Mídia estrangeira comemora reforma da Previdência e vê vitória de Bolsonaro
Daniel Buarque
23/10/2019 06h40
A aprovação do texto base da Reforma da Previdência no Senado foi comemorada pela imprensa internacional focada em economia. Na maioria dos jornais estrangeiros, a decisão foi vista como uma vitória do presidente Jair Bolsonaro.
Vista como o maior teste do início do governo de Bolsonaro, a nova Previdência era tratada pela imprensa internacional como uma prioridade da agenda econômica do país. Desde a eleição de 2018, a percepção estrangeira sobre a economia brasileira vinha oscilando com o que era visto como avanço lento da reforma por conta de problemas políticos no país.
"Após décadas de atraso e impasse político, o Brasil finalmente aprovou sua tão esperada reforma previdenciária. É uma grande vitória para o presidente de extrema-direita do país, Jair Bolsonaro, e seu czar econômico, Paulo Guedes, educado na Universidade de Chicago", diz a reportagem.
Segundo a publicação, a reforma é vista como chave para reforçar as finanças públicas e restaurar a confiança na economia lenta do Brasil. "Os custos do fracasso teriam sido altos. Os gastos crescentes com aposentadorias no Brasil corriam o risco de provocar um 'colapso social' na maior economia da América Latina".
O Wall Street Journal, publicação estrangeira geralmente mais favorável à agenda de reformas e ao governo de Bolsonaro, tratou a aprovação como uma vitória "esmagadora". A mudança, diz, vai reformular o "insolvente sistema de seguridade social do país, reduzirá drasticamente os gastos e servirá de pilar para a reforma do presidente Jair Bolsonaro de uma economia lenta, prejudicada pela burocracia e pelo protecionismo".
A decisão do Senado, complementa, "é uma vitória política para o presidente, que se distraiu com os confrontos com líderes estrangeiros e legisladores da capital, mesmo os do seu próprio partido".
O jornal destaca a importância do projeto, e explica que "quase todos os antecessores de Bolsonaro tentaram, sem sucesso, fazer mudanças significativas no sistema de Previdência do Brasil – um dos mais generosos do mundo – mas pararam diante da forte oposição popular".
"É sem dúvida a medida econômica mais esperada, e talvez a mais importante, do governo de Bolsonaro", diz.
Publicações como o New York Times e o Washington Post publicaram inicialmente apenas reportagens de agências de notícias como a Associated Press e a Reuters tratando da reforma da Previdência. Os textos destacam os gastos excessivos do país no sistema antes da reforma, e o fato de que o país havia tentado reformar a Previdência anteriormente, sem sucesso.
Além disso, as publicações internacionais trataram do aumento das cotações da Bolsa de Valores de São Paulo por conta do otimismo gerado pela reforma.
Apesar do tom geral de celebração, o Financial Times argumenta que a reforma era um teste para o Brasil, e muitas empresas internacionais estavam evitando de investir no Brasil até que a reforma fosse aprovada. Ainda assim, o mercado espera que outras reformas sejam discutidas a partir de agora para poder desbloquear investimentos internacionais.
O tom do jornal ecoa a avaliação do professor da universidade de Leiden, Edmund Amann, que em entrevista ao blog Brasilianismo disse que a aprovação da reforma da Previdência era importante não apenas pela economia que gera, mas por conta do seu papel simbólico. A reforma, ele explicou, é como um primeiro desafio do governo, capaz de apontar a viabilidade de Bolsonaro alcançar melhoras para a economia do país e indicar ao mundo se o governo pode ser levado a sério.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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