Relações Intenacionais – Brasilianismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br Daniel Buarque é jornalista e escritor com mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute do King's College de Londres. Fri, 31 Jan 2020 12:20:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com Bolsonaro, Brasil troca liderança por protagonismo negativo no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/com-bolsonaro-brasil-troca-lideranca-por-protagonismo-negativo-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/12/16/com-bolsonaro-brasil-troca-lideranca-por-protagonismo-negativo-no-mundo/#respond Mon, 16 Dec 2019 09:40:08 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6167

A avaliação crítica dominou os comentários de analistas estrangeiros sobre a participação do Brasil na Cúpula do Clima, a COP-25. A conferência em Madri terminou sendo vista como um fracasso, e o Brasil, que um dia liderou este tipo de fórum internacional, assumiu um protagonismo negativo. De líder na ação contra o aquecimento global, o país virou uma obstrução.

O colunista da Folha Nelson de Sá reuniu os principais comentários da imprensa internacional sobre o Brasil na COP-25. Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung , o Brasil “bloqueou acordo na conferência do clima”, e foi “o maior obstáculo” no encontro na Espanha. A própria Folha publicou reportagem comentando como o Brasil obstruiu as negociações e impediu a tomada de decisões.

A COP-25 se consolidou, assim, como um símbolo completo da guinada ideológica do Itamaraty sob Bolsonaro. Evidente em áreas como defesa da democracia, direitos humanos, comércio, relação com os EUA, relação com Cuba, Mercosul e vários outros assuntos de política internacional, a transformação do perfil internacional do Brasil é exemplificada de forma perfeita pela questão do clima.

A mudança de postura da política externa brasileira havia sido anunciada um ano antes, logo depois da eleição, e revela uma inversão de prioridades do país que pode afetar o soft power e a busca por mais prestígio internacional. Ao abandonar o que alguns no governo veem como “globalismo”, o país perde cartas importantes para seu perfil internacional até mesmo em negociações bilaterais.

Evidente ao longo de todo o ano, a guinada do Brasil abandona um forte capital simbólico que vinha sendo acumulado pelo país desde os anos 1990, com a Rio-92, e que tinha se tornado ainda mais importante na Rio+20.

O Brasil era, até 2018, visto no resto do mundo como um dos países mais importantes na luta contra o aquecimento global, e um dos melhores articuladores internacionais em encontros multilaterais reunindo mais de uma centena de países em busca de soluções conjuntas para problemas globais.

Tudo isso mudou desde a eleição de Bolsonaro. O país foi tratado como um problema para o ambiente global ao longo de 2019, com as queimadas na Amazônia e no Pantanal. E Bolsonaro passou a ser visto como o “vilão ideal” da luta contra as mudanças climáticas –o que afeta a posição do Brasil no cenário internacional.

Mais do que isso, essa imagem de país que luta contra o aquecimento global e suas políticas ambientais eram apontadas por muitos observadores externos como o caminho mais seguro para a construção de um papel relevante para o Brasil em política global.

Sem um arsenal militar forte que garantisse protagonismo pelo chamado “hard power” e impusesse a presença do Brasil nas principais mesas de negociação global, o Brasil sempre precisou buscar caminhos alternativos para alcançar relevância. O desenvolvimento econômico, que também é fonte de poder internacional (como no caso da Alemanha atualmente) também não foi sustentado o suficiente para garantir relevância ao país no longo prazo. Por anos o país construiu sua ambição de ter prestígio internacional através do soft power, mas o “poder suave” é um conceito muito questionado, e que não criou nenhuma potência internacional por si só (funcionando mais como um complemento ao poder militar de países como os EUA). A questão ambiental, por outro lado, é um tema que vem ganhando força nos debates globais, que é importante para as novas gerações, e uma área em que o Brasil conseguiria consolidar o status que já tinha de líder internacional.

Durante conversas com a comunidade de política externa de países que fazem parte do Conselho de Segurança na ONU (parte da minha pesquisa de doutorado), não foram raras as vezes em que a atuação em torno de questões ambientais e climáticas foram citadas como o melhor caminho para o Brasil construir sua liderança no mundo. Havia um vácuo global nessa área, diziam os analistas estrangeiros, sem que nenhum país conseguisse representar os interesses crescentes em todo o mundo (especialmente entre novas gerações) em proteger o ambiente. O Brasil teria toda condição de assumir definitivamente este papel, segundo a percepção de comentaristas nas maiores potências do mundo.

Em vez de continuar nesse caminho já muito bem desenhado, entretanto, o novo governo resolveu abandonar essa liderança e assumir um protagonismo negativo, bloquear negociações, atacar o tal do “globalismo” e zombar do fracasso da conferência.

Do ponto de vista da construção de prestígio internacional para o país, é difícil entender a lógica por trás dessa decisão. E mais difícil ainda de prever como isso pode beneficiar o país nas relações globais ou mesmo bilaterais. Sem um papel importante nas discussões sobre o ambiente global, sem poder militar e com cada vez menos soft power, parecem não sobrar opções para que o Brasil consolide algum respeito internacional e seja visto como um ator importante no mundo. As reformas econômicas até poderiam dar algum apoio ao país entre investidores, mas pode não ser suficiente para garantir relevância internacional para o Brasil. O governo decidiu mudar a postura do Brasil, que passa a ser visto mais como um problema do que como uma solução.

