Analistas dizem que lua de mel do governo Bolsonaro não durou nem cem dias
Daniel Buarque
05/04/2019 06h06
"Geralmente há essa tradição de que a lua de mel dura cem dias. No caso de Bolsonaro, em parte por causa de alguns conflitos auto-infligidos e desnecessários –não com seus inimigos, mas com seus amigos– há reconhecimento geral de que o período da lua de mel acabou", avaliou Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly e vice-presidente do think tank.
A análise destaca que os primeiros cem dias de governo foram marcados por brigas pelo Twitter, disputas com o Congresso e uma queda de 15 pontos percentuais nos índices de aprovação do governo. O texto divulgado pelo think tank explica ainda que após ter sucesso com sua plataforma de ser contra a política tradicional, Bolsonaro enfrenta dificuldades para governar sem ter experiência nesse tipo de política.
O foco dos primeiros três meses de governo, diz a análise, foi a negociação em torno da reforma da Previdência. Apesar das declarações do presidente, a movimentação do mercado mostra que "a comunidade de negócios está cética", apesar de haver maior apoio do público para as reformas. "É por isso que tantas pessoas estão frustradas com a retórica autodestrutiva de Bolsonaro. Eles estão preocupados que ele esteja arrancando a derrota das garras da vitória", explica Winter.
O tom crítico da avaliação sobre o início do governo Bolsonaro ecoa outras análises externas que indicam problemas para o presidente e falam até mesmo em possível encurtamento do mandato. "O Brasil não é um país que historicamente fica parado. Se as necessidades das pessoas não forem atendidas, a roda girará novamente", disse Winter.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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