Imagem internacional do Brasil – Brasilianismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br Daniel Buarque é jornalista e escritor com mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute do King's College de Londres. Fri, 31 Jan 2020 12:20:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Destruir Amazônia é a forma mais rápida de o Brasil ser desprezado no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/10/05/culpar-midia-por-imagem-negativa-e-o-que-ditadores-fazem-diz-especialista/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/10/05/culpar-midia-por-imagem-negativa-e-o-que-ditadores-fazem-diz-especialista/#respond Sat, 05 Oct 2019 07:00:02 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5931 Segundo Simon Anholt, o mundo confia mais na mídia internacional do que em Bolsonaro, e os ataques à imprensa na ONU fazem o presidente parecer culpado e desesperado. Especialista em imagem internacional de países, ele diz que Bolsonaro está ‘brincando com fogo’ e fazendo o oposto do que deveria para melhorar a reputação do Brasil. Em entrevista, Anholt diz que o tipo de nacionalismo beligerante que vê no presidente brasileiro está desatualizado em três décadas, e a opinião pública internacional punirá severamente o Brasil por isso.


O ataque de Jair Bolsonaro contra a imprensa internacional durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU deve gerar um efeito contrário ao esperado pelo presidente brasileiro. Em vez de melhorar sua imagem e a do Brasil, pode gerar uma reação adversa.

Segundo Simon Anholt, consultor britânico especialista em imagem internacional de países, a tentativa de culpar a mídia estrangeira pela imagem negativa gerada pelos incêndios na Amazônia pode piorar ainda mais a reputação do Brasil.

“As pessoas confiam muito mais na mídia internacional do que em políticos estrangeiros, então esse tipo de afirmação o faz parecer culpado e desesperado. Todo mundo sabe que culpar a mídia é o que os ditadores fazem”, avaliou Anholt em entrevista ao blog Brasilianismo.

Anholt é um dos mais experientes especialistas em percepção internacional sobre diferentes países, e frequentemente analisa a reputação do mundo sobre o Brasil. Ele foi responsável pela criação do termo “nation branding”, usado para designar estudos que avaliam a imagem internacional de diferentes países como se fossem marcas (depois mudado para se chamar “competitive identity”). Anholt também desenvolveu um dos principais levantamentos globais para medir essas imagens de nações (o Nation Brands Index) e prestou consultoria a vários governos sobre formas de melhorar a imagem dos seus países.

Atualmente, o principal projeto dele é Good Country Index, índice em que promove a ideia de que os países precisam ter uma postura positiva para todo o planeta. Segundo ele, as queimadas da Amazônia também devem afetar a posição do Brasil nesse ranking.

Na entrevista abaixo, Anholt diz que a propagação de imagens dos incêndios que estão destruindo a Amazônia é a maneira mais rápida e segura de o Brasil se tornar um país desprezado internacionalmente.

“Os países que as pessoas mais admiram são os que conseguem cuidar de seu próprio povo e seu próprio território, respeitando as pessoas e o território fora de suas próprias fronteiras. Bolsonaro está, literalmente, brincando com fogo fazendo exatamente o oposto. Esse tipo de nacionalismo beligerante está desatualizado em cerca de 30 anos, e a opinião pública internacional –o que chamei de “a última superpotência restante”– punirá severamente o Brasil por isso”, disse.

Brasilianismo – Em seu discurso na Assembléia Geral da ONU, Bolsonaro rejeitou toda a cobertura negativa sobre o Brasil e a Amazônia e culpou a mídia internacional pela crise da imagem. Uma posição como essa tem alguma chance de convencer a opinião de pessoas de outros países?
Simon Anholt – Não, discursos na ONU e culpar a mídia internacional estão piorando as coisas. Como um todo, as pessoas confiam muito mais na mídia internacional do que em políticos estrangeiros, então esse tipo de afirmação o faz parecer culpado e desesperado. Todo mundo sabe que culpar a mídia é o que os ditadores fazem.

A única maneira de Bolsonaro reparar a imagem do Brasil é aceitar que existe um problema e resolvê-lo rapidamente. Como todos os líderes de hoje, ele precisa trabalhar para harmonizar suas responsabilidades domésticas e internacionais, em vez de desafiá-las.

Na verdade, se ele realmente quisesse melhorar sua imagem e a de seu país agora, ele poderia fazer algo que nenhum presidente jamais fez: ele poderia admitir que estava errado, pedir desculpas às crianças do mundo e prometer mudar. O impacto disso seria verdadeiramente dramático.

Toda a minha pesquisa nos últimos 15 anos mostra que os países que as pessoas mais admiram são os que conseguem cuidar de seu próprio povo e seu próprio território, respeitando as pessoas e o território fora de suas próprias fronteiras. Bolsonaro está, literalmente, brincando com fogo fazendo exatamente o oposto. Esse tipo de nacionalismo beligerante está desatualizado em cerca de 30 anos, e a opinião pública internacional –o que chamei de “a última superpotência restante”– punirá severamente o Brasil por isso.

