'Autodestruição' da Lava Jato deixa Moro 'indefensável', diz Economist
Daniel Buarque
13/06/2019 12h32
Mesmo que as revelações não sejam suficientes para mudar o destino do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o caso tem o potencial de levar à "autodestruição" da mais importante operação contra a corrupção no país, e a situação de Moro parece "indefensável", avalia a revista.
"A ampla investigação anticorrupção conhecida como Lava Jato pode ter sofrido um golpe fatal", diz.
Segundo a Economist, as revelações feitas pelo Intercept até o momento são menores do que o material a que o site disse ter tido acesso. Ainda assim, a revista destaca que Dallagnol expressou dúvidas sobre a solidez da acusação contra Lula. Mais do que isso, diz que as revelações sobre Moro são problemáticas.
"O maior dano é causado pelas muitas mensagens que Moro trocou com Dallagnol em que ele apareceu tanto para treiná-lo quanto para criticá-lo. Os dois pareciam trabalhar juntos. Sob a constituição do Brasil de 1988, os juízes devem ser árbitros neutros. Na prática, dizem os advogados, os juízes trocam informações com os promotores. Isso é contra a lei e o código da ética judicial. Em um caso tão importante, Moro deveria saber que não podia infringir as regras."
Segundo a Economist, Moro já havia levantado suspeitas sobre seus motivos quando se tornou ministro da Justiça do governo de Bolsonaro. "Ele é um herói para muitos brasileiros. Mas sua posição agora parece indefensável", diz.
A revista ainda defende que a Lava Jato tem um legado importante, "abriu caminhos para responsabilizar os poderosos e revelar a escala insuportável de corrupção no Brasil. Seus excessos devem ser corrigidos. Mas seus inimigos agora se sentirão encorajados para garantir que novas investigações de políticos desapareçam".
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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