Brasil desaba em ranking global de soft power e se torna penúltimo colocado
Daniel Buarque
17/07/2017 20h27
Décadas de indignação e frustração com a corrupção atingiram seu ponto máximo em 2016, quando uma sucessão de escândalos dominou a política, e a presidente Dilma Rousseff foi trocada, via impeachment, por Michel Temer, que também é acusado de atos ilícitos. Com uma situação tão crítica, o Brasil desabou no ranking internacional que mede o soft power, o "poder brando", "poder suave" ou "poder de convencimento", de acordo com o recém-divulgado relatório anual sobre o tema divulgado pela consultoria britânica Portland.
"O boom econômico da era dos BRIC implodiu, e cidadãos estão raivosos com razão. O risco de o desencanto público se tornar apatia é cada vez maior", diz o texto da consultoria sobre o Brasil.
Segundo o levantamento, o Brasil é agora o 29º colocado no ranking, penúltimo da lista de 30 países. A classificação é cinco colocações abaixo do 24º lugar registrado no ano passado, quando a consultoria já dizia que o Brasil estava "no limite do desastre político e econômico".
Em 2015, primeiro ano do levantamento, o Brasil apareceu ainda melhor do que no ano passado, em 23º lugar.
"O sucessivo declínio no ranking Soft Power 30 sugere que está chegando a hora de o Brasil parar de achar que seu peso global e excelente reconhecimento de marca são garantidos", diz o estudo.
Segundo a Portland, o Brasil se consolida ainda mais como um país decorativo, com bons aspectos de lazer, mas com sérios problemas.
"Por mais que o Brasil continue sendo para muitos o país do sol, do futebol, do samba e do carnaval, é importante que o governo tome ações decisivas em sua batalha contra a corrupção e reduza os conhecidos custos operacionais de se fazer negócios no Brasil."
De acordo com a análise da Portland, o Brasil alcançou 47,41 pontos no ranking, menos do que os 47,69 do ano anterior e que os 46,63 pontos conquistados na avaliação de 2015.
Assim, o Brasil pela primeira vez foi ultrapassado pelos outros países dos BRICs, Rússia (26º) e China (25º), e até mesmo pela Grécia (23º).
A Turquia, que passou por uma tentativa de golpe militar e que viu o governo de Erdogan se fortalecer no poder de forma próxima ao totalitarismo no ano passado, é o único país abaixo do Brasil na lista, em 30º lugar e 45,35 pontos)
A lista de 2017 também viu os Estados Unidos (75,02 pontos) perderem a liderança global em soft power e cair à 3ª colocação. Agora a França de Emmanuel Macron aparece em primeiro lugar (75,75 pontos), seguida pelo Reino Unido (75,72 pontos).
O ranking foi desenvolvido pela empresa de consultoria estratégica e de pesquisas de "place branding" Portland em parceria com o Facebook. Ele é calculado pela combinação de mais de 70 bases de dados de diferentes fontes sobre soft power, classificados em sete categorias: Governo, Cultura, Educação, Envolvimento Global, Empreendimento, Digital, além de pesquisa de opinião. Além disso, foram entrevistadas onze mil pessoas em 25 países para avaliar a interpretação sobre as diferentes nações do ranking.
O estudo mais recente ressalta, entretanto, que foram feitas pequenas mudanças na metodologia, o que pode também ter interferido na classificação registrada pelos países.
O termo "soft power" foi criado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele faz referência a uma nova modalidade de influência em relações internacionais, mais relacionada à capacidade de convencimento por argumentos de que pela força. Por esta teoria, não basta a um país ter poder militar e bélico para ser uma potência internacional, mas é preciso cativar "corações e mentes" e convencer outros países a agirem em parceria de forma pacífica.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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