Brasilianismo – A cobertura negativa que a imprensa internacional tem feito sobre Bolsonaro pode realmente mudar a imagem do Brasil no mundo?
Simon Anholt – Sim, pode. Provavelmente não de forma permanente, mas atrapalha muito no momento, uma vez que minha principal pesquisa de opinião global, o Anholt-Ipsos Nation Brands Index, mostra que a imagem internacional do Brasil já foi enfraquecida bastante pela Copa do Mundo e pelas Olimpíadas.

A boa vontade que restou foi um sentimento caloroso em relação ao Brasil como guardião amigável da Amazônia (que, apesar do que Bolsonaro diz, é vista como pertencendo à humanidade, não ao governo brasileiro), e se você tirar isso, ameaça causar danos sérios e de longo prazo à reputação do país. E a reputação, como mostram décadas de pesquisa, tem um grande impacto no turismo, investimento estrangeiro, exportações, relações culturais e diplomáticas.

Brasilianismo – Os incêndios na Amazônia trouxeram uma visibilidade muito negativa para o Brasil em todo o mundo. Um diplomata brasileiro argumentou que eles representam um retrocesso de 50 anos para a imagem do Brasil. O que você acha disso? 
Simon Anholt – Infelizmente, suspeito que isso esteja correto, embora 50 anos possam ser um exagero. Mas esses incêndios são “feitos para o vídeo” e têm um impacto verdadeiramente dramático na TV e nas mídias sociais. Depois de ver as florestas tropicais pegando fogo, você não esquece. Essa é a maneira mais rápida e segura de o Brasil ser desprezado internacionalmente.

Brasilianismo – Em entrevista, você disse que é raro um presidente prejudicar a imagem de um país no longo prazo. Com o que está acontecendo com Bolsonaro, os incêndios na Amazônia e uma cobertura muito negativa na mídia global, podem afetar a imagem de todo o país ou ele será o foco dessa imagem negativa? 
Simon Anholt – No geral, as imagens dos países são muito estáveis ​​e raramente mudam de ano para ano, mas quando o país é personificado por um líder com alto perfil internacional –positivo ou negativo–, esse é um dos poucos casos em que a imagem do país pode mudar rapidamente. Nelson Mandela e África do Sul, e Donald Trump nos EUA, são bons exemplos disso.

Brasilianismo – Uma crise como essa muda a maneira como o país aparece destaque no índice The Good Country? O Brasil é “menos bom” para o mundo por causa de incêndios como esses?
Simon Anholt – Sim, terá um impacto nas pontuações do Brasil no devido tempo, uma vez que o desmatamento e as emissões de CO2 estão entre os 35 indicadores que produzem a classificação geral de cada país no Índice de Bom País.

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Crise na Amazônia é um problema de imagem para o Brasil e para Bolsonaro http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/24/crise-na-amazonia-e-um-problema-de-imagem-para-o-brasil-e-para-bolsonaro/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/24/crise-na-amazonia-e-um-problema-de-imagem-para-o-brasil-e-para-bolsonaro/#respond Sat, 24 Aug 2019 09:40:34 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5794

Em meio a uma grande pressão internacional contra a atuação do governo brasileiro em relação aos incêndios da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro, seus apoiadores e o Ministério das Relações Exteriores se apressaram em tentar minimizar as críticas externas.

Em um dos argumentos principais, alegam que as queimadas atuais não são tão piores do que as do passado, e falam de exagero dos estrangeiros e interesses contrários à soberania brasileira na Amazônia.

A agência de notícias Reuters noticiou que o governo distribuiu uma circular de 12 páginas instruindo embaixadas do Brasil a defender a posição do governo na crise atual.

A Embaixada do Brasil em Londres, por exemplo, publicou no Facebook um gráfico mostrando que a média de queimadas neste ano está abaixo do registrado por duas décadas.

Em entrevista a um programa na TV francesa France 24, o embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, afirmou que no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve incêndios muito mais graves na Amazônia, mas que isso não foi divulgado.

Este discurso oficial em defesa do governo ignora dois pontos centrais que podem ajudar a entender a imensa dimensão tomada pela crise atual –e a explicar por que o argumento não funciona.

Por um lado, o mundo vive um contexto ambiental diferente, em que governos estrangeiros estão sendo cada vez mais pressionados a terem uma postura mais sustentável –o que incentiva a retórica de governantes estrangeiros contra o Brasil. É ligado a isso que a mídia estrangeira fala em “tipping point”, ponto de virada irreversível da destruição da Amazônia, após o qual pode ser tarde demais para se preocupar com as mudanças climáticas no mundo.

Por outro lado, os incêndios ocorrem na esteira de uma deterioração da imagem internacional do país por conta da postura pública do presidente Jair Bolsonaro —criticado no exterior desde a eleição do ano passado, e apontado  como responsável pela deterioração da reputação do Brasil.

