Cansados da violência, brasileiros põem segurança como prioridade para 2018
Daniel Buarque
13/10/2017 09h32
"A violência no Brasil está fora de controle", e "os brasileiros parecem tolerar cada vez menos o que está acontecendo", diz Brian Winter, editor da revista "Americas Quarterly" em um artigo publicado nesta semana.
Em um cenário assim, ele avalia, questões de segurança vão ter tanta importância quanto a economia nas eleições de 2018, e podem definir o próximo presidente do país.
Este cenário, explica o artigo, ajuda a explicar a ascensão de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Por mais que as políticas defendidas pelo deputado sejam criticadas por especialistas, ele é o "único candidato falando abertamente sobre violência", diz.
"Parece óbvio: Alguém mais no campo dos candidatos a presidente precisa oferecer uma alternativa sã, democrática e com credibilidade –uma estratégia de segurança que respeite os direitos humanos, mas que seja também ambiciosa e ampla o suficiente para reduzir dramaticamente a violência nacionalmente", defende.
Apesar de parecer evidente, Winter diz que os políticos tradicionais fogem deste debate. Por negação, convenção política e elitismo, os candidatos a presidente preferem evitar tratar da questão da violência como fundamental, o que gera ainda mais frustração entre os eleitores.
"É imoral e em último caso suicida para a classe política continuar a tratar a violência como um problema de outros grupos, ou um tipo de tabu. A crise é severa demais e todas as soluções têm que ser avaliadas, desde que sejam democráticas e respeitem a vida humana", complementa.
Winter vem se mostrando preocupado com a escalada autoritária do Brasil há bastante tempo. Em uma entrevista ao blog Brasilianismo, ele disse que o país já tem todos os mesmos fatores que levaram à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Além disso, ele também vem avaliando questões ligadas a violência no país. "O Brasil é um país muito violento, e tem coisas que parecem normais aqui que não são normais, como carros blindados, muros de 3 metros de altura com cerca eletrificada, a facilidade com que as pessoas são mortas e a falta de julgamento. Sucessivos governos desde o fim da ditadura fracassaram na tentativa em nível federal de controlar a violência. Isso acaba tendo reflexos políticos, pois a insatisfação das pessoas é com a situação de insegurança generalizada em que elas vivem. Não é uma questão fácil de lidar, mas é parte da identidade do que significa ser brasileiro e do que se pensa sobre o país no mundo", disse então.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.