Deu no 'Valor': Ajuste melhora credibilidade do Brasil no exterior
Daniel Buarque
22/06/2015 20h55
O jornal "Valor Econômico" publicou nesta segunda-feira (22) uma reportagem e uma entrevista escritas pelo autor deste blog do Brasilianismo a respeito da imagem internacional da economia brasileira. Na avaliação de analistas estrangeiros, os ajustes econômicos por que o Brasil vem passando recolocaram o país no rumo certo, e a economia vai voltar a se recuperar a partir de 2016. A interpretação é de dois acadêmicos, do editor da revista "The Economist" e de três analistas de mercado.
Leia a reportagem completa no "Valor".
Uma das avaliações mais interessantes é a do pesquisador Werner Baer. Entrevistado em 2010 como parte da pesquisa para escrever o livro "Brazil, um país do presente", Baer foi o único, de uma centena de analistas, que se dizia cético em relação ao potencial do Brasil. Em um momento de clara euforia internacional, ele se dizia até mesmo preocupado com baixo investimento no país. O curioso é que isso se inverteu. Agora que o Brasil está em crise, Baer avalia que o país "voltou à realidade", e que tem um potencial maior de acertar sua economia de que tinha enquanto o mundo via o país com empolgação.
Leia abaixo alguns trechos da reportagem e da entrevista de Baer.
"Quase seis meses depois do início do segundo mandato de Dilma Rousseff, e das mudanças na política econômica que abriram espaço para o ajuste fiscal, observadores estrangeiros começam a deixar de lado a imagem de que a economia brasileira é um problema. Segundo acadêmicos e analistas de mercado, o mundo já começou a ver com menos pessimismo o cenário para o futuro do país.
Na opinião de pesquisadores internacionais que se debruçam sobre a realidade brasileira, a presença de Joaquim Levy no comando da Fazenda desde 5 de janeiro é um "símbolo dramático" da mudança de rumo do país. A partir de então, viu-se que o Brasil deixou de lado uma política intervencionista, que afastava investidores estrangeiros, e que agora o país trabalha para reconquistar a confiança global – o que está começando a alcançar.
"O Brasil não é mais pensado como um caso problemático, em que o governo está no caminho errado, praticando políticas do passado. Hoje a visão é de que o país ficou mais realista e mais pragmático, menos ideológico economicamente. Estes sinais estão chegando ao resto do mundo", disse Edmund Amman, professor da universidade de Manchester, que estuda infraestrutura e atualmente prepara um livro sobre os gargalos do crescimento econômico brasileiro.
Para Werner Baer, professor da Universidade de Illinois especializado em economia brasileira, a crise teve o efeito positivo de a trazer o Brasil de volta à realidade, deixando de lado o otimismo exagerado de alguns anos antes. "A combinação de novas medidas com o fato de que temos um ministro da fazenda bem conservador, que está colocando ordem na casa, mesmo com bastante sacrificio no curto prazo, vai aumentar a confiança de investidores no Brasil e fora do país, e isso pode levar a um aumento do crescimento em um ano ou dois", disse.
O mercado internacional tem uma avaliação parecida, mas mais cautelosa. Para analistas atuando em bancos e consultorias fora do país, o Brasil mudou de direção e começa a navegar em um sentido mais positivo, mesmo que lentamente. O pessimismo maior passou, mas a situação está longe de otimismo e há a cobrança por mudanças estruturais mais fortes para que o país possa realmente alcançar seu potencial de crescimento.
"Já passamos o momento de maior pessimismo em relação ao Brasil", disse Aryam Vázquez, economista sênior da Oxford Economics. "Três ou quatro meses atrás, as pessoas falavam sobre o Brasil com o tom de fim do mundo. Recessão, inflação, caos político, escândalo da Petrobras, tudo ia mal, mas agora já nos afastamos desse cenário e vemos estabilidade. Ainda há muitos problemas, mas o país está no caminho certo", completou.
De acordo com o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing, é importante ressaltar que o processo de reconquista da credibilidade é um processo lento, e que tem enfrentado desafios. "Ainda é um caso de dois passos adiante e um passo para trás", disse, em referência à dificuldade do governo em projetos como o da desoneração fiscal. "A economia do Brasil ainda vai sofrer muito neste ano, mas, do ponto de vista dos mercados financeiros, as piores notícias ficaram passado", disse.
Mesmo com as dificuldades, os analistas concordam que houve uma mudança na forma como o Brasil é interpretado no exterior. "No ano passado, depois das eleições, havia um grande pessimismo. Não se tinha a clareza que se tem hoje sobre quão crítica estaria a situação se não fossem os ajustes. A coisa está feia, e poderia estar muito piores se não fossem os ajustes", disse Bruno Rovai, do banco Barclays. Para ele, é inegável que as mudança do time econômico representou uma mudança de atitude do governo e deu um maior otimismo aos investidores. "O que há agora é um choque de realidade", disse."
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Baer vê horizonte melhor de que em 2010
O Brasil real está longe do otimismo eufórico que o mundo tinha em relação a sua economia na virada da década, mas também distante do pânico que tomou conta de investidores entre o fim do ano passado e o início deste. Na avaliação do brasilianista Werner Baer, professor de economia da Universidade de Illinois, o atual momento de ajustes ajuda a recuperar a força que o país pode ter e traz o país de volta à realidade, sem otimismo ou pessimismo exagerados.
Baer é especializado no processo de industrialização e nas privatizações que aconteceram no Brasil e na América Latina. Entre 2009 e 2010, quando a revista "The Economist" transformou o Cristo Redentor em foguete, em alusão ao Brasil que "decolava" em sua capa, o pesquisador era um dos poucos observadores estrangeiros que dizia ainda desconfiar das perspectivas do país. Agora, enquanto o país se esforça para recuperar a credibilidade perdida, ele se diz mais otimista, e nega qualquer motivo para pânico.
Valor – A economia brasileira perdeu credibilidade nos últimos anos, e o país corre risco de rebaixamento pelas agências de risco. Há motivos para desespero?
Werner Baer – Não vejo nenhum motivo para pânico. Faço um paralelo entre a situação atual e a primeira eleição de Lula, quando o mercado internacional também ficou em pânico e o real foi desvalorizado, mas aí Lula indicou [Antônio] Pallocci para a Fazenda, as coisas começaram a funcionar, e o Brasil teve um crescimento substancial, ainda que não tenha sido espetacular.
Fui pessimista em relação ao Brasil em 2010, quando a imagem do país ia bem, e, infelizmente, estava certo. Tinha muitas dúvidas em relação à economia brasileira, especialmente por conta da baixa taxa de investimentos e a fraca infraestrutura do país.
As pessoas perdem a perspectiva histórica. Acredito que este ano vai ser difícil, com crescimento negativo, enquanto os ajustes acontecem, mas, se o governo mantiver essas políticas, o crescimento vai voltar em um ano ou dois.
Valor – Estar em uma crise hoje garante um futuro melhor para o Brasil, portanto?
Baer – Estou mais otimista em relação ao Brasil hoje de que em 2010. A crise trouxe o Brasil de volta à realidade. Assim como aconteceu no início do governo Lula, a indicação de Joaquim Levy mostra ao mundo que o Brasil pode agir de forma realista. Se for politicamente possível manter o ajuste e fazer os sacrifícios por um ano ou dois, as coisas vão melhorar no país.
A combinação da desvalorização do real com o fato de que temos um ministro da fazenda bem conservador, que está colocando ordem na casa, vai aumentar a confiança de investidores no Brasil e fora do país, e isso pode levar a um aumento do crescimento.
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.