Sem diminuir a preocupação real com o ambiente que existe em todo o mundo por conta das queimadas, o problema não é só o fogo na floresta. O problema é que o fogo na floresta ocorre menos de um ano depois da eleição de um presidente que é visto no mundo como alguém que deu inúmeras declarações indicando seu desprezo pelo ambiente e que agiu em linha com esta postura. Um presidente que, em uma de suas primeiras decisões no governo, determinou a retirada da candidatura do Brasil a ser sede da COP-25, a conferência anual da ONU para negociar a implementação do Acordo de Paris, e que chegou até mesmo a ameaçar abandonar o acordo totalmente.

Grande parte da imprensa e dos analistas internacionais se apressaram em apontar a culpa de Bolsonaro nos incêndios atuais. Não que ninguém ache que o presidente foi até a floresta dar início ao fogo, mas a imagem construída é a de um governante sem nenhum compromisso com a proteção da floresta. Essa imagem foi construída desde antes de Bolsonaro tomar posse como presidente, e vem dominando o noticiário internacional.

Para muitos analistas internacionais, Bolsonaro se coloca há meses como alguém que permite a livre destruição da Amazônia. Bolsonaro é visto como um presidente que nega os dados de desmatamento, que demite cientistas engajados em monitorar a floresta, que reduz as medidas de proteção da floresta, que rejeita ciência, que defende a exploração mais intensa do território da floresta, que protege quem desmata, que critica ONGs preocupadas com o ambiente e até as acusa de serem responsáveis pelos incêndios, que propaga teorias da conspiração, que desdenha de apoio financeiro de países estrangeiros para proteger a floresta, que ataca gratuitamente outros países que se mostram preocupados com a Amazônia.

Bolsonaro é visto no mundo como alguém que atuou diretamente no esvaziamento de agências que trabalhavam com a proteção das florestas e ao mesmo tempo incentivou a exploração econômica das áreas de florestas. A combinação levou ao aumento das queimadas, que são vistas agora como fora de controle e “crise global”. Daí ele ser visto como responsável pelo fogo. Daí a situação atual ser tão diferente da vivida por outros presidentes que enfrentaram queimadas grandes na Amazônia no passado.

O problema, em resumo, não é só o fogo, mas a imagem construída pelo presidente antes e durante os incêndios. Isso é diferente do que houve em governos anteriores. Não fosse essa imagem de um presidente que permite a destruição da floresta, talvez a reação do resto do mundo não fosse tão ampla.

Não adianta o governo agora dizer que os incêndios não são tão ruins assim. Não adianta Bolsonaro agora dizer que se preocupa com o ambiente. A imagem construída pelo presidente para o seu governo e para o país administrado por ele é de um Brasil que não se preocupa com a Amazônia. É a isso que o mundo todo está reagindo.

A crise atual é um caso muito interessante para estudos a respeito de reputação e diplomacia (como a pesquisa que venho desenvolvendo em meu doutorado no King’s College London). Governos como o da França e de outros países da Europa estão tomando atitudes políticas com base nessa imagem construída pelo governante brasileiro para o país.

A imagem nem sempre é reflexo preciso da realidade. Muitas vezes vem como fotografias que não representam o que acontece no país, e se apega muito a metáforas equivocadas como a Amazônia como “pulmão do mundo”. Ainda assim, é uma imagem que tem um motivo para existir, e que tem efeitos reais sobre a diplomacia, a política e a economia do Brasil.

A questão ambiental é fundamental e vem ganhando relevância, mas, na situação atual, a percepção externa sobre a postura, as declarações e as ações do presidente tem extrema importância para a definição de relações diplomáticas –e tentar mudar isso agora pode ser tarde.

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Segundo jornal inglês, falas de Bolsonaro afetam o lugar do Brasil no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/19/segundo-jornal-ingles-falas-de-bolsonaro-afetam-o-lugar-do-brasil-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/19/segundo-jornal-ingles-falas-de-bolsonaro-afetam-o-lugar-do-brasil-no-mundo/#respond Mon, 19 Aug 2019 08:11:57 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5732

A incapacidade do presidente Jair Bolsonaro de controlar o que fala está começando a ter impacto no lugar do Brasil no mundo, diz uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian nesta segunda-feira.

“O presidente do Brasil tem sido notório por suas declarações odiosas e homofóbicas –ele uma vez proclamou que preferiria um filho morto a um filho gay. Mas mesmo pelos padrões loquazes de Bolsonaro, as últimas semanas foram notáveis”, diz o jornal.

O Guardian lista declarações recentes de Bolsonaro sobre violência, sobre a eleição na Argentina e especialmente sobre o desmatamento da Amazônia. Além disso, discute a fixação do presidente sobre temas escatológicos. Tudo isso, diz o jornal, afeta a imagem do país no resto do mundo.

