha atualmente) também não foi sustentado o suficiente para garantir relevância ao país no longo prazo. Por anos o país construiu sua ambição de ter prestígio internacional através do soft power, mas o “poder suave” é um conceito muito questionado, e que não criou nenhuma potência internacional por si só (funcionando mais como um complemento ao poder militar de países como os EUA). A questão ambiental, por outro lado, é um tema que vem ganhando força nos debates globais, que é importante para as novas gerações, e uma área em que o Brasil conseguiria consolidar o status que já tinha de líder internacional.

Durante conversas com a comunidade de política externa de países que fazem parte do Conselho de Segurança na ONU (parte da minha pesquisa de doutorado), não foram raras as vezes em que a atuação em torno de questões ambientais e climáticas foram citadas como o melhor caminho para o Brasil construir sua liderança no mundo. Havia um vácuo global nessa área, diziam os analistas estrangeiros, sem que nenhum país conseguisse representar os interesses crescentes em todo o mundo (especialmente entre novas gerações) em proteger o ambiente. O Brasil teria toda condição de assumir definitivamente este papel, segundo a percepção de comentaristas nas maiores potências do mundo.

Em vez de continuar nesse caminho já muito bem desenhado, entretanto, o novo governo resolveu abandonar essa liderança e assumir um protagonismo negativo, bloquear negociações, atacar o tal do “globalismo” e zombar do fracasso da conferência.

Do ponto de vista da construção de prestígio internacional para o país, é difícil entender a lógica por trás dessa decisão. E mais difícil ainda de prever como isso pode beneficiar o país nas relações globais ou mesmo bilaterais. Sem um papel importante nas discussões sobre o ambiente global, sem poder militar e com cada vez menos soft power, parecem não sobrar opções para que o Brasil consolide algum respeito internacional e seja visto como um ator importante no mundo. As reformas econômicas até poderiam dar algum apoio ao país entre investidores, mas pode não ser suficiente para garantir relevância internacional para o Brasil. O governo decidiu mudar a postura do Brasil, que passa a ser visto mais como um problema do que como uma solução.

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Morte de indígenas projeta imagem de tensão em desenvolvimento na Amazônia http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/10/morte-de-indigenas-projeta-imagem-de-tensao-em-desenvolvimento-na-amazonia/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/10/morte-de-indigenas-projeta-imagem-de-tensao-em-desenvolvimento-na-amazonia/#respond Tue, 10 Dec 2019 09:49:29 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6156

Após meses de uma cobertura internacional crítica em relação ao aumento do desmatamento da Amazônia, as tensões ligadas à floresta ganharam mais atenção estrangeira e ampliaram uma imagem negativa do país no mundo. Mesmo quem defendia o governo em meio ao aumento do desmatamento passou a apontar problemas na forma como a violência está crescendo na região.

O assassinato de dois indígenas da etnia guajajara em um ataque em de Jenipapo dos Vieiras (Maranhão) ganhou ampla repercussão internacional e tornou ainda mais evidentes as preocupações ligadas ao que está acontecendo na região da floresta.

Até mesmo o Wall Street Journal, publicação estrangeira que vem oferecendo uma cobertura mais positiva sobre o Brasil desde a posse de Jair Bolsonaro, abordou o caso com olhar crítico.

“Assassinatos no Brasil geram preocupação sobre tensões no desenvolvimento na Amazônia”, diz o WSJ. Segundo o Journal, a pressão do governo para desenvolver a região da floresta está incentivando a violência crescente.

O tom impressiona porque o jornal de economia destoou de toda a cobertura da imprensa internacional sobre a Amazônia. Enquanto a mídia do resto do mundo fez uma ampla cobertura do aumento do desmatamento na Amazônia e responsabilizou Bolsonaro pela destruição da floresta, o WSJ chegou a publicar um artigo defendendo o presidente brasileiro.

Em agosto, pior momento da imagem do Brasil na imprensa estrangeira por conta das queimadas, a colunista Mary Anastasia O’Grady argumentava que os incêndios na Amazônia eram causados especialmente por secas, e que a política de Bolsonaro para o desenvolvimento econômico tinha o potencial de ajudar a floresta.

Agora, com os assassinatos dos guajajara, o WSJ vê uma conexão entre a pressão de Bolsonaro para desenvolver a Amazônia e o aumento da violência.

