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James Green: Impeachment seria um atentado contra a democracia brasileira

Daniel Buarque

23/03/2016 15h49

Manifestantes protestam a favor do governo da presidente Dilma Rousseff, em Manaus (Edmar Barros/ Futura Press/ Estadão Conteúdo)

A crise política e a pressão para tirar a presidente Dilma Rousseff do poder criam uma situação de difícil compreensão e de grandes debates para os brasileiros que viveram um golpe militar e uma ditadura de mais de duas décadas. A discussão se situa em torno do que é ou não golpe, e até onde os mecanismos para derrubar Dilma são aceitáveis em uma democracia. Para o pesquisador norte-americano James N. Green, o processo de impeachment é não apenas um golpe, mas um atentado contra a democracia.

"É uma maneira de derrubar o sistema eleitoral legítimo, as eleições legítimas, com uma medida que vai violar os princípios básicos da democracia. Você pode chamar de golpe, mas fica confuso porque não é um golpe militar. Para mim é um atentado contra a democracia e os princípios democráticos", disse Green em entrevista à BBC Brasil.

A sucursal brasileira da rede britânica BBC está publicando uma série de excelentes entrevistas com pesquisadores estrangeiros que analisam a situação atual do Brasil. Nas últimas semanas, eles apresentaram a visão do consultor britânico Simon Anholt, especialista em imagem internacional do país, também a do cientista político argentino Anibal Pérez Liñan, professor de ciência política da Universidade de Pittsburgh e especialista em processos de impeachment na América Latina, e do historiador britânico e brasilianista Kenneth Maxwell.

É verdade que a linha de pesquisa de Green é mais próxima de ideologias de esquerda, mas sua opinião é relevante por ser um pesquisador com trabalhos muito sérios, e alguém que passou mais de três décadas estudando a política brasileira. Ele é professor de história e estudos brasileiros na universidade Brown, nos EUA, morou oito anos no Brasil nos anos 1970 e presidiu o New England Council on Latin American Studies (Neclas). É autor de "Apesar de vocês: Oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985" (Cia. das Letras), obra em que revela um movimento desconhecido da maioria dos brasileiros, contradizendo a visão geral de que os EUA apoiaram integralmente o regime militar.

Leia abaixo trechos da entrevista

Clique aqui para ver a entrevista completa na BBC Brasil

BBC Brasil – Muitas pessoas contrárias ao impeachment dizem que está se articulando um golpe no Brasil. A afirmação é exagerada?
James N. Green – Acho que há uma tentativa sim de derrubar um governo democraticamente eleito, mas não para pôr os militares no poder, e sim para pôr o PMDB e o PSDB. É uma maneira de derrubar o sistema eleitoral legítimo, as eleições legítimas, com uma medida que vai violar os princípios básicos da democracia. Você pode chamar de golpe, mas fica confuso porque não é um golpe militar. Para mim é um atentado contra a democracia e os princípios democráticos.

Como Eduardo Cunha, acusado de roubar milhões de dólares, pode estar dirigindo o processo do impeachment? É um absurdo. Teria que haver um movimento enorme contra Cunha, Maluf, pessoas que estão na comissão do impeachment e estão envolvidas nas acusações. Que moral elas têm?

BBC Brasil – A história brasileira é cheia de episódios violentos, como as revoltas do século 19, e ao mesmo tempo momentos de conciliação e acomodação de interesses, como na independência e no fim da ditadura. Qual característica vai predominar na crise atual?
James N. Green – A conciliação é entre as altas esferas da política e está ocorrendo agora entre PMDB e PSDB. Outra questão é a reação popular. Acho que no Brasil a grande mídia está provocando um sentimento agressivo contra qualquer pessoa que ande com o roupa vermelha ou defenda o governo. É unilateral.

Pode haver violência dos dois lados no futuro e pode ser muito sério e triste, mas neste momento sinto que essa agressão é contra as pessoas que estão defendendo o governo.

Não é uma briga como a de 1935, entre os partidos Comunista e Integralista, onde os dois iam para cima, matando um ao outro.

BBC Brasil – Mas desta vez as descobertas da Operação Lava Jato não são um elemento real por trás do discurso contra a corrupção?
James N. Green – Não estou negando que haja corrupção dentro e fora do governo atual. Isso não tem nenhuma dúvida. Só que a corrupção no Brasil não tem seis anos, tem 500 anos, desde a chegada dos portugueses. É uma corrupção de todos os partidos políticos.

Aliás, se a oposição ganha e derruba o governo, o PT e a esquerda que ficar na oposição vão fazer a mesma campanha contra os atuais políticos da oposição que, sabemos muito bem, estão envolvidos com corrupção também.

Acho muito bom que a corrupção esteja sendo investigada no Brasil. O que acho muito perigoso, uma grande ameaça à democracia no Brasil, são as medidas ilegais implementadas para fazer essas investigações. Isso é uma grande ameaça à democracia no Brasil.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

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O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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