Segundo a publicação, muitos eleitores do presidente apoiam o jeito falastrão dele, e um especialista ouvido pelo jornal diz que declarações polêmicas fazem parte da tática política do presidente. Ainda assim, a reportagem diz que a estratégia cria desastres de relações públicas e podem criar problemas políticos e econômicos para o país.

“Por que qualquer país gostaria de lidar com um segundo Trump? Você é obrigado a lidar com um Trump porque são os Estados Unidos. Mas não há razão para lidar com um segundo Trump. O Brasil simplesmente não é tão importante… Não somos essenciais ”, diz um entrevistado citado pelo jornal.

A avaliação do Guardian se alinha a críticas que vêm sendo publicadas na Alemanha. O colunista da Folha Nelson de Sá relata que dois dos principais veículos alemães, a revista Der Spiegel e o jornal semanal Die Zeit, publicaram que “É hora de sanções contra o Brasil”.

“A Europa não deve ficar de braços cruzados enquanto um preconceituoso cético da ciência, movido pelo ódio, sacrifica vastas áreas de floresta para pecuaristas e plantações de soja”, diz a revista.

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Imagem do Brasil é a mais deteriorada desde a ditadura, diz correspondente http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/07/22/imagem-do-brasil-e-a-mais-deteriorada-desde-a-ditadura-diz-correspondente/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/07/22/imagem-do-brasil-e-a-mais-deteriorada-desde-a-ditadura-diz-correspondente/#respond Mon, 22 Jul 2019 13:12:00 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5649

“Desde os tempos da ditadura militar, nunca a imagem do Brasil no mundo se encontrou tão deteriorada como hoje”, avalia o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do jornal El País no Brasil, em um artigo publicado no site do jornal (tanto em espanhol quanto em português).

Segundo Arias, a reputação internacional do Brasil sob o presidente Jair Bolsonaro está deturpada, rompendo com a diplomacia séria do passado, que era “preparada e de paz e não de guerra” e que era reconhecida e respeitada no resto do mundo, projetando um “rosto amável, festivo e multicultural do Brasil”.

A avaliação dele é corroborada cotidianamente pela cobertura que a imprensa internacional faz do que acontece no país, destacando escândalos e declarações do presidente, frequentemente descrito como extremista e autoritário. O próprio El País tem feito uma cobertura muito crítica do que vem acontecendo no Brasil.

Além da mídia, analistas também têm visto problemas no posicionamento externo do país, percebido como dando as costas para o resto do mundo, e já há especialistas apontando o risco do novo governo para o soft power brasileiro.

Arias critica a política externa do novo governo brasileiro, e diz que o país precisa retornar a uma postura pacífica nas suas relações com o resto do mundo.

“Não parece que no Brasil de hoje a diplomacia que se quer implantar seja a da paz. É a do confronto, guiada por diplomatas que querem que o país volte às teocracias do passado dando mais importância à Bíblia do que à Constituição”, diz.

Para Arias, o Brasil está em uma encruzilhada e precisa que seus diplomatas atuem para garantir a manutenção da democracia. Segundo ele, essa atuação pode fazer com que a deterioração da imagem do Brasil não seja permanente. “Os governos passam e o país, em seu interior, é sempre melhor do que as caricaturas apresentadas pelos políticos”.

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Bolsonaro ‘pulverizou’ Itamaraty e danificou imagem do Brasil, diz Guardian http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/06/25/bolsonaro-pulverizou-itamaraty-e-danificou-imagem-do-brasil-diz-guardian/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/06/25/bolsonaro-pulverizou-itamaraty-e-danificou-imagem-do-brasil-diz-guardian/#respond Tue, 25 Jun 2019 09:30:10 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5604

Em seis meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro “pulverizou” a política externa brasileira e está desfazendo o Itamaraty, uma instituição que era considerada “uma das joias” de Estado da América Latina, diz uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian.

A publicação diz que diplomatas brasileiros estão horrorizados com o processo de mudança no Ministério de Relações Exteriores sob o novo governo, e que isso ameaça tudo o que levou o Brasil a se tornar um líder na luta global contra a mudança climática e um peso pesado do soft power.

“Desde que o líder da extrema direita assumiu o cargo em janeiro, sua equipe de política externa começou a pulverizar décadas de tradição diplomática: abraçou os nacionalistas de direita, incluindo Donald Trump, Steve Bannon e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán; irritou a China e descartou sua posição de líder da crise climática; enfureceu parceiros de longa data do Oriente Médio ao abraçar Israel de Benjamin Netanyahu e ameaçar transferir a embaixada do Brasil para Jerusalém”, resume o jornal.

O Guardian cita alguns dos mais renomados diplomatas do Brasil e alega que há uma frustração generalizada com a “mudança dramática” promovida pelo chanceler Ernesto Araújo.