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Bolívia vira vitrine para a falta de liderança do Brasil na América Latina http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/11/12/bolivia-vira-vitrine-para-a-falta-de-lideranca-do-brasil-na-america-latina/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/11/12/bolivia-vira-vitrine-para-a-falta-de-lideranca-do-brasil-na-america-latina/#respond Tue, 12 Nov 2019 04:52:08 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=6075

A crise política na Bolívia, com a renúncia do presidente Evo Morales sob pressão das Forças Armadas do país, pode se consolidar como a mais nova evidência da ausência de protagonismo do Brasil na América Latina.

A falta de ação do Brasil como um líder regional era sempre mencionada por especialistas em política externa quando se falava sobre a crise venezuelana e a falta de articulação do Brasil com os vizinhos. Com a ampliação da crise em vários países da região, e especialmente os problemas enfrentados pela Bolívia, o Brasil se destaca pelo papel que não está desempenhando.

Para diplomatas e acadêmicos, o Brasil tem uma relação historicamente complicada com a América Latina. O historiador britânico Leslie Bethell é famoso em círculos acadêmicos por seu questionamento a respeito de o Brasil ser realmente uma parte da região, de tão marginal que é seu papel na área.

Mesmo assim, observadores externos tradicionalmente esperavam que um papel forte dentro da região, ou até mesmo uma ação hegemônica, poderia ser interpretada como um degrau importante na consolidação do projeto brasileiro de se projetar mais fortemente no mundo. Considerando a ambição brasileira de ser uma grande potência, há uma forte defesa de que a América Latina deveria ser o ambiente para desenvolver um papel mais relevante para o país.

Leia também: Vontade de ser potência marca história das relações do Brasil com o mundo

É verdade que a avaliação não é unânime, e há acadêmicos que não veem a região como um passo necessário no caminho da construção de um papel global para o Brasil, e apontam estratégias alternativas para isso. O pesquisador Andrés Malamud, por exemplo, diz que mesmo quando o país conseguia se projetar, o Brasil seria “um líder sem seguidores” na região, dado o fato de que não havia um reconhecimento regional dessa hegemonia brasileira. Mas é muito frequente ver a América Latina como sendo vista da perspectiva de países mais poderosos fora da região como uma área de atuação natural do Brasil.

Em entrevistas com a comunidade de relações internacionais dos cinco países que são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), era frequente ouvir que a inação do Brasil na instabilidade venezuelana era inexplicável. Para esses países, caberia ao Brasil, como maior e mais forte país da região, atuar para amenizar a crise –o que não aconteceu nem sob governos do PT, nem com Jair Bolsonaro no poder.

Um cenário muito semelhante parece se construir agora com a Bolívia. O Brasil praticamente não é mencionado nas análises internacionais que são feitas sobre a crise aberta desde a reeleição de Evo Morales.Pelo contrário, o Brasil parece ter sido alvo de um posicionamento da Rússia, que reconheceu a situação boliviana como golpe de Estado.

Se a situação da Bolívia evoluir para um confronto mais violento –como se percebeu possível na ação de manifestantes que chegaram a falar em “guerra civil”— seria importante o Brasil assumir uma postura de mediador para tentar resolver a situação. Para isso, entretanto, seria preciso ter uma política externa de negociação, e não de confronto com movimentos de esquerda, como tem feito o governo.

Sem um protagonismo regional, pode ser mais difícil o Brasil convencer o mundo de que está pronto para ter um papel importante na política global.

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Em visita de Bolsonaro, China mira recursos naturais e multilateralismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/10/25/em-visita-de-bolsonaro-china-mira-recursos-naturais-e-multilateralismo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/10/25/em-visita-de-bolsonaro-china-mira-recursos-naturais-e-multilateralismo/#respond Fri, 25 Oct 2019 07:44:52 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5987

A imprensa da China tem acompanhado a viagem do presidente Jair Bolsonaro ao país. Os sites da mídia chinesa em inglês publicaram nos últimos dias reportagens e análises sobre a visita oficial e reforçaram a importância do estreitamento de relações entre os dois países.

Em um artigo de opinião publicado pelo site China.org fica evidente que os interesses centrais do governo chinês nessa relação são os recursos naturais do Brasil e a busca pelo fortalecimento de relações exteriores baseadas no multilateralismo –objetivos não exatamente alinhados com o que o presidente tem defendido para a política externa do país.

“É importante ressaltar que o desenvolvimento das relações econômicas e comerciais China-Brasil deve continuar a se basear em suas próprias vantagens comparativas. No caso da China, é mão de obra abundante, forte capacidade industrial e grande potencial de mercado, enquanto o Brasil é rico em recursos naturais”, diz o texto assinado pelo colunista Jiang Shixue.

“Essas vantagens comparativas constituem complementaridade distinta. Na era da globalização, essa complementaridade fortalece as bases das relações econômicas e comerciais bilaterais”, complementa.

O China.org é um portal ligado ao Departamento de informações do governo chinês, e publica textos sobre a posição oficial do partido que governa o país.

O artigo argumenta que este é um de três pontos fundamentais das relações entre os dois países. Além da oferta de recursos naturais, o texto diz que o Brasil e a China precisam se juntar contra o unilateralismo –uma referência indireta aos Estados Unidos.

A posição vai contra a guinada promovida pelo Itamaraty desde o início do governo de Bolsonaro visando um maior alinhamento do Brasil aos EUA e que chegou a dizer que a China queria comprar o Brasil. Ela também apoia um maior multilateralismo, que é diferente do que a política externa brasileira de Bolsonaro tem defendido.

