Qualidade da imagem do Brasil no exterior despencou em 2015, diz pesquisa
Daniel Buarque
29/03/2016 09h21
O clima de desastre associado à imagem do Brasil no noticiário internacional ao longo dos últimos meses levou a uma deterioração aguda da imagem do país no exterior. A avaliação é o resultado da pesquisa "I See Brazil", estudo realizado pela agência de comunicação Imagem Corporativa, que busca medir as percepções externas em torno do país a partir do que se lê na mídia estrangeira e do que falam especialistas no assunto. Segundo o levantamento, 2015 foi "um ano para se esquecer".
"O retrato do Brasil como uma 'nova potência', 'economia emergente de destaque' e 'líder hemisférico' se desfez tão rapidamente quanto apareceu", diz o estudo mais recente, que acaba de ser publicado.
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O Estudo avaliou 1.908 reportagens sobre o Brasil publicadas no ano passado e indica que há nítido um interesse maior sobre assuntos ligados à economia (47,33% do total). Reportagens sobre política e a crise entre os poderes Executivo e Legislativo, além de escândalos de corrupção e ameaça de impeachment aparecem em segundo lugar, com 40,15% da cobertura internacional. Temas socioambientais encolheram para 12,53% do total.
A agência de comunicação analisa as reportagens sobre o Brasil publicadas em nove veículos internacionais de imprensa para criar o índice I See Brazil: os argentinos "Clarín" e "La Nación", o alemão "Der Spiegel", o espanhol "El País", os britânicos "Financial Times" e "The Economist", o francês "Le Monde" e os americanos "The New York Times" e "The Wall Street Journal".
Apesar de ser um importante retrato da imagem do país no resto do mundo, é importante ressaltar que o índice é revela uma flutuação que não atinge a essência da "marca Brasil", a reputação que o país tem consolidada na mente das pessoas no resto do mundo – com todos os seus clichês e estereótipos. Esta imagem mais aprofundada, estudada por acadêmicos que pesquisam "identidade competitiva", não costuma flutuar com tanta facilidade, e tem uma característica mais permanente.
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Em uma entrevista concedida no ano passado ao autor deste blog Brasilianismo, o consultor britânico Simon Anholt, principal referência em estudos de imagem internacional e "marca país", dizia que o acúmulo de notícias negativas não afetaria a reputação do Brasil. Por mais que o noticiário dê impressão de estarmos vivendo um desastre real, ele está apenas amplificando um discurso que pode não ter um efeito real sobre a imagem da nação. O consultor é o criador do Nation Brands Index (NBI), índice que avalia a imagem de 50 países, incluindo o Brasil, no resto do mundo.
Os dados mais recentes das pesquisas deste tipo deixam bem claro que as crises pelas quais o país vem passando não afetam a marca do Brasil. Divulgado em novembro do ano passado, já em meio às turbulências econômica e política e depois da perda de grau de investimento, o NBI mostrou que o Brasil na verdade subiu uma posição no ranking global de imagens de nações, e agora é o 20º país mais admirado do mundo. A mudança foi interpretada sem euforia, já que há muitos anos o Brasil costuma oscilar entre a 20ª e a 22ª posição no ranking global de 50 países – mas a manutenção do patamar em meio à crise mostra bem a estabilidade da imagem mesmo com todo o noticiário jogando contra.
Na entrevista, Anholt explicou que as imagens internacionais dos países não costumam sofrer mudanças radicais, e disse que os estereótipos têm grande potencial de se manter fortes na forma como o resto do mundo interpreta as outras nações. Todos esses levantamentos confirmam uma tendência positiva para a "marca Brasil", e o fato de que as crises internas, por piores que pareçam, não afetam a reputação do país no resto do mundo. A imagem do Brasil está muito ligada ao estereótipo de Brasil como país "mais decorativo de que útil", mais "simpático" do que "admirado", como Anholt costuma explicar. Isso porque o Brasil é visto como um "país de festa" e tem uma boa imagem em questões relacionadas a lazer e diversão, mas uma reputação fraca em assuntos sérios como política e economia.
Não se pode negar que há um impacto imediato do noticiário internacional sobre o país na forma como ele é visto no resto do mundo. A situação do Brasil é crítica, e o levantamento "I See Brazil" mostra isso. Mas é importante ter em vista o contraponto desta imagem mais fixa do país. Isso tudo indica que uma estabilização da política e da economia do Brasil no futuro pode retomar o otimismo internacional com o país, melhorando a avaliação que se faz sobre o Brasil no resto do mundo.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.