Mercado ignora polêmicas em torno de Bolsonaro e abraça agenda econômica
Daniel Buarque
03/12/2019 11h47
Acusado por críticos em várias partes do mundo de destruir o meio ambiente, pôr em risco os direitos humanos e ofender mulheres e gays, o presidente Jair Bolsonaro ainda é visto pelo mercado internacional como uma pessoa capaz de gerar negócios e atrair investimentos.
A avaliação foi feita por uma reportagem publicada pelo jornal de economia Wall Street Journal. Segundo a publicação, os investidores internacionais ignoram as polêmicas e controvérsias em torno do atual governo e abraçam a agenda econômica apostando numa retomada.
De acordo com o WSJ, o otimismo do mercado é tão grande que nem mesmo a ameaça de Trump de retomar tarifas ao aço e alumínio brasileiros afetou o ânimo dos investidores.
"O mercado de capitais do Brasil tem acelerado após pouca atividade no ano passado", diz o Journal. "A retomada da atividade está sendo impulsionada em parte pela batalha de Bolsonaro para remodelar a maior economia da América Latina e atrair investidores de volta", complementa.
"Os mercados adoram as mudanças que ele está tentando fazer", diz uma fonte citada pelo Journal
A reportagem cita a aprovação da Reforma da Previdência, medidas para diminuir a burocracia e privatizações como partes da agenda que atrai o interesse do mercado. O foco é o encolhimento do Estado, explica.
O Journal avalia que Bolsonaro cria problemas políticos que podem afetar a percepção internacional do país, entretanto. "Seu estilo impetuoso também pode estar diminuindo os esforços para otimizar o governo e simplificar o complexo e caro sistema tributário antes das eleições municipais em outubro do próximo ano", diz.
Ainda assim, segundo o jornal, executivos brasileiros estão arrecadando dinheiro para se preparar para o crescimento que esperam vir no próximo ano
"Os executivos são otimistas sobre a economia, que deve crescer mais de 2% em 2020", diz. "Embora o crescimento esperado para 2020 ainda seja lento em comparação com outras grandes economias emergentes, como China e Índia, seria a expansão mais rápida do Brasil desde 2013."
A reportagem confirma o que já era possível perceber na cobertura que o Wall Street Journal faz sobre o Brasil desde a eleição do ano passado. O WSJ destoa do tom de quase toda a imprensa internacional em relação a Bolsonaro desde antes da sua eleição, apostando em uma "revolução do mercado".
Uma explicação para isso pode ser encontrada em um artigo publicado recentemente pelo New York Times. O centro financeiro dos Estados Unidos, em Wall Street, não se preocupa com a democracia e simpatiza com líderes autoritários sempre que eles defendem posturas de mercado que interessa aos investidores, diz. "Os mercados são amorais e não se queixam de comportamento autocrático se produzir crescimento econômico", explica.
A avaliação se encaixa no que se lê sobre o Brasil no Wall Street Journal. A publicação ignora a relevância de muitas das críticas à postura de Bolsonaro e foca apenas no que vê como efeitos positivos para o mercado em suas proposta econômicas.
Enquanto quase todos os jornais, site e TVs dão espaço a críticas contra a postura do presidente e falam em ameaças à democracia brasileira, o WSJ foca apenas nas propostas para abrir a economia brasileira, então vê o governo como positivo.
Essa postura é diferente até mesmo de outras grandes publicações voltadas à economia como o Financial Times e revista The Economist –veículos ligados a um projeto de democracia liberal que defendem o mercado, mas que também demonstram interesse por instituições políticas democráticas.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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