“As queixas dos diplomatas tocam praticamente em todas as áreas da nova política externa do Brasil, desde a excessiva aproximação de Bolsonaro com Trump, até sua hostilidade à China e os danos que sua retórica causou ao soft power brasileiro”, explica.

Segundo o jornal, a atuação de Bolsonaro danifica a imagem internacional do Brasil e cria uma situação na qual o país tem pouco a ganhar na sua relação com o resto do mundo.

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Brasil tem imagem externa de ter política disfuncional e ser ingovernável http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/brasil-tem-imagem-externa-de-ter-politica-disfuncional-e-ser-ingovernavel/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/05/18/brasil-tem-imagem-externa-de-ter-politica-disfuncional-e-ser-ingovernavel/#respond Sat, 18 May 2019 13:04:53 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5519

Ilustração publicada pela revista The Economist em reportagem sobre crises no Brasil

A ideia de que o Brasil é um país “ingovernável” e de que a política brasileira é “disfuncional” se consolidou como parte importante da imagem internacional do Brasil nos últimos anos. Difundida pelo presidente Jair Bolsonaro em texto distribuído em grupos de WhatsApp, esta interpretação do sistema político do país ganhou força em interpretações estrangeiras especialmente durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Segundo o texto divulgado por Bolsonaro, seu governo está sofrendo pressões de todas as corporações, em todos os Poderes e o país “está disfuncional”.

A avaliação internacional de que o sistema político brasileiro não funciona corretamente é mais antiga, entretanto, e foi muito usada pela imprensa internacional para explicar a crise política no país desde o governo de Dilma, o impeachment, as dificuldades de Michel Temer em levar adiante propostas de reformas na economia, e mesmo o processo que levou à eleição de Bolsonaro. Quase sempre que analistas externos fazem uma avaliação mais detalhada da política brasileira, a ideia volta a ganhar força.

Apesar da semelhança no diagnóstico, o contexto da avaliação externa é diferente. Enquanto Bolsonaro parece procurar justificar a falta de avanços em seu governo e tenta conquistar apoio dos seus eleitores, a percepção de analistas internacionais é de que o Brasil deve buscar uma reforma política para aprimorar o sistema e superar dificuldades. O posicionamento externo não é contra a democracia, mas uma indicação da necessidade de melhorar a política do país. Em vez de aumentar o poder do presidente e centralizar a política, a percepção externa é de que o Brasil precisa aprimorar o funcionamento da sua democracia através de reformas, mas é preciso manter divisão de poderes e importantes sistemas de pesos e contrapesos.

Quando a presidente Dilma foi afastada do cargo, por exemplo, grande parte da imprensa de outros países dedicou editoriais à situação política do Brasil. Para a mídia internacional, a questão mais importante não era a disputa sobre a legalidade do impeachment ou a mudança dos governos, mas o fato de que o processo representava o fracasso do modelo político do país.

Textos de opinião de jornais como o New York Times, The Guardian, Le Monde e Financial Times apontavam a existência de graves problemas sistêmicos na política brasileira, diziam que o Brasil precisa de reformas profundas, e que a simples troca de presidente não seria solução para as crises.

“O caso de Dilma expôs algumas das fraquezas do sistema político brasileiro, no qual um presidente tem que fazer acordos com vários partidos políticos, muitos sem ideologia clara. O sistema encoraja a troca de cargos e a corrupção, dizem”, explicou uma reportagem no Washington Post.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o modelo político brasileiro fracassou e se tornou disfuncional a ponto de a corrupção ser inescapável e um bom governo é constantemente impedido.

Segundo o Financial Times, mesmo com a mudança de governo, o problema que continuava era o do “arranjo político que faz com que o Brasil seja uma das mais fragmentadas e pesadas democracias presidenciais no planeta”.

Crítica semelhante foi feita pela revista The Economist, que apontou o Brasil como o país com a política mais fragmentada do mundo, o que deixa o governo disfuncional. O sistema político do Brasil criou uma cacofonia de vozes sem ideologia e precisa ser reformado, explicava a revista em 2017.

“O sistema atual incentiva a diversidade política em detrimento da qualidade”, dizia. O sistema, continua, “incentiva a corrupção e enfraquece a ligação entre eleitores e seus representantes”.

A ideia de que o Brasil é ingovernável apareceu também em um artigo publicado na revista internacional de diplomacia Foreign Affairs, que avaliou os problemas da política brasileira e tratou das ineficiências da política nacional. Segundo a revista, o sistema político brasileiro é viciado em ‘maus governos’.

“O caos que atinge o país é produto não de conduta ilegal individual, mas de uma engenharia política falida. No coração dos problemas brasileiros com corrupção e ineficiência estão as regras que governam a relação entre os poderes Executivo e Legislativo, que encorajam exatamente o tipo de corrupção que o escândalo da Petrobras revelou.”

Segundo a Foreign Affairs, para levar o Brasil de volta à solvência política, os brasileiros precisam enfrentar o desafio de fazer uma ampla reforma política e eleitoral para eliminar os incentivos que levam tantos políticos a infringir a lei.

