Analistas veem democracia mais forte do que o autoritarismo de Bolsonaro
Daniel Buarque
02/07/2019 08h22
Seis meses após a posse de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, as análises sobre a possível morte da democracia do país se mostraram exageradas, segundo a avaliação de duas das mais importantes publicações da imprensa de economia do mundo.
De acordo com avaliações publicadas pelo jornal Financial Times e pela agência Bloomberg, as instituições brasileiras têm se mostrado fortes em evitar uma escalada autoritária no país. A democracia se mostrou mais forte do que o autoritarismo.
"Quando Jair Bolsonaro foi eleito, muitos brasileiros temiam que o presidente de extrema direita varresse as instituições democráticas do país para implementar sua agenda política radical", explica o FT. "Seis meses depois, entretanto, o poderoso Congresso do Brasil e sua influente corte suprema não estão apenas intactos, mas contra o ex-capitão do Exército. Bolsonaro está frustrado."
O jornal lista derrotas de Bolsonaro na sua relação com parlamentares e menciona a reclamação do presidente de que o Congresso estaria tentando transformá-lo na "rainha da Inglaterra".
"Os temas defendidos por Bolsonaro, incluindo o relaxamento do controle de armas, a demarcação de territórios indígenas e o desenvolvimento em terras protegidas da Amazônia, estão longe de serem universalmente apoiados. Assim, as instituições brasileiras não sentem pressão para entrar na linha", diz o jornal.
O tom do FT é semelhante ao adotado pelo colunista Mac Margolis em um artigo publicado na página de opinião da Bloomberg. "A democracia atormenta o presidente do Brasil", diz o título do texto. "Seus primeiros seis meses refutam os temores de um retorno ao autoritarismo", complementa.
"A maior democracia da América Latina está a salvo", avalia.
Segundo Margolis, Bolsonaro enfrentou muitas dificuldades no início do seu governo, e tem sofrido pressões das instituições brasileiras.
"Graças às exortações autoritárias de Bolsonaro, a jovem democracia do Brasil estaria em perigo e um retorno à ditadura seria iminente. No entanto, seis meses cheios de crises de populismo viraram essa fantasia de cabeça para baixo. A democracia constitucional do Brasil parece adequada para sobreviver a Bolsonaro; a questão é, Bolsonaro vai sobreviver à democracia?", diz.
Para o colunista, isso leva Bolsonaro a tentar levar adiante o governo por decretos, o que mostra sua falta de habilidade política. Assim, complementa, o Congresso está assumindo a responsabilidade de levar adiante muitos dos projetos vistos como os mais importantes para o país, como a reforma da Previdência.
Apesar do tom que parece otimista, Margolis alerta que mesmo que a democracia esteja viva, a política brasileira ainda vive um momento muito problemático.
"O perigo não é o de um 'país que corre em direção a um passado autoritário', como a narração lúgubre coloca no filme 'Democracia em Vertigem', da Netflix. Em muitos aspectos, o espírito e as instituições cívicas do país nunca estiveram tão resilientes. O problema maior é a política sem clareza, que corrói o consenso e encoraja os forasteiros e aventureiros populistas."
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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