“Desde que assumiu o cargo em janeiro, Bolsonaro falou repetidamente sobre a necessidade de explorar a riqueza da floresta amazônica e trabalhou para facilitar o caminho para mais desenvolvimento na região. Ele disse em agosto que seu governo não reservará mais terras como reservas para grupos indígenas porque ‘há muita terra para poucos índios'”, relata o jornal de economia.

A publicação explica que com essa postura do governo, o desmatamento na Amazônia acelerou, e que críticos “afirmam que os esforços do governo para promover o desenvolvimento na Amazônia estão incentivando o aumento da atividade ilegal de mineração e extração de madeira, juntamente com a violência contra grupos indígenas”.

O olhar crítico chama a atenção também por ganhar as páginas do jornal de economia poucos dias depois de o próprio Journal publicar uma reportagem admitindo que o otimismo com a recuperação econômica do Brasil levava mercados (e suas publicações) a ignorar polêmicas e problemas ligados ao governo. Com raras exceções, a publicação vinha ignorando a relevância de muitas das críticas à postura de Bolsonaro e focava apenas no que via como efeitos positivos para o mercado em suas proposta econômicas.

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Mercado ignora polêmicas em torno de Bolsonaro e abraça agenda econômica http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/mercado-ignora-polemicas-em-torno-de-bolsonaro-e-abraca-agenda-economica/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/03/mercado-ignora-polemicas-em-torno-de-bolsonaro-e-abraca-agenda-economica/#respond Tue, 03 Dec 2019 14:47:54 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6149

Acusado por críticos em várias partes do mundo de destruir o meio ambiente, pôr em risco os direitos humanos e ofender mulheres e gays, o presidente Jair Bolsonaro ainda é visto pelo mercado internacional como uma pessoa capaz de gerar negócios e atrair investimentos.

A avaliação foi feita por uma reportagem publicada pelo jornal de economia Wall Street Journal. Segundo a publicação, os investidores internacionais ignoram as polêmicas e controvérsias em torno do atual governo e abraçam a agenda econômica apostando numa retomada.

De acordo com o WSJ, o otimismo do mercado é tão grande que nem mesmo a ameaça de Trump de retomar tarifas ao aço e alumínio brasileiros afetou o ânimo dos investidores.

“O mercado de capitais do Brasil tem acelerado após pouca atividade no ano passado”, diz o Journal. “A retomada da atividade está sendo impulsionada em parte pela batalha de Bolsonaro para remodelar a maior economia da América Latina e atrair investidores de volta”, complementa.

“Os mercados adoram as mudanças que ele está tentando fazer”, diz uma fonte citada pelo Journal

A reportagem cita a aprovação da Reforma da Previdência, medidas para diminuir a burocracia e privatizações como partes da agenda que atrai o interesse do mercado. O foco é o encolhimento do Estado, explica.

O Journal avalia que Bolsonaro cria problemas políticos que podem afetar a percepção internacional do país, entretanto. “Seu estilo impetuoso também pode estar diminuindo os esforços para otimizar o governo e simplificar o complexo e caro sistema tributário antes das eleições municipais em outubro do próximo ano”, diz.

Ainda assim, segundo o jornal, executivos brasileiros estão arrecadando dinheiro para se preparar para o crescimento que esperam vir no próximo ano

“Os executivos são otimistas sobre a economia, que deve crescer mais de 2% em 2020”, diz. “Embora o crescimento esperado para 2020 ainda seja lento em comparação com outras grandes economias emergentes, como China e Índia, seria a expansão mais rápida do Brasil desde 2013.”

A reportagem confirma o que já era possível perceber na cobertura que o Wall Street Journal faz sobre o Brasil desde a eleição do ano passado. O WSJ destoa do tom de quase toda a imprensa internacional em relação a Bolsonaro desde antes da sua eleição, apostando em uma “revolução do mercado”.

Uma explicação para isso pode ser encontrada em um artigo publicado recentemente pelo New York Times. O centro financeiro dos Estados Unidos, em Wall Street, não se preocupa com a democracia e simpatiza com líderes autoritários sempre que eles defendem posturas de mercado que interessa aos investidores, diz. “Os mercados são amorais e não se queixam de comportamento autocrático se produzir crescimento econômico”, explica.