Essa imagem de política que não funciona se consolidou nos últimos anos e é muito negativa para o país enquanto o Brasil tenta construir sua força internacional e seu prestígio em política externa. A ideia de que o Brasil é ingovernável acaba se associando à imagem de país pouco sério, ou a percepção de que se trata de uma nação “decorativa” no mundo, como apontam pesquisas de “nation branding”. Segundo estes estudos de imagem no exterior, o Brasil é bem avaliado em sua cultura e sociedade, mas não é bem visto por sua atuação política e econômica. Sem uma reforma que ajude a política a funcionar de fato, e que fortaleça a democracia, vai ser difícil mudar esta imagem.

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‘Humilhante’, cancelamento mostra impacto da imagem negativa de Bolsonaro http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/05/04/humilhante-cancelamento-mostra-impacto-da-imagem-negativa-de-bolsonaro/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/05/04/humilhante-cancelamento-mostra-impacto-da-imagem-negativa-de-bolsonaro/#respond Sat, 04 May 2019 10:16:03 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5471 Governo diz que “ataques” levaram à decisão de cancelar viagem do presidente a Nova York, mas foram as declarações do próprio Bolsonaro que reforçaram a reputação internacional de “homofóbico”, “misógino” e “machista”, e ampliaram a pressão contra a homenagem que ele receberia nos Estados Unidos. Cancelamento teve repercussão internacional e pode afetar imagem da economia brasileira, diz o NYT. Segundo o jornal britânico The Guardian, cancelamento é “humilhante”. 

O diretor do Citigroup, Michael Corbat, apareceu visivelmente constrangido na TV americana durante a semana para tentar explicar por que o banco continuava apoiando financeiramente a homenagem que Jair Bolsonaro receberia em Nova York –que via vários patrocinadores cancelarem sua relação com o evento em meio a grande controvérsia.

“Passamos muito tempo certificando-nos de que nossos funcionários entendam os valores de nossa empresa, e espero que, no caso disso, não haja dúvida em termos de nosso apoio, nosso apoio inabalável, para nossa comunidade LGBT”, disse Corbat à rede CNBC. “Lá [no Brasil], estamos apoiando a Câmara de Comércio Brasileira. Nós operamos no Brasil por muitas, muitas décadas, e eu acho que estamos muito claros em termos de nossa postura.”

A resposta mostra o forte impacto internacional das declarações recentes do presidente brasileiro a respeito de não querer que o Brasil se tornasse um destino de turismo gay. A postura de Bolsonaro teve grande repercussão internacional e foi vista como uma confirmação de sua postura homofóbica, como disse reportagem da CNBC, e foi este o ponto que acabou ampliando a pressão contra a homenagem a ele em Nova York.

Na noite de sexta-feira (3), Bolsonaro cancelou a viagem que faria para receber o prêmio “Pessoa do Ano”, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Em nota, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que o cancelamento se deve aos “ataques” feitos pelo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, do Partido Democrata, a Bolsonaro.

A questão, entretanto, é que foram as declarações públicas do próprio presidente que ampliaram sua imagem negativa no resto do mundo, e não o que o governo vê como “ataques”.

Em quase todas as reportagens sobre o presidente na imprensa internacional, as declarações de Bolsonaro são tratadas como “homofóbicas”, “misóginas” e “racistas”. Por mais que o próprio Bolsonaro tenha revelado desconforto com esta imagem internacional de “ditador”, o presidente continua dando declarações que reforçam esta percepção internacional, como aconteceu no caso da sua rejeição à ideia do turismo gay no Brasil.

Isso é evidente ao perceber que o movimento contrário à homenagem a Bolsonaro, que antes aconteceria no Museu de História Natural, começou mais sob pressão de ambientalistas e cientistas preocupados com a posição do presidente brasileiro em relação à Amazônia. A controvérsia ganhou destaque por conta do contraste da política de Bolsonaro com o que é pregado pelo próprio museu. Mas, no fim, foram declarações posteriores do próprio Bolsonaro, vistas como um ataque à comunidade LGBT, que ampliaram o movimento contra a homenagem ao presidente.

“Por causa das últimas observações racistas, homofóbicas e misóginas de Bolsonaro, os organizadores viram vários locais em Nova York se recusarem a receber o jantar de gala, incluindo o Museu Americano de História Natural. Grandes patrocinadores como a Delta Air Lines, o Financial Times e a Bain & Co esta semana retiraram seu apoio ao evento”, explica reportagem publicada pela agência de notícias Reuters.

A decisão de Bolsonaro de não viajar a Nova York foi tratada como um “constrangimento” pelo jornal britânico The Guardian. “O cancelamento é um declínio humilhante para Bolsonaro, que idolatra os Estados Unidos e foi homenageado por Donald Trump durante uma visita em março a Washington. Analistas disseram que é um sinal da reprovação internacional que suas visões extremistas e posições anti-ambientais estão começando a despontar no mundo”, diz o jornal.

