A morte de Eduardo de Jesus, de apenas 10 anos de idade, em uma ação da polícia no Rio de Janeiro gerou protestos no Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, e passou a reforçar internacionalmente a imagem de violência da cidade que mais representa o Brasil no imaginário internacional.

A violência é um dos clichês mais fortes e mais negativos da imagem internacional do Brasil, e um dos assuntos mais abordados pela mídia internacional na cobertura da Copa do ano passado e na discussão com a expectativa para as Olimpíadas do próximo ano.

Apesar de a associação mais tradicional ter sido com a violência do crime e de quadrilhas fora da lei, nos últimos anos tem sido reforçada no resto do mundo a imagem de uma polícia truculenta, que reage fortemente contra a população.

No caso da Copa do Mundo, conflitos sociais e enfrentamentos com a polícia em manifestações de rua foram o estereótipos mais frequentes em relação ao país na imprensa internacional, mais até mesmo de que a ideia de que o Brasil é o "país do futebol", segundo dados levantados durante minha pesquisa de mestrado no King's College de Londres, no ano passado.

A recente notícia da morte da criança com um tiro de fuzil na porta da casa dos pais, e dos subsequentes protestos, ganharam destaque nos principais veículos de comunicação do mundo, com reportagens de correspondentes locais e de agências de notícias – o que reforça a imagem negativa da cidade e do país.

Em textos em inglês, francês, espanhol, alemão e até chinês, discute-se a violência na capital fluminense, sempre com destaque ao fato de que a cidade vai receber os Jogos Olímpicos no próximo ano. O jornal alemão "Süddeutsche Zeitung", por exemplo, deu grande destaque ao fato de que a polícia usou gás lacrimogêneo contra manifestantes.

"A polícia brasileira vem realizando operações em favelas do Rio em que há suspeitas de haver traficantes de drogas. O programa foi iniciado para retirar dali grupos armados antes da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016", diz um dos textos em inglês.

"Ativistas de direitos humanos acusam a polícia do Rio de embarcar em uma política de extermínio sem nenhuma intenção de prender os traficantes", complementa.

"Os mortos são inocentes. São crianças e idosos que estavam dentro de suas casas", disse uma testemunha, citada em inglês pela rede Sky News.

É verdade que a mídia internacional apenas amplifica e divulga algo que existe de fato na realidade brasileira, e que a violência afeta muito mais as suas vítimas diretas e os moradores das favelas onde as ações acontecem. Vale ressaltar, entretanto, que a cobertura atual volta a destacar a violência, reforçando em todo o mundo uma imagem negativa do Brasil no resto do mundo – e que isso vai ser um dos principais assuntos em debates sempre que se falar sobre o papel que o país quer ter ao receber eventos de relevância global e mesmo o papel que quer ter nas relações internacionais.