Brasil vira exemplo de uso político do WhatsApp durante campanha britânica
Daniel Buarque
14/11/2019 07h41
A menos de um mês das eleições que vão determinar o novo governo britânico para negociar o futuro do brexit, os partidos políticos do Reino Unido estão buscando desenvolver formas para usar redes sociais como o WhatsApp em suas campanhas. Analistas políticos, por outro lado, ressaltam sobre os riscos de divulgação de informações falsas que podem influenciar no resultado da votação. O movimento tem sido comparado ao que aconteceu no Brasil durante a eleição presidencial de 2018.
"Partidos britânicos lutam para transformar o WhatsApp em arma de campanha", diz uma reportagem do jornal The Guardian. A publicação ressalta que o aplicativo teve uma função importante no Brasil, mas que os ingleses têm uma relação diferente com redes sociais, o que dificulta seu uso político.
"Partidos e campanhas políticas estão se contando com grupos fechados de WhatsApp e outras redes sociais 'obscuras' pela primeira vez para disseminar suas mensagens eleitorais de forma ampla", explica uma reportagem do jornal The Times. Os trabalhistas, diz, estão tentando criar um "exército digital" com uso das redes sociais.
Segundo a rede SKY News, por outro lado, os trabalhistas também são vítimas da campanha por WhatsApp, com mensagens que tentam influenciar votos na eleição. Uma reportagem diz que o uso de redes sociais "eleva preocupação sobre o papel do aplicativo na disseminação de conteúdo político divisivo".
A revista Wired também tratou do uso político do WhatsApp no Reino Unido e citou o caso brasileiro como exemplo. Segundo uma reportagem, a divulgação de desinformação no Brasil levou o WhatsApp a tentar limitar o encaminhamento de mensagens, mas que isso não está funcionando totalmente no caso britânico.
"Apesar da mudança, o mecanismo está atualmente sendo usado na campanha para a eleição geral", diz.
Os casos registrados até agora no Reino Unido, entretanto, "ainda não são nada comparados à Índia e ao Brasil", diz o Guardian, explicando que o WhatsApp foi chave na "eleição de candidatos políticos e na disseminação de uma série de desinformação".
Uma explicação para os limites encontrados pela campanha pelo WhatsApp no Reino Unido é que embora os britânicos usem muito o aplicativo, eles são muito menos propensos a participar de grupos com pessoas que não conhecem. "Isso torna muito mais difícil para os ativistas políticos transmitirem desinformação", diz o jornal.
Isso diferencia a cultura política do país em relação à do Brasil.
"Seis em cada dez usuários do WhatsApp no Brasil se uniram a grupos com pessoas que não conheciam, em comparação com pouco mais de um em cada dez no Reino Unido. Enquanto quase um quinto dos usuários brasileiros ficou feliz em discutir notícias e política em um grupo público do WhatsApp, apenas 2% no Reino Unido se sentiram da mesma forma", explica.
O mesmo Guardian publicou recentemente um resumo de uma pesquisa acadêmica realizada neste ano na universidade de Swansea, no Reino Unido, que comprovou que o compartilhamento de notícias falsas por redes sociais foi favorável à eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência do Brasil.
O estudo descobriu que 42% das mensagens compartilhadas em grupos de direita no pleito de 2018 continham informações consideradas falsas. Por outro lado, menos de 3% das mensagens em grupos de esquerda continham mentiras.
O WhatsApp já admitiu publicamente o uso de envios maciços de mensagens, com sistemas automatizados contratados de empresas, durante a eleição presidencial no Brasil. A divulgação de notícias falsas pela internet também é tema de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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