O cancelamento da participação de Bolsonaro no evento também pode ter consequências negativas para o Brasil e a imagem da sua economia. Segundo reportagem do New York Times, o evento era visto como uma “oportunidade valiosa para Bolsonaro e sua equipe lançarem oportunidades de crescimento para os investidores, muitos dos quais tinham esperanças na eleição de um líder conservador, mas ficaram cautelosos ao assistir seus turbulentos primeiros meses no cargo”, explica.

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‘Tribalismo hostil’ prejudica posição do Brasil no mundo, diz especialista http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/04/04/tribalismo-hostil-prejudica-posicao-do-brasil-no-mundo-diz-especialista/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/04/04/tribalismo-hostil-prejudica-posicao-do-brasil-no-mundo-diz-especialista/#respond Thu, 04 Apr 2019 15:39:33 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5372 Para o consultor britânico Simon Anholt, especialista em imagens internacionais de países, o Brasil precisa desempenhar um papel efetivo de colaboração com outras nações a fim de reconstruir sua confiança e credibilidade em todo o mundo. “Precisa ser um bom país, não apenas um país poderoso”, defendeu.


A viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel consolidou uma mudança prometida desde a eleição dele no perfil da política externa brasileira. A partir do início deste ano, o país parece ter invertido suas prioridades, deixando de lado a posição de nação conciliadora e defensora do multilateralismo e de causas ambientais para passar a se alinhar aos Estados Unidos e a assumir uma postura mais agressiva em sua diplomacia.

Segundo Simon Anholt, consultor britânico especialista em imagem internacional de países, essa mudança é perigosa para a projeção do Brasil no resto do mundo.

“Esse tribalismo hostil, competitivo e de autopromoção só pode prejudicar a posição internacional do Brasil nos próximos anos”, disse Anholt em entrevista ao blog Brasilianismo.

“Bolsonaro deveria entender que, na era em que vivemos, a colaboração é o comportamento mais competitivo que qualquer nação pode ter”, explicou.

Anholt tem experiência em analisar a percepção do mundo sobre o Brasil. Ele foi responsável pela criação do termo “nation branding”, usado para designar estudos que avaliam a imagem internacional de diferentes países como se fossem marcas (depois adaptado para se chamar “competitive identity” – identidade competitiva). Ele desenvolveu um dos principais levantamentos globais para medir essas imagens de nações (o Nation Brands Index) e prestou consultoria a vários governos sobre formas de melhorar a imagem dos seus países. Atualmente, seu principal projeto é outro, o Good Country Index, em que promove a ideia de que os países precisam ter uma postura positiva para todo o planeta.

“O que o Brasil precisa fazer para reconstruir sua confiança e credibilidade em todo o mundo é começar a desempenhar um papel efetivo e de princípios na comunidade das nações –algo que é bem capaz de fazer– competir um pouco menos e colaborar muito mais. Precisa ser um bom país, não apenas um país poderoso”, defendeu.

“Se eu sei alguma coisa sobre os brasileiros, acho que eles ficarão muito mais orgulhosos de um Brasil (e de um presidente) que apoie a comunidade internacional e promova o interesse de toda a humanidade e de todo o planeta com coragem e imaginação, ao invés de um Brasil que constantemente tenta promover seus próprios interesses às custas dos demais”, disse.

Apesar da avaliação crítica, Anholt se baseia na análise de dados de mais de uma década de estudos sobre imagens para indicar que o impacto de uma percepção internacional negativa de Bolsonaro dificilmente pode afetar no longo prazo a projeção positiva do Brasil no resto do mundo.

“É certamente verdade que um Mandela, um Churchill, um Lincoln, um Gandhi ou até mesmo uma Merkel podem, com o tempo, levantar a posição internacional de um país. Até certo ponto, o oposto também é verdadeiro: Hitler e Stálin arruinaram a posição da Alemanha e da Rússia por gerações. Mas um presidente precisaria ser notoriamente horrível (ou surpreendentemente santo) para alterar a imagem de seu país em um único mandato, especialmente se o país já tiver uma imagem internacional razoavelmente bem estabelecida. A imagem do Brasil permanece um pouco melhor do que a realidade do país, e isso efetivamente protege o país de uma série de maus comportamentos e episódios negativos. A Copa do Mundo e as Olimpíadas causaram sérios danos à imagem do país, mas provavelmente esses danos não durarão muito tempo”, explicou.

O consultor avaliou ainda a decisão de Bolsonaro de substituir embaixadores brasileiros para tentar combater a imagem de “ditador” que é projetada na imprensa internacional. Segundo ele, a ação parece “muito insensata”.

“É sempre preocupante quando um chefe de Estado começa a falar sobre si mesmo e sobre o Estado como se fossem a mesma coisa”, explicou Anholt.

