Com 'legado desastroso', Copa continua afetando a imagem do Brasil no mundo
Daniel Buarque
19/05/2015 11h09
Depois da festa, a ressaca.
Quase um ano depois do fim da Copa do Mundo no Brasil, o torneio continua afetando a imagem internacional do país – quase sempre de forma negativa. Dezenas de reportagens publicadas pela imprensa internacional nas últimas semanas destacam o abandono dos estádios construídos para o evento e o "legado desastroso" que a competição deixou.
Segundo a mídia estrangeira, o torneio teve gastos absurdos e criou "elefantes brancos", que agora sediam festas de criança e são usadas até mesmo como estacionamento, enquanto o Brasil se afunda em uma crise política e econômica (sem falar do futebol, que não avançou e vem enfrentando novos escândalos). Em vez de ajudar a promover a imagem de um país moderno, a competição serviu para reforçar uma reputação negativa do Brasil, já criando um clima igualmente pesado para as Olimpíadas do próximo ano.
Dois estudos citados por este blog Brasilianismo neste mês mostraram que a imagem do Brasil ganhou um grande impulso em sua projeção internacional por conta da Copa do Mundo de 2014, e que a avaliação final foi de que o evento havia sido a maior festa de futebol já registrada.
Esses mesmos estudos mostravam também que a maior parte da cobertura jornalística no resto do mundo tinha tom negativo. Uma das análises mostrou que os jornais de EUA, Inglaterra, Espanha e França tiveram tom crítico em relação aos gastos do país e aos protestos, enquanto outra apontou que a BBC usou viés negativo problemas como a violência, o atraso nas obras, a epidemia de dengue e a falta de água.
Segundo a rádio pública dos EUA NPR, depois da imensa festa da Copa, o Brasil agora tem que lidar com a ressaca "na forma de estádios 'elefantes brancos' e de projetos inacabados de infraestrutura", diz a reportagem publicada em seu site.
"O estádio mais caro da Copa do Mundo – localizado na capital, Brasília, e com uma etiqueta de US$ 550 milhões – está sendo usado como estacionamento de ônibus."
A rede americana Fox News partiu dos gastos para apontar os problemas. "O desperdício de US$ 3,4 bilhões", diz uma chamada do site latino da rede.
"Os estádios da Copa do Mundo no Brasil estão sendo usados para festas infantis, como estacionamento de ônibus e abrigo de invasores sem teto", diz o título da reportagem.
A Fox destaca que estádios foram construídos em cidades que não têm tradição no futebol, e que acabam sem uso e viram "o que muitos críticos do torneio de futebol previam: um elefante branco caro demais para ser mantido pelo estado e que tem pouco propósito agora que o torneio deixou a nação sul-americana", diz.
Os estádios da Copa do Mundo são um "símbolo dos gastos exagerados e do legado desastroso da organização do torneio".
Maio foi o mês de a imprensa estrangeira destacar o legado negativo da copa. Logo no início do mês, uma reportagem da agência Associated Press (AP) foi publicada por dezenas de veículos em inglês, incluindo o "New York Times". "Estádios da Copa do Mundo deixam um legado problemático no Brasil", dizia o título.
"O Brasil gastou bilhões de dólares renovando e construindo estádios da Copa do Mundo que deveriam ajudar a modernizar e melhorar o futebol local. Quase um ano depois do fim do torneio, o país ainda está tentando decidir o que fazer com eles", dizia a AP.
As reportagens publicadas por agências e sites em inglês logo foram traduzidas e republicadas. Uma busca no Google mostra resultados iguais para textos em espanhol, francês, italiano e alemão.
Segundo a revista de economia "Business Insider", a Copa não mudou muito no país, e pode até ser apontada como responsável por piorar ainda mais os problemas fiscais do Brasil, acelerando os problemas econômicos pelos quais passa atualmente. "Em vez de torrar dinheiro em estádios grandiosos e corrupção, o Brasil deveria ter investido em projetos de infraestrutura", diz.
Segundo a publicação, em vez me melhorar a situação do país, a Copa e as Olimpíadas podem jogar o Brasil numa crise ainda maior. "Esta é a maldição desses eventos gloriosos. As olimpíadas foram o chute final que empurraram a Grécia no abismo. No próximo ano, Os Jogos de Verão vão acontecer… no Rio de Janeiro."
Sobre o Autor
Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.
Sobre o Blog
O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.