Ian Bremmer: Crise mostra que políticos não estão acima da lei no Brasil
Daniel Buarque
25/05/2017 07h27
O Brasil vive um grande "turbilhão" político, e a economia pode sofrer ainda mais com os intermináveis escândalos de corrupção, mas, segundo o analista político americano Ian Bremmer, tudo isso pode ter um efeito positivo de longo prazo.
Em um artigo publicado no site da revista "Time", Bremmer diz que as denúncias contra Temer "parecem prontas para derrubar um presidente brasileiro pela segunda vez em menos de nove meses". Ele avalia a sucessão de problemas do país, que diz serem muito maiores do que os enfrentados por Donald Trump nos EUA, mas defende que o Brasil está andando na direção certa.
"Em um mundo onde todos os principais mercados emergentes estão atormentados por altos níveis de corrupção, o Brasil tem provado que a elite política do país não está acima da lei", diz.
Segundo ele, essa é uma "vantagem crucial" para o futuro do país. "Em muitos países em desenvolvimento, governos usam campanhas 'anti-corrupção' não para eliminar a criminalidade, mas para se fortalecer no poder, atacando adversários e recompensando aliados", explica.
Colunista da "Folha de S.Paulo", Bremmer é doutor em ciência política pela Universidade Stanford e professor de política global na New York University, além de fundador e presidente do Eurasia Group, principal consultoria de risco político dos EUA.
"Influente nos meios políticos e intelectuais, introduziu o conceito de risco político no mercado financeiro e cunhou a expressão 'G-Zero' para se referir a um vácuo de poder no mundo, sem que nenhuma potência tenha vontade ou capacidade de pautar a agenda", explicou a "Folha" ao apresentar sua colaboração com o jornal.
Segundo Bremmer em seu artigo mais recente, "o Brasil enfrenta uma reviravolta política, e a incerteza continuará até este ano para a próxima eleição presidencial em outubro de 2018. No longo prazo, porém, os juízes e promotores brasileiros provaram que ninguém está acima da lei. Com o tempo, isso criará uma nação politicamente e economicamente estável, onde os cidadãos podem começar a ter mais confiança em seu governo."
A interpretação de Bremmer não é exatamente inédita. Têm sido comuns nos últimos meses as análises internacionais que veem as crises no Brasil como o processo de construção de um futuro com maior respeito às leis e regras. Estrangeiros frequentemente interpretam os escândalos de corrupção mais como uma demonstração da luta contra este tipo de crime na política do país do que como um indício de caráter nacional.
Este tipo de análise é comum dentro de textos sobre o fato de os escândalos parecerem não ter fim na política brasileira nas avaliações publicadas na mídia do resto do mundo. Para esses observadores externos, o lado positivo é que o atual escândalo poe dar fim à conivência entre as empreiteiras e o Estado.
Em janeiro de 2016, antes mesmo do impeachment de Dilma Rousseff, o brasilianista Matthew M. Taylor já dizia que era possível ver alguns pontos positivos em meio à grave crise. "A luta contra a corrupção tem sido lenta, mas traz efeitos revolucionários. A Operação Lava Jato está sendo eficiente em criar mecanismos para aumentar a transparência, além de gerar leis contra a corrupção", dizia então.
Antes disso, ainda em 2015, um editorial publicado pelo jornal norte-americano "The New York Times" defendeu que o país encontraria um lado positivo para seus problemas, até mesmo na política.
"Em meio às dores pelas quais os brasileiros estão passando neste momento, sua democracia e suas instituições jurídicas estão funcionando", dizia o texto assinado pelo colunista Joe Nocera, especialista em economia.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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