'Folha': Para brasilianistas, impeachment gera estresse para a democracia
Daniel Buarque
18/04/2016 10h29
A "Folha de S. Paulo" publicou em seu site duas grandes reportagens sobre o impacto da aprovação do processo de impeachment de Dilma Rousseff na avaliação de observadores estrangeiros. Apesar de haver algumas divergências entre os brasilianistas, o sentimento geral é de que a decisão coloca um forte estresse na democracia brasileira, e pode gerar paralisia política. No longo prazo, entretanto, as instituições podem se mostrar ainda mais fortes.
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O impeachment é um passo para trás da democracia brasileira, explicou ao jornal o professor do Carleton College Alfred P. Montero, autor do livro "Brazilian Politics" (Política Brasileira). "Mas dar passos para trás para ajustar o caminho a ser seguido no longo prazo é algo comum em democracias", explicou.
"Mesmo sabendo que não há anjos nas instituições, o fato é que elas funcionam razoavelmente bem em resolver os conflitos da sociedade. O processo tem legitimidade, mesmo que muitos dos atores, não. Mesmo Cunha, com todos os seus problemas, seguiu as regras institucionais. Os políticos podem ser execrados, mas o processo foi correto", explicou Matthew M. Taylor, professor da American University, em Washington, DC.
O cientista político e diretor do Instituto Brasil do King's College de Londres, Anthony Pereira, se disse preocupado com o precedente aberto pela votação do impeachment. "Sem um argumento constitucional forte, a Presidência, que já não é muito forte, fica ainda mais enfraquecida", disse.
O codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, Mark Weisbrot, questiona esse desvio do presidencialismo. Para ele, o impeachment é um problema sério para a democracia e uma violação da Constituição. "O Brasil não tem um sistema parlamentarista. Não se pode mudar o presidente por ele ter baixa popularidade ou não ter força no Congresso", disse.
Para a João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria de risco político Eurasia, o Brasil deve se preparar para uma longa ressaca."A única coisa que podemos dizer com certeza é que, independente do resultado, será um longo 'day after'. O sistema político continuará sendo pressionado pela crise, com Temer ou com Dilma no comando. Ambos, portanto, terão dificuldades em fazer o país sair dessa paralisia", afirma Castro Neves.
Já Christopher Sabatini, professor na Universidade Columbia especializado na América Latina, é preciso agora esperar que "o Senado faça seu trabalho, e rápido, para que o país não fique num limbo".
Com ou sem Dilma, o Brasil continuará com dificuldades para voltar à estabilidade econômica, prevê Harold Trinkunas, chefe de América Latina no centro de estudos Brookings, em Washington. "A questão básica é se qualquer sucessor da presidente Dilma terá capital político para implementar as reformas necessárias para conduzir o Brasil a um crescimento sustentável", diz. "Isso parece improvável neste momento".
o analista Peter Schechter está otimista em relação à capacidade do país de reordenar o governo sob um eventual governo Temer. Para ele, a votação do impeachment simboliza "a falência da política no Brasil", mas também aponta para um período de trégua na instabilidade e a volatilidade dos últimos meses.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
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