Anistia Internacional: 'Rápida no gatilho', polícia mata centenas no Rio
Daniel Buarque
03/08/2015 14h14
Um relatório da ONG Anistia Internacional indica que a polícia brasileira e autoridades ligadas ao governo usam a ideia de legítima defesa como "cortina de fumaça" para encobrir execuções extrajudiciais praticadas por agentes de segurança pública.
O relatório divulgado em diferentes países e em vários idiomas ajuda a reforçar uma imagem internacional de violência no Brasil, que já tinha ganhado destaque nos últimos meses a partir da divulgação de dados sobre homicídios no país. Reportagens sobre a questão de segurança pública costumam indicar a falta de segurança e o rotineiro desrespeito aos direitos humanos no país.
"A Polícia Militar do Rio de Janeiro parece seguir uma estratégia de 'atirar primeiro, perguntar depois' e está contribuindo para o aumento do número de homicídios, apesar de raramente ser investigada", diz a apresentação do relatório na página da (AI).
Segundo o estudo intitulado "Você matou meu filho! – Homicídios cometidos pela polícia militar na cidade do Rio de Janeiro", cerca de 16% do total de assassinatos registrados na capital fluminense nos últimos cinco anos ocorreram em decorrência de ações da polícia, mas apenas um caso chegou a ser denunciado à Justiça, o que indica um alto índice de impunidade.
Somente no estado do Rio de Janeiro foram registrados 8.466 casos de mortes decorrentes de intervenção policial entre 2005 e 2014. Após analisar homicídios praticados pela polícia entre 2014 e 2015 na favela de Acari, no Rio de Janeiro, entrevistar vítimas, familiares e testemunhas, além de coletar detalhes sobre cenas dos crimes, registros de ocorrência, atestados de óbito, e inquéritos policiais, o relatório da Anistia Internacional indica a existência de fortes indícios de execuções extrajudiciais e um padrão de uso desnecessário e desproporcional da força pela Polícia Militar.
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou considerar "injusta" e "temerária" a divulgação do relatório. Para o secretário, a capa do estudo da Anistia Internacional "já cria um estigma antecipado do policial". Beltrame disse entender que, atualmente, no Rio, os níveis de criminalidade estão caindo.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
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