“Se ele anuncia publicamente que está nomeando novos diplomatas apenas com base na eficácia com que eles ‘vendem’ sua imagem, será quase impossível para eles ganhar qualquer confiança ou credibilidade com outros diplomatas em todo o mundo. Eles serão simplesmente considerados pelos seus pares como propagandistas do presidente, e serão educadamente ignorados. Confiança e credibilidade são a base da diplomacia, e Bolsonaro corre o risco de criar um serviço estrangeiro que ninguém escuta: a última coisa que o Brasil precisa nesse momento turbulento de sua história”, disse.

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Em 5 anos, Lava Jato mudou, mas também afundou, a imagem do Brasil no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/03/18/em-5-anos-lava-jato-mudou-mas-tambem-afundou-a-imagem-do-brasil-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/03/18/em-5-anos-lava-jato-mudou-mas-tambem-afundou-a-imagem-do-brasil-no-mundo/#respond Mon, 18 Mar 2019 09:29:17 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5314

Ilustração publicada pelo jornal The Guardian sobre a Lava Jato como o ‘maior escândalo de corrupção do mudo’

A operação Lava Jato, que completa cinco anos, tem uma relação complicada com a imagem internacional do Brasil. Por um lado, ela ajudou projetar ainda mais o país no resto do mundo e a criar no exterior a percepção de que o Brasil não poderia mais ser associado à ideia de impunidade para a corrupção –o que seria muito bom. Por outro lado, a dimensão da projeção reforçou a associação entre o país e os desvios na política, e passou a ser alvo de críticas por sua aparente politização e seu possível impacto sobre a estabilidade política.

“A Lava Jato implodiu a imagem de país sério do Brasil. Depois da Operação Lava Jato, a imagem internacional do Brasil foi ladeira abaixo”.

A avaliação foi feita não por um ativista político brasileiro, mas por uma pesquisadora de um grande think tank americano, especialista em economia brasileira, em uma entrevista off the records concedida recentemente. Ela revela a inversão no papel da operação contra a corrupção, que começou sendo vista como uma mudança positiva no perfil do Brasil, mas que acabou tornando uma mancha na forma como o país é visto.

A pesquisadora explicou que o começo da Lava Jato foi elogiado no exterior. Iniciada em um momento em que a percepção do país ainda era muito positiva, ela criou a impressão de que tornaria a reputação do Brasil ainda melhor.

Isso tudo em um contexto de um período de euforia com crescimento e estabilidade econômica, a conquista do Grau de Investimento de agências de risco e a impressão de que o país seguia no rumo certo. Além de parecer um “país sério” por conta de reformas e instituição de comprometimento com a estabilidade macroeconômica, o Brasil ali parecia que seria também menos corrupto. A luta contra a corrupção representada pela operação ajudava até mesmo a projetar internacionalmente o soft power do Brasil.

Sérgio Moro lidera equipe de ‘caça-corrupção’ em capa de revista americana

O então juiz federal Sérgio Moro virou celebridade internacional, e chegou a ser retratado liderando uma equipe de caçadores de corruptos na capa de uma edição da revista norte-americana Americas Quartely. Moro e outros quatro investigadores da América Latina aparecem vestidos de “caça-fantasmas”, em uma referência ao trabalho “histórico” que está sendo feito para combater a corrupção na região, segundo a publicação.

Com o tempo, entretanto, as coisas foram mudando. As avaliações internacionais que antes eram positivas começaram a apontar para a fragilidade das instituições brasileiras e os riscos trazidos pela operação. O jornal americano The New York Times, por exemplo, publicou uma longa análise apontando como a luta contra a corrupção ameaçava estabilidade do Brasil. Após anos de revelações e escândalos de corrupção a Lava Jato era vista também como uma ameaça que poderia “destruir o sistema político brasileiro”, segundo uma análise publicada pela agência norte-americana de inteligência e geopolítica Stratfor.

A operação também passou de símbolo de seriedade na luta contra a corrupção a uma representação do quanto o país é corrupto de fato. O jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem detalhada sobre a operação, chamada de “maior escândalo de corrupção do mundo”. Segundo reportagem publicada pela Al Jazeera, a Lava Jato revelou ao mundo o Brasil como país exportador de corrupção.

A transformação da percepção também está ligada à imagem de politização da operação, segundo alguns dos analistas internacionais.

“Se é possível identificar o momento em que a luta contra a corrupção do Brasil saiu dos trilhos, foi provavelmente um episódio que os brasileiros chamam de ‘o PowerPoint’”, explica uma reportagem publicada na revista The Atlantic em referência à entrevista coletiva que acusava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser o centro do esquema de corrupção. “Parecia algo feito em cima da hora por um estagiário, mas as implicações não poderiam ser mais sérias”, diz a reportagem.

Da acusação à prisão de Lula, o posicionamento relacionado à politização da Lava