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Eliane Brum: Disputa por imagem internacional é 'nostalgia do colonizador'

Daniel Buarque

26/04/2016 10h03

Eliane Brum: Disputa por imagem internacional talvez revele 'nostalgia do colonizador'

A escritora brasileira Eliane Brum analisa, em sua mais recente coluna no site em português do jornal espanhol "El País", a disputa pela narrativa internacional a respeito do processo de impeachment no Brasil.

Segundo ela, a busca por explicações na "imprensa estrangeira" para o que acontece no país talvez revele uma certa "nostalgia do colonizador". Haveria uma necessidade em se ver interpretado e explicado por quem nos vê de fora, em vez de os brasileiros criarem sua própria narrativa.

Esta interpretação externa e o interesse dos brasileiros pela imagem internacional do país são os temas que movem este blog Brasilianismo. Em uma análise recente, tratamos dessa "obsessão" nacional pelas análises estrangeiras.

O interesse dos brasileiros e a importância dessa imagem internacional também foram temas abordados no livro "Brazil, um país do presente", que trata da reputação do país no exterior. Lá, está explicado que o Brasil sempre valorizou estudos externos sobre sua realidade, e que a própria concepção de "país do futuro" veio de uma análise internacional.

Leia também: Em nova edição, livro analisa ascensão e queda da imagem do Brasil no mundo

A análise de Brum, que é escritora, repórter e documentarista, é interessante ao retomar o "complexo de vira latas" sob a ótica da "nostalgia do colonizador". "Há muitas razões e significados. Mas talvez exista também uma nostalgia do colonizador. Uma demanda de paternidade. Ou de autoridade. Digam vocês, os que sabem, o que acontece aqui. Deem-nos um nome", diz.

Em vez de rejeitar esta característica tão brasileira, ela faz uma proposta interessante, de que os brasileiros tentem se ocupar de criar sua própria narrativa.

Leia abaixo alguns dos principais trechos da coluna

Clique aqui para ler o texto de Eliane Brum completo no "El País".

"A narrativa construída por uma parte da imprensa brasileira sobre o momento mais complexo da história recente do país, a forma como essa parcela da mídia ocupa seu papel como protagonista, assim como as consequências dessa atuação, merecem toda atenção. Possivelmente muitos livros serão escritos sobre esse tema, as perguntas recém começaram a ser feitas. Nesse artigo, porém, quero seguir uma outra pista, que considero fascinante demais para ser perdida. Também não se trata aqui de analisar o que a imprensa de outros países disse de fato – e que está longe de ser homogêneo como se quer vender. Não se trata aqui "deles", mas de "nós"."

"A pista que investigo aqui parte da interrogação sobre o que significa levar a disputa narrativa ao território simbólico do grande outro, "o estrangeiro". E não qualquer estrangeiro, mas o que fala principalmente inglês, depois alemão e francês e espanhol (da Espanha, não da América Latina). E o que significa dar a essa entidade, chamada "imprensa estrangeira", a palavra para nomear o que aconteceu – e acontece – no Brasil."

"Que em vez disso nos lancemos em busca de que o outro nos nomeie, de que o outro diga o nome da coisa que se passa aqui, é bem revelador. Agora menos a Europa e mais os Estados Unidos, agora menos Paris e mais Nova York, agora menos Le Monde e mais New York Times. Como se diante da cena ainda por decifrar não fôssemos capazes de falar em nome próprio."

"O Brasil, este que nasce pela invasão dos europeus e promove primeiro o genocídio indígena, depois o dos negros escravizados – ambos ainda em curso, vale dizer –, nasce com a carta do português Pero Vaz de Caminha. Parte da nossa trajetória é narrada pelo olhar de viajantes notáveis, como o francês Auguste de Saint-Hilaire. O que se diz do Brasil, e que portanto o constitui como narrativa, é dito em língua estrangeira, como todo país que nasce da usurpação do corpo de um outro."

"Será sempre lost in translation enquanto não se encontrar o nome próprio. Enquanto o Brasil não falar em nome próprio. Enquanto o Brasil seguir insistindo em ser descoberto quando o que precisa é se inventar. Essa realidade é o cenário da extraordinária peça de Felipe Hirsch e Os Ultralíricos, A Tragédia Latino-Americana, em que os blocos são construídos para em seguida desabarem e serem rearranjados para logo depois virarem ruínas e tudo então ser mais uma vez reconstruído para desabar de novo e de novo e de novo."

"O que fazer diante do horror? Retomar a palavra, a que atravessa os muros. Enfrentar o desafio de construir uma narrativa, necessariamente polifônica, sobre o momento, em todos os espaços. Não desviando das contradições, para evitar que elas manchem a limpidez do discurso. Ao contrário. Abraçando-as, porque elas criam o discurso."

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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