A avaliação se encaixa no que se lê sobre o Brasil no Wall Street Journal. A publicação ignora a relevância de muitas das críticas à postura de Bolsonaro e foca apenas no que vê como efeitos positivos para o mercado em suas proposta econômicas.

Enquanto quase todos os jornais, site e TVs dão espaço a críticas contra a postura do presidente e falam em ameaças à democracia brasileira, o WSJ foca apenas nas propostas para abrir a economia brasileira, então vê o governo como positivo.

Essa postura é diferente até mesmo de outras grandes publicações voltadas à economia como o Financial Times e revista The Economist –veículos ligados a um projeto de democracia liberal que defendem o mercado, mas que também demonstram interesse por instituições políticas democráticas.

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Mortes em Paraisópolis confirmam imagem internacional de violência policial http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/02/mortes-em-paraisopolis-confirmam-imagem-internacional-de-violencia-policial/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/02/mortes-em-paraisopolis-confirmam-imagem-internacional-de-violencia-policial/#respond Mon, 02 Dec 2019 12:42:33 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6143

“Violência policial é uma das mais fortes imagens do Brasil no exterior”

A frase era o título de um post deste blog Brasilianismo exatamente quatro anos atrás, em 2 de dezembro de 2015. Ela volta a ganhar força em 2019, se mantendo como um dos mais marcantes estereótipos do país no resto do mundo.

O texto original falava sobre a repercussão internacional do caso de cinco jovens que haviam sido fuzilados com mais de cem tiros em Costa Barros, no Rio.

Depois de quatro ano, de mudanças radicais na política nacional, e de novos recordes de assassinatos por parte da polícia (especialmente no Rio de Janeiro), o estereótipo de polícia violenta volta a se mostrar consolidado na imagem internacional do Brasil.

Prova disso é a repercussão internacional da morte de nove pisoteadas após ação policial em festa na favela de Paraisópolis. Relatos sobre o caso ganharam destaque quase de imediato em jornais internacionais, com muitas imagens compartilhadas pelos próprios jovens, com alertas para “fotos e vídeos impactantes”, conforme relata o colunista da Folha Nelson de Sá.

Isso confirma o que já vem aparecendo regularmente na mídia global, em relatos de aumento no registro de mortes por parte da polícia e casos chocantes em que crianças são vítimas. Tudo isso chega até mesmo a ser chamado de “genocídio”, como fez o jornal Le Monde em relação ao que acontece no Rio.

Em 2015, o Brasilianismo já dizia que quase todas as semanas era possível ler relatos na imprensa internacional a respeito das violações aos direitos humanos e a brutalidade dos agentes de segurança, que em contrapartida são vistos como incapazes de diminuir a enorme onda de violência que assusta a sociedade. Isso continua sendo verdade na repercussão de notícias internacionais sobre o Brasil.

Se agora há quem fale em “genocídio”, quatro anos atrás a mídia internacional tratava a violência policial como “epidemia”,como fez a revista Foreign Policy. Os policiais já eram associados a “assassinatos em série” pela revista The Economist. Já foi dito que é uma força policial “rápida no gatilho”. Já se comparou a ações de terror, e não são raras as definições como “fora de controle” para a violência policial.

Ainda em 2015, um relatório da ONG Anistia Internacional indicava que a polícia brasileira e autoridades ligadas ao governo usavam a ideia de legítima defesa como “cortina de fumaça” para encobrir execuções extrajudiciais praticadas por agentes de segurança pública.

Essa percepção ganhou mais relevância com o governo de Jair Bolsonaro, que recentemente foi criticado no exterior por defender uma lei para proteger policiais e soldados que matam.

A má fama da polícia brasileira é muito detalhada no livro “Culture Shock! A Survival Guide to Customs and Etiquette: Brazil” (Choque cultural! Um guia de sobrevivência sobre costumes e etiqueta: Brasil), escrito pelo austríaco Volker Poelz e publicado em 2009.

“A polícia brasileira tem uma má reputação, o que infelizmente não é desmerecido. Apesar de haver muitos policiais honestos que trabalham duro, policiais brasileiros estiveram envolvidos com o crime organizado, venda de drogas, lavagem de dinheiro e venda de armas e muitos outros crimes violentos. Como os policiais são praticamente imunes, é quase impossível processar os suspeitos”, diz.

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