'Chacina' é a palavra mais assustadora do Brasil, diz 'Washington Post'
Daniel Buarque
25/11/2016 11h20
Estrangeiros costumam se referir à exclusividade da palavra "saudade" na língua portuguesa, intraduzível no resto do mundo. Mas uma outra palavra usada com frequência no Brasil é de difícil explicação para muitas pessoas em outros países, e é considerada a mais "assustadora do país", segundo o "Washington Post": é o termo "chacina".
"A palavra chacina vem do abate de porcos em matadouros, e significa literalmente massacre ou abate. Mas pergunte a qualquer brasileiro, e eles vão dizer que há um outro significado, mais perturbador", diz reportagem do jornal.
O texto explica então que o termo é usado para se referir a assassinatos em série pela polícia.
"Ao longo da história moderna do Brasil, a palavra chacina veio a se referir ao massacre de pessoas após a morte de um policial. A implicação é clara: chacina são assassinatos em represália pela polícia em uma escala assustadora", explica.
O texto do "Washington Post" se junta a uma série de referências internacionais sobre a violência no Brasil, um dos pontos mais marcantes da imagem do país no exterior. A polícia brasileira e a violência com que ela age contra os cidadãos são um dos mais fortes estereótipos do país no exterior. A isso, se junta a lentidão da Justiça, incapaz de reagir aos problemas de falta de segurança.
O que piora a situação, diz a reportagem, é que muitas vezes a chacina é legitimada pela opinião pública, que elogia os policiais e defende que "bandido bom é bandido morto".
Segundo o jornal, apesar de muitos dos mortos em massacres deste tipo serem supostos criminosos, é comum não haver uma relação clara das vítimas com grupos de bandidos.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.