Greg Grandin: Postura de Obama em impeachment antecipou ascensão de Trump
Daniel Buarque
23/11/2016 07h14
A forma como o governo de Barack Obama, nos EUA, lidou com a derrubada de três governos de esquerda na América Latina (Honduras, Paraguai e o impeachment de Dilma Rousseff no Brasil) antecipou o discurso que ele agora precisa assumir ao ver a vitória do republicano Donald Trump para sucedê-lo na Presidência norte-americana.
Segundo artigo do historiador norte-americano Greg Grandin, professor da New York University, na revista "The Nation", o fato de Obama não ter denunciado o que chama de "golpe" no Brasil e nesses outros países acabou servindo de exemplo para a forma como ele agora aceita a derrota nos EUA.
"A ironia é amarga. Depois de ajudar a normalizar a transição autoritária neoliberal no exterior, Obama, nas últimas semanas da sua Presidência, agora se encontra fazendo o mesmo em casa. Os termos usados para descrever a aproximação da Presidência de Trump são exatamente os mesmos que o Departamento de Estado usou para acatar o golpe no Brasil: a resiliência das instituições democráticas… a necessidade de aceitar os altos e baixos da competição eleitoral… a lei… e por aí vai", explica.
Para Grandin, assim como não houve vontade democrática na derrubada de governos pela América Latina, o mesmo acontece nos EUA, considerando que Hillary Clinton foi derrotada no Colégio Eleitoral mesmo tendo mais votos nacionalmente do que o presidente eleito.
Grandin ressalta ainda o que chama de "segunda ironia". O fato de que os governos de centro direita que assumiram o poder na América Latina durante o governo de Obama preferiam que Hillary tivesse vencido as eleições nos EUA, e agora vão ter que lidar com o governo de Trump.
O historiador Grandin conhece bem o Brasil. Ele é autor do livro "Fordlândia", sobre uma cidade-utopia que o empresário norte-americano Henry Ford tentou construir na Amazônia no início do século XX. Ele foi um dos entrevistados para o livro "Brazil, um país do presente", e ajudou a traçar a imagem que os norte-americanos têm da Amazônia brasileira.
Ideologicamente ligado à esquerda, Grandin escreve esporadicamente sobre o na revista "The Nation". Em um texto publicao após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, ele publicou um artigo chamando o impeachment de "golpe escravagista".
"A retirada de Dilma pode ser chamada de muitas coisas, entre elas um golpe midiático e um golpe constitucional. Pelo menos em parte, é também um golpe escravagista", dizia.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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