No exterior, documentário foi chamado de 'mergulho na política brasileira'
Daniel Buarque
13/01/2020 12h30
Indicado ao Oscar, o documentário brasileiro "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, teve grande repercussão na imprensa internacional após ser lançado no exterior, em junho do ano passado.
O filme foi chamado de "mergulho na política brasileira" pelo jornal norte-americano Los Angeles Times. Segundo a publicação, o filme é fascinante e oferece uma visão dos "terremotos" que afetam o sistema político brasileiro nos últimos anos.
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Outras publicações importantes, como o New York Times –que indicou o filme como um dos melhores do ano–, o jornal britânico The Guardian e a revista Americas Quaterly publicaram textos avaliando o filme e o retrato que faz da situação do Brasil.
Segundo o NYT, o documentário se debruça sobre questões a respeito de o que levou a uma mudança radical na política brasileira, passando de governos com tendência de esquerda à chegada da extrema-direita ao poder. O jornal explica que o filme tem um olhar de esquerda, e que em alguns momentos parece descrever uma grande conspiração política contra esse grupo político. Ainda assim, vê méritos na obra.
"Os fatos e argumentos apresentados deveriam ser estudados por qualquer pessoa interessada no destino da democracia, no Brasil e em qualquer outro lugar", diz.
O filme criou polêmica dentro do Brasil, e especialistas indicam que ele tem o potencial de se tornar "o principal ponto de referência para os não-especialistas na história recente do Brasil".
A avaliação foi feita pela pesquisadora Stephanie Dennison, diretora de estudos brasileiros da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Em entrevista ao blog Brasilianismo, em julho de 2019, ela explicou que o fato de o filme ser um documentário faz com que carregue "um certo grau de autenticidade" à interpretação que faz da política brasileira.
Para Dennison, apesar de "Democracia em Vertigem" de fato fazer uma "leitura pessoal e ligeiramente ambígua da história brasileira", muitas das críticas ao filme são infundadas. "Nem este nem um filme como 'O Processo' se propuseram a ser abrangentes em suas explicações da história recente do Brasil", disse.
"Pessoalmente, não acho que tenha havido imprecisões no relato que Costa faz da situação instável da democracia brasileira nos últimos anos. Isso não significa dizer, claro, que não há muito mais na história do que o que é representado no filme. 'Democracia em Vertigem' será útil como uma contrapartida para algo como 'O Mecanismo', de José Padilha, também disponível na Netflix, que por sua vez é cheio de imprecisões", avaliou.
Dennison é especialista em cinema e soft power brasileiro e é autora de livros como o recente "Paulo Emílio Salles Gomes: on Brazil and Global Cinema" (University of Wales Press) e "Remapping Brazilian Film Culture in the 21st Century", que vai ser publicado pela editora Routledge.
Em linha com o que disse o NYT, ela alega que o filme brasileiro pode ajudar a entender a ascensão de políticos de tendência autoritária e de direita em vários países do mundo.
"Um filme como 'Democracia em Vertigem' pode ser lido como fornecendo algum tipo de chave universal para entender pelo menos parte da história dessa guinada para a direita. As manobras de bastidores por parte das elites (políticas e financeiras) e grupos religiosos conservadores para não perder uma oportunidade de se beneficiar de qualquer coisa que empurre o eleitorado a seu favor podem ser vistas em outros lugares. A política maquiavélica pode ser vista em jogo no atual parlamento britânico em relação ao Brexit, por exemplo."
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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