“China e Brasil precisam dar as mãos para resistir ao hegemonismo, ao bullying, ao unilateralismo e ao protecionismo. Tudo isso causou grandes danos às leis e regras internacionais, ao sistema internacional e à ordem internacional, atrapalharam o ritmo da globalização e prejudicaram as relações Norte-Sul e as relações Sul-Sul. Tanto a China quanto o Brasil são vítimas. Portanto, eles precisam falar a uma só voz em várias ocasiões multilaterais para promover o multilateralismo e o livre comércio”, defende.

Por último, diz que é necessário promover o entendimento mútuo entre os dois países por meio de turismo, incentivo ao ensino de idiomas e trocas culturais.

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Como o mundo viu o discurso de Bolsonaro na ONU: ‘Uma experiência surreal’ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/25/como-o-mundo-viu-o-discurso-de-bolsonaro-na-onu-uma-experiencia-surreal/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/25/como-o-mundo-viu-o-discurso-de-bolsonaro-na-onu-uma-experiencia-surreal/#respond Wed, 25 Sep 2019 08:47:11 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5905

O presidente Jair Bolsonaro usou o seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para rejeitar críticas ao seu governo. As declarações do governante brasileiro ao mundo ganharam destaque na mídia estrangeira –um dos alvos dos seus ataques– em avaliações sobre o que foi descrito como uma “defesa surreal da sua política para a Amazônia”.

“Bolsonaro diz que a Amazônia não está sendo destruída pelo fogo”, diz o título de um relato sobre o discurso. “Bolsonaro diz que a mídia mente”, diz outra das chamadas estrangeiras. “Bolsonaro diz que a Amazônia pertence ao Brasil”, destacou uma terceira.

Contra relatos detalhados e cheios de dados, evidências, análises e estatísticas publicados em todo o mundo ao longo dos últimos meses, o presidente disse simplesmente: “Não”.

“Para não-brasileiros, ouvir Bolsonaro falar sobre o assunto deve ter sido uma experiência surreal”, avalia o jornalista americano Jon Lee Anderson em texto publicado pela revista The New Yorker.

O artigo relata a polêmica em torno da destruição da Amazônia e diz que ela ocorreu com consentimento do presidente brasileiro. Em vez de mostrar compromisso com a floresta, diz, “Bolsonaro fez uma defesa previsivelmente desafiadora das políticas de seu país em relação ao meio ambiente”.

Bolsonaro na ONU: Veja a íntegra do polêmico discurso

Além de Anderson, outros veículos internacionais também apontaram problemas no discurso de Bolsonaro.

O jornal francês Le Monde disse que o presidente usou “inverdades” em uma fala confusa e cheia de digressões.

O jornal inglês The Guardian chamou o discurso de “uma defesa irritada e conspiratória de seu histórico ambiental” e avaliou que Bolsonaro “negou –ao contrário da evidência– que a maior floresta tropical do mundo” está sendo destruída.

Um dia depois do discurso do presidente, o noticiário internacional dá indicações dessa falta de conexão do Brasil com a realidade –e do erro nas prioridades do governo na relação com o mundo.

Enquanto Bolsonaro usou o palanque para simplesmente rejeitar as críticas ao seu governo (sem dar nenhuma evidência para isso), a imprensa estrangeira usa fatos para mostrar outros problemas.

No resto do mundo, têm destaque nesta quarta-feira, além da repercussão sobre o discurso, a notícia de que criadores de salmão da Noruega suspenderam importação de soja brasileira por conta da destruição da floresta. A agência Associated Press relata que o número de invasões de terras indígenas cresceu sob Bolsonaro, e a Reuters noticia que agência de avaliação Moody’s diz que o Brasil precisa mesmo é de crescimento econômico para melhorar sua nota de crédito. Notícias negativas que afetam a percepção sobre o país no mundo ainda mais.

A evidência é de que o discurso do presidente não deve ajudar muito a aliviar a desconfiança internacional sobre o seu governo. Para mudar a imagem negativa do país construída ao longo dos últimos meses é preciso mais do que simples negativas. O governo precisa ir além de declarações combativas e começar a mostrar com medidas e evidências que realmente aceita a responsabilidade que vem junto com a soberania do país e que está interessado em de fato desenvolver o Brasil. Dizer “não”, chamar de mentira e apontar outros culpados não vai melhorar a reputação do Brasil.

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Bolsonaro tenta validar o ódio como prática legítima, diz editorial chileno http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/09/bolsonaro-tenta-validar-o-odio-como-pratica-legitima-diz-editorial-chileno/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/09/bolsonaro-tenta-validar-o-odio-como-pratica-legitima-diz-editorial-chileno/#respond Mon, 09 Sep 2019 07:00:40 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5874

As agressões do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, à ex-presidente do Chile Michelle Bachelet são uma demonstração de uma tentativa de legitimar o uso do ódio na política, diz um editorial publicado pelo jornal chileno La Tercera após a polêmica da semana passada.

Segundo a publicação, Bolsonaro usou ataques pessoais contra a alta comissária da ONU para direitos humanos, o que gerou repúdio generalizado no Chile.

Os ataques, continua o jornal, procuram “validar o ódio como uma prática legítima, o que obviamente constitui um precedente muito negativo”.

“O governo brasileiro tem todo o direito de discordar –mesmo vigorosamente– em relação às conclusões de um relatório da ONU, mas para isso deve usar os canais institucionais e diplomáticos do caso, que é a maneira pela qual se espera que atuem as autoridades, evitando desqualificações dessa natureza”, diz o editorial.

O La Tercera explica ainda que as declarações do presidente brasileiro geraram repercussões políticas no Chile, com uma reação do presidente do país e de vários políticos do governo e da oposição.

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Senadores dos EUA defendem tratar fogo na Amazônia como crise de segurança http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/05/senadores-dos-eua-defendem-tratar-fogo-na-amazonia-como-crise-de-seguranca/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/05/senadores-dos-eua-defendem-tratar-fogo-na-amazonia-como-crise-de-seguranca/#respond Thu, 05 Sep 2019 12:25:02 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5856

Um artigo escrito por dois senadores dos Estados Unidos e publicado no site de opinião da rede NBC defende que o Congresso norte-americano tome atitudes para combater a destruição da Floresta Amazônica.

De acordo com Brian Schatz (senador pelo Havaí) e Chris Murphy (senador por Connecticut), o presidente Donald Trump preferiu manter sua amizade com Jair Bolsonaro a lutar contra os incêndios, e é preciso agir para evitar uma “catástrofe climática”. Se o presidente não quiser tomar uma atitude, dizem, o Senado o fará.

Entre as ações propostas, os senadores incluem a ideia de considerar a destruição da floresta como uma questão de segurança para os EUA.

“Primeiro, devemos deixar claro que os incêndios no Brasil são uma crise de segurança nacional e que estamos dispostos a pausar aspectos de nosso relacionamento bilateral com o Brasil até que o governo deles tome medidas para controlá-los, juntamente com os fazendeiros e madeireiros que supostamente estão começando os incêndios. Nada sobre o nosso relacionamento com o Brasil deve ser tratado com normalidade até Bolsonaro tomar medidas significativas para acabar com os incêndios e proteger a Amazônia”, defendem os senadores.

A sugestão segue a linha já defendida por alguns analistas americanos que indicam que a ameaça climática pode ser vista como um risco ao país. A percepção de que a relação entre os incêndios na Amazônia e o aquecimento global permitem ver o fogo na floresta brasileira como uma ameaça à segurança dos Estados Unidos tem ganhado força nos debates públicos, o que abre uma situação pouco confortável para o Brasil.

Desde início da crise das queimadas na floresta, também vem ganhando força o discurso que abre questionamentos sobre a soberania brasileira da floresta e discutem formas de pressionar o Brasil a assumir uma postura mais séria para proteger o ambiente.

“A soberania do Brasil sobre a floresta tropical é única entre as nações, e não se deve esperar que ele assuma a responsabilidade de preservar esse ecossistema crucial por conta própria. No futuro, se o governo de Bolsonaro se comprometer a levar a sério a conservação, devemos estar prontos para ajudar o Brasil a desenvolver sua economia e oferecer oportunidades aos brasileiros comuns que não dependem da destruição da Amazônia”, argumentam os senadores no artigo.

Schatz e Murphy falam ainda sobre interromper discussões a respeito de acordo comercial entre EUA e Brasil e sobre possíveis sanções contra produtos de áreas desmatadas.

“Essa é uma crise existencial e precisamos começar a tratá-la como tal”, defendem.

Antes do artigo dos senadores, a ideia de relacionar o fogo na floresta com a segurança americana já vinha ganhando espaço na imprensa dos EUA.

O primeiro texto assim ganhou destaque em julho na revista The New Republic. O analista Tyler Bellstrom dizia que os EUA deveriam passar a ver o Brasil como uma ameaça existencial maior do que o Irã e a China, tradicionalmente vistos como maior risco da atualidade pelos EUA, por conta do desmatamento crescente.

Um mês depois, um artigo publicado pela revista The Atlantic escalou o tom. O jornalista e escritor Franklin Foer alegava que o incêndio da floresta deve ser tratado pelo resto do mundo como uma ameaça maior do que as armas de destruição de massa.

Em seguida, o almirante aposentado da Marinha dos EUA James Stavridis, colunista da agência de economia Bloomberg, argumentou que o aquecimento global torna o clima menos previsível e gera tempestades destruidoras. Além disso, completa, a elevação do nível do mar é uma ameaça à Marinha americana.

“Os americanos precisam entender como essas crescentes nuvens de fumaça sobre a Amazônia são uma ameaça direta à nossa segurança nacional”, escreveu.

Estes textos se juntam a uma série de análises internacionais que se alinham à postura do presidente francês Emmanuel Macron e abrem espaço para questionamentos sobre a soberania brasileira da Amazônia. O tema vem ganhando força na mídia estrangeira enquanto são debatidas formas de pressionar o governo brasileiro a assumir responsabilidade pela proteção da floresta.

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Ataque de Bolsonaro a Bachelet cria confusão e polêmica na política chilena http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/ataque-de-bolsonaro-a-bachelet-cria-confusao-e-polemica-na-politica-chilena/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/09/04/ataque-de-bolsonaro-a-bachelet-cria-confusao-e-polemica-na-politica-chilena/#respond Wed, 04 Sep 2019 18:08:20 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5852

Políticos chilenos reagiram nesta quarta-feira ao ataque do presidente Jair Bolsonaro a Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile, e sua declaração de que “seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973”. A fala do brasileiro tem destaque nos principais jornais do Chile, que virou palco de disputas políticas por causa dele.

Segundo uma reportagem do jornal La Tercera, as falas de Bolsonaro geraram confusão na agenda política do Chile e complicaram o governo do país bem no momento em que o ministro de Relações Exteriores chileno viajou ao Brasil.

“No antigo Hotel Carrera, lamentaram o incidente ‘muito inoportuno’. No palácio La Moneda, dizia-se que o brasileiro ‘se excedeu’. Em uma única manhã, a oposição encontrou um motivo para descarregar contra todos os sinais de apoio que o governo deu a Bolsonaro desde que assumiu o cargo e pressioná-lo a protestar vigorosamente agora. Parlamentares e ex-ministros das Relações Exteriores, como José Miguel Insulza e Ignacio Walker, exigiram uma resposta à ‘ofensa muito grave contra o ex-presidente e contra a República do Chile'”, relata o jornal.

A crítica de Bolsonaro foi feita após Bachelet dizer em uma entrevista que o Brasil sofre uma “redução do espaço democrático”, especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

Segundo o jornal El Mercúrio, vários partidos, senadores e deputados do Chile se posicionaram publicamente contra as falas de Bolsonaro.

O presidente do Senado chileno, Jaime Quintana, pediu que o governo do país se pronuncie sobre as declarações.

“Esperamos uma forte resposta do presidente Piñera e do Ministério das Relações Exteriores. É bastante violento ver o presidente Piñera endossar permanentemente Bolsonaro, simpatizar com ele; então gostaríamos de uma reação muito forte ao que é um insulto para todos os chilenos e chilenas.”

Ele disse que as declarações “deveriam causar uma rejeição transversal e vigorosa de todos os setores políticos do Chile. Há referências a questões de direitos humanos e nessa questão devemos ter uma única linha e o mesmo padrão, onde quer que sejam levados”, disse, segundo reportagem do La Tercera.

Quintana acrescentou ainda que Bolsonaro “agride a memória dos chilenos e das vítimas de violações dos direitos humanos”.

O presidente do partido Renovación Nacional, Mario Desbordes, também rechaçou as falas do presidente brasileiro. Segundo ele, a menção ao pai da chilena foi um equívoco. “Não é a forma de responder a um informe das Nações Unidas. Os informes das Nações Unidas devem ser rebatidos com argumentos”, disse, também de acordo com o La Tercera.

Enquanto a oposição chilena se colocou contra Bolsonaro, houve também políticos que defenderam o brasileiro na mídia do país. O líder do Partido Republicano José Antonio Kast se juntou às críticas de Bolsonaro e disse que Bachelet criticou o Brasil “com base não em fatos, mas em sua postura ideológica”.

No fim do dia, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse em pronunciamento não compactuar com as falas do presidente Jair Bolsonaro sobre o pai de Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-mandatária do Chile.

Piñera, um dos principais aliados regionais de Bolsonaro, afirmou que “toda pessoa tem o direito de ter seu juízo histórico sobre os governos dos anos de 1970 e 1980, mas que essas visões devem ser expressas com respeito às pessoas”.

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Fogo e Bolsonaro alimentam raro debate sobre soberania e posse da Amazônia http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/27/fogo-e-bolsonaro-alimentam-raro-debate-sobre-soberania-e-posse-da-amazonia/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/27/fogo-e-bolsonaro-alimentam-raro-debate-sobre-soberania-e-posse-da-amazonia/#respond Tue, 27 Aug 2019 16:44:36 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5811

‘Quem é dono da Amazônia?’, questiona o título de um artigo de opinião publicado pelo jornal americano The New York Times nesta terça-feira.

Até pouco tempo atrás, este tipo de pergunta não faria o menor sentido, e sequer aparecia de forma séria na imprensa internacional ou em círculos acadêmicos e diplomáticos.

Até recentemente, qualquer discussão sobre internacionalização da Amazônia era fácil e corretamente interpretada como teoria da conspiração, paranoia e fantasia –como ocorreu em 2008 depois de uma publicação de uma reportagem do mesmo NYT com o título “Whose Rain Forest is this, Anyway?”, algo que pode ser traduzido livremente para “De quem é esta floresta tropical, afinal?”.

Com o aumento das atuais queimadas na floresta, a repercussão das imagens das chamas na mata, a ampliação da discussão internacional sobre proteção ambiental e a péssima imagem do presidente Jair Bolsonaro no resto do mundo —que é muitas vezes apontado como responsável pelos incêndios–, surgem cada vez mais discussões que entram no assunto até então praticamente inédito em um tom sério.

A soberania do Brasil e a posse do território da Amazônia começam a aparecer na mídia internacional como temas mais abertos à discussão do que a ordem internacional costuma aceitar.

O presidente da França, Emmanuel Macron, foi a voz mais relevante a levantar a possibilidade de que houvesse um estatuto internacional para proteger a Amazônia, alegando que discutir status da floresta é “questão que se impõe”.

Além dele, entretanto, já é possível ver aparecerem mais vozes assim no debate político internacional. A exemplo do título publicado agora pelo NYT, há cada vez mais textos que avaliam a situação da Amazônia e abrem um questionamento sobre o próprio conceito de soberania, base da política internacional.

Antes mesmo de governos europeus começarem a discutir os incêndios e verem a situação como uma crise internacional, as notícias sobre aumento do desmatamento e a impressão externa de que Bolsonaro permite a livre destruição da floresta indicavam com que fosse apenas uma questão de tempo até que as grandes potências mundiais tomassem atitudes para tentar impedir a mudança climática.

Os primeiros exemplos disso surgiram no final de julho. Ali já era possível perceber na mídia internacional a propagação de notícias sobre o aumento do desmatamento da Amazônia. A imprensa estrangeira desde então responsabilizava Bolsonaro pela redução de mecanismos de proteção da floresta, e o presidente era visto como alguém que permitia a destruição ambiental.

No meio de várias reportagens com tom crítico, um artigo publicado da revista The New Republic dizia que os Estados Unidos deveriam se preocupar mais com o aquecimento global, e passar a ver o Brasil como uma ameaça existencial maior do que o Irã e a China, tradicionalmente vistos como maior risco da atualidade pelos EUA, por conta do desmatamento crescente. Era um tom duro que até então não era visto facilmente no debate público.

Também no final do mês passado, um editorial do jornal britânico The Guardian já se colocava como favorável à ação internacional para controlar o desastre do desmatamento da floresta. A publicação defendia “o poder crescente da diplomacia climática”, que tem pressionado o governo brasileiro.

Mas a verdadeira discussão sobre a questão da soberania apareceu realmente em um artigo publicado na revista Foreign Policy no início do mês. Nele, o professor de relações internacionais Stephen M. Walt, da Universidade de Harvard, falava sobre os riscos da ação internacional na floresta. O título original do texto questionava “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”.

O texto gerou uma reação imediata do Ministério das Relações Exteriores e do próprio Bolsonaro, e a polêmica levou a revista a mudar o título do artigo para excluir a ideia de “invasão”. O mesmo texto passou a ter o título “Who Will Save the Amazon (and How)?” (Quem vai salvar a Amazônia (e como)?). A ideia de ação internacional para pressionar o Brasil e proteger a floresta, entretanto, continuou válida como debate.

Menos de um mês após o choque inicial do texto da Foreign Policy, depois da ampliação das discussões internacionais sobre a Amazônia e a propagação maciça de imagens da floresta em chamas, a situação mudou. A imagem do país em chamas se consolidou como um problema internacional ligado à reputação negativa do próprio presidente.

Agora a questão da pressão internacional para forçar (e ajudar) o Brasil a proteger a Amazônia está cada vez mais e amplamente presente no debate público. E já é possível ver até mesmo várias menções a questionamentos sobre a soberania brasileira na região da floresta.

Um artigo publicado no fim de semana pela revista The Atlantic escalou o tom. Nele, o jornalista e escritor Franklin Foer critica duramente Bolsonaro, que diz ser diretamente responsável pela proliferação do fogo na Amazônia.

Segundo Foer, o incêndio da floresta deve ser tratado pelo resto do mundo como uma ameaça maior do que as armas de destruição de massa (que foram usadas como justificativa da invasão do Iraque).

“Se um país obtém armas químicas ou biológicas, o resto do mundo tende a reagir com fúria –ou pelo menos foi o que aconteceu no passado não muito distante. Sanções choveram sobre os proliferadores, que foram então banidos da comunidade global. E em casos raros (às vezes desastrosamente mal orientados), o mundo decidiu que a ameaça justificava uma resposta militar. A destruição da Amazônia é possivelmente muito mais perigosa do que as armas de destruição em massa que desencadearam uma resposta robusta”, argumenta.

Segundo ele, o mundo deve tratar Bolsonaro da mesma forma que trata o ditador venezuelano Nicolás Maduro, pressionando-o a lutar contra as queimadas.

“Evidentemente, isso pode não ser prático ou exacerbar o problema. Mas o caso da incursão territorial na Amazônia é muito mais forte do que as justificativas para a maioria das guerras. Enquanto isso, o planeta engasga com antigas noções de soberania”, defende Foer.

O tema reaparece no texto de opinião do New York Times citado no início deste post. Segundo Quinta Jurecic, “os incêndios na Amazônia são uma espécie de teste de como a crise climática afetará a utilidade de conceitos aparentemente simples –como a soberania nacional”.

Segundo o artigo, a ameaça do aquecimento global está se intensificando, e as táticas tradicionais de pressão internacional podem não ser suficientes.

O texto admite, entretanto, que a discussão pode gerar problemas já registrados em outras situações em que países mais poderosos se sobrepõem de forma violenta a nações mais frágeis.

Não é possível dizer que o discurso favorável a uma postura mais dura contra o Brasil é o dominante, mas é evidente que estão surgindo mais e mais vozes abrindo espaço para a discussão sobre os mecanismos internacionais para pressionar o Brasil e questões sobre a soberania da Amazônia.

O debate é amplificado pelo silêncio do governo de Donald Trump, conforme um editorial mais recente do Guardian sobre os incêndios. Os Estados Unidos poderiam ter uma influência maior no caso, e encaminhar medidas mais diretas para definir uma resposta das grandes potências em relação à Amazônia, evitando a escalada da retórica de ambos os lados. Mas Trump costuma ter uma postura desinteressada em relação a questões ambientais e tem assumido um discurso favorável a Bolsonaro. O vácuo de poder deixado pelos EUA leva à ampliação dessa discussão e à tentativa de formação de coalizões para lidar com o Brasil –como se viu na cúpula do G7.

O problema, evidentemente, não é apenas o fogo e a preocupação ambiental, nem o interesse estrangeiro no território brasileiro. Muito do que ocorre agora se dá por conta da imagem muito negativa construída pelo governo Bolsonaro no resto do mundo. O discurso dele não passa confiança aos outros países, que chegam a questionar sua legitimidade –como se vê no artigo de Foer na Atlantic. Isso força uma discussão internacional sobre como lidar com um líder que demonstra desprezo por um problema em seu território que pode gerar consequências globais –daí o questionamento à soberania.

A mera existência desse discurso, entretanto, abre precedentes preocupantes para as relações internacionais e acabam alimentando um ciclo perigoso para o Brasil e para o planeta. A ideia de soberania é um dos fundamentos básicos das relações internacionais, e a discussão em torno deste conceito pode abalar estruturas diplomáticas pelo mundo.

Além disso, vozes críticas neste nível alimentam o discurso do governo Bolsonaro e a postura do presidente de rejeitar qualquer ajuda externa, vendo qualquer movimento estrangeiro neste sentido como uma ameaça.

Assim, a troca de acusações e ameaças vai crescendo e realimentando um ciclo de discussões pouco saudáveis, enquanto a floresta continua sendo destruída. A preocupação externa cresce ainda mais, criando discussões sobre soberania que antes de Bolsonaro jamais seriam levadas a sério.

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Após tensão, embaixador chinês diz que cooperação com o Brasil é um modelo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/17/apos-tensao-embaixador-chines-diz-que-cooperacao-com-o-brasil-e-um-modelo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/17/apos-tensao-embaixador-chines-diz-que-cooperacao-com-o-brasil-e-um-modelo/#respond Sat, 17 Aug 2019 07:52:09 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5729

As relações diplomáticas entre Brasil e China completaram 45 anos nesta semana. Pelo que se viu em declarações publicadas pela mídia chinesa nos últimos dias, a tensão na ligação entre os dois países por conta de declarações do presidente Jair Bolsonaro e da maior aproximação do Brasil com os EUA não devem se tornar um problema.

Em uma entrevista publicada pela agência Xinhua (em seu site em inglês), o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, defendeu que o novo governo brasileiro manteve os laços entre os dois países estável e em um ritmo saudável, mantendo a cooperação em diversas áreas.

“Aos olhos de Yang, o novo governo brasileiro atribui grande importância à cooperação com a China e está disposto a aprofundar ainda mais a parceria estratégica abrangente”, diz a agência.

Segundo o embaixador, os dois países podem impulsionar a cooperação em áreas de tecnologia como satélites, inteligência artificial, internet das coisas e 5G, e nos setores de agricultura, turismo e esportes.

A declaração é importante porque a eleição de Bolsonaro havia criado preocupação nos laços entre os dois países. Bolsonaro havia retratado a China, a maior parceira comercial do Brasil, como um predador que quer dominar setores cruciais da economia.

Na comemoração do aniversário das relações diplomáticas, Yang defendeu que as relações entre o Brasil e a China são um modelo para a cooperação Sul-Sul, e que os dois países compartilham interesses estratégicos como a promoção da governança global e uma voz mais ativa de países em desenvolvimento em assuntos internacionais.

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Professor de Harvard avalia risco de invasão do Brasil para salvar Amazônia http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/06/professor-de-harvard-avalia-risco-de-invasao-do-brasil-para-salvar-amazonia/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/06/professor-de-harvard-avalia-risco-de-invasao-do-brasil-para-salvar-amazonia/#respond Tue, 06 Aug 2019 09:16:48 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5699

A divulgação internacional de notícias sobre aumento do desmatamento da Amazônia e a impressão externa de que o presidente Jair Bolsonaro permite a livre destruição da floresta faz com que seja apenas uma questão de tempo até que as grandes potências mundiais tomem atitudes para tentar impedir a mudança climática da forma como acharem necessário, avalia o professor de relações internacionais Stephen M. Walt, da Universidade de Harvard.

Em um artigo publicado pela prestigiosa revista de diplomacia Foreign Policy, Walt questiona: “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”.

Ao longo do dia, entretanto, a revista mudou o título do artigo para excluir a ideia de “invasão”. O mesmo texto passou a ter o título “Who Will Save the Amazon (and How)?” (Quem vai salvar a Amazônia (e como)?).

O texto não é uma defesa de uma ação internacional contra o Brasil, entretanto, mas uma discussão sobre teorias e práticas de relações internacionais tentando entender como funcionam as pressões externas sobre a soberania de países que têm influência sobre o futuro do planeta.

“Para deixar claro: não estou recomendando esse curso de ação agora ou no futuro. Eu estou apenas apontando que o Brasil pode ser um pouco mais vulnerável à pressão do que alguns outros Estados”, diz o texto.

O argumento de Walt também vai bem além de teorias da conspiração que circulam há anos sobre interesses econômicos e militares de outros países sobre o território brasileiro –e que são usados pelo governo de Bolsonaro para defender a independência da política do Brasil.

A avaliação dele foca especificamente a questão ambiental e o combate ao aquecimento global, que podem ser vistos como tema central da política internacional do futuro. A avaliação é sobre como Estados podem agir para influenciar uns aos outros em nome da proteção do planeta.

O argumento está alinhado com um outro artigo publicado na imprensa americana recentemente. Um texto publicado pela revista americana The New Republic diz que por conta da destruição da Amazônia o Brasil pode ser tratado como uma ameaça à segurança global maior do que o Irã e a China, tradicionalmente vistos como maior risco da atualidade pelos Estados Unidos.

“Um nível adequado de atenção às mudanças climáticas como uma preocupação urgente de segurança exigiria que os EUA reordenassem suas prioridades. Enquanto a China é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa, devemos prestar mais atenção ao que está acontecendo em nosso hemisfério. Em particular, isso significa abordar o perigo mais imediato que estamos enfrentando de um estado que oficialmente é parceiro e do presidente aliado de Trump: o Brasil de Jair Bolsonaro e seu desmatamento acelerado na Amazônia”, avalia.

Desde a eleição de Bolsonaro, a atitude dele em relação ao ambiente é vista como problemática pelo resto do mundo e têm sido constantes as declarações externas no sentido de pressionar o Brasil economicamente para que proteja a floresta.

Com uma avaliação mais detalhada do caso, o artigo de Walt começa com a descrição de um fictício cenário futuro, em 2025, quando o governo americano anuncia um ultimato para o Brasil interromper o desmatamento ou sofrerá ataques militares. Apesar de dizer que é um cenário de fantasia, Walt discute os direitos, responsabilidades e obrigações de intervenção em outros países para evitar danos irreversíveis e catastróficos ao ambiente.

O professor explica que a ação internacional muitas vezes depende da força que cada país tem. Ele indica que China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão são os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo. Esses mesmos países, entretanto, também são potências militares, que se colocam de forma mais segura diante de pressões externas.

“É isso que torna o caso brasileiro mais interessante. O Brasil está de posse de um recurso global crítico –por razões puramente históricas– e sua destruição prejudicaria muitos Estados, se não o planeta inteiro. Ao contrário de Belize ou Burundi, o que o Brasil faz pode ter um grande impacto. Mas o Brasil não é uma verdadeira grande potência e ameaçá-lo com sanções econômicas ou mesmo com o uso da força, se ele se recusar a proteger a floresta tropical, pode ser viável”, avalia.

O artigo discute como os países têm direito de proteger seus próprios interesses, mas vê como necessária a discussão sobre repercussões internacionais das ações de um Estado a fim de buscar negociações pacíficas e evitar qualquer tipo de conflito.

“Em um mundo de Estados soberanos, cada um fará o que for necessário para proteger seus interesses. Se as ações de alguns Estados estão pondo em perigo o futuro de todo o resto, a possibilidade de confrontos sérios e possivelmente de conflitos vai aumentar. Isso não torna o uso da força inevitável, mas esforços mais sustentados, enérgicos e imaginativos serão necessários para evitá-lo.”

Durante o dia, Bolsonaro mencionou o artigo publicado pela Foreign Policy. Em visita à nova planta de farmoquímica oncológica do Grupo Cristália, em Itapira (SP), Bolsonaro disse que o “Brasil está de braços abertos para os países que quiser explorar por parceria explorar a biodiversidade amazônica.”

“Hoje, um grande jornal de fora do Brasil publica uma matéria aventando a possibilidade de uma intervenção militar de fora no Brasil contra o Johnny Bravo que sou eu que está desmatando o Brasil. O que eu quero é uma Amazônia nossa. O que está errado vamos buscar solucionar. Mas ninguém no mundo tem moral de dizer como a gente deve tratar nossas florestas”, disse o presidente.

A embaixada do Brasil em Washington enviou no fim do dia uma carta à Foreign Policy respondendo ao artigo de Walt. Leia abaixo o texto completo:

“O artigo publicado por Stephen M. Walt no site da Foreign Policy em 5 de agosto, “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”, é marcado por falsas premissas e argumentos errôneos que levam a uma interpretação errada das políticas adotadas pelo governo brasileiro. O principal sofisma contido no artigo é que o Brasil não está disposto ou não é capaz de preservar e desenvolver de forma sustentável a Amazônia, e que estados não identificados poderiam fazê-lo. É um exercício irresponsável de retórica arrogante sobre um assunto sério.

A maior floresta tropical do mundo não está localizada no Brasil por acaso. O governo brasileiro tem sido o principal defensor da conservação no mundo, um fato que é apoiado por números, não retórica vazia, as áreas protegidas do Brasil, das quais 80% estão na Amazônia, somam mais de 30% de seu território (960.000 milhas quadradas, ou 2,5 milhões de quilômetros quadrados), e representam mais do que as áreas do Texas, Califórnia, Montana, Novo México, Arizona e Nevada juntas. Além disso, o Brasil impõe requisitos incomparáveis ​​de conservação aos agricultores e pecuaristas da Amazônia, onde os proprietários devem preservar pelo menos 80% da vegetação original em suas propriedades. Além disso, o governo brasileiro e empresas privadas trabalharam juntas para conciliar atividade econômica e conservação, em iniciativas como a moratória da soja na Amazônia e os Termos de Ajustamento de Conduta para a cadeia de produção de carne bovina.

O governo do presidente Bolsonaro reafirmou seu compromisso com o combate ao desmatamento ilegal. Em 1º de agosto, o Brasil anunciou que está fortalecendo os meios para combater a extração de madeira na Amazônia com informações de satélite de maior resolução que permitirão o monitoramento em tempo real. A menção no artigo ao possível uso da força por atores internacionais demonstra desprezo por análise série e falta de conhecimento sobre a posição do Brasil em questões ambientais. De forma simples, nenhum outro país tem controle legal mais rigoroso do desmatamento. As Forças Armadas do Brasil, reconhecidas internacionalmente como militares excepcionais, também estão totalmente envolvidas no esforço de preservação e proteção da floresta.

Aproveito a oportunidade para reiterar que a embaixada continua à disposição para clarificar quaisquer dúvidas e oferecer informações complementares em relação a políticas ambientais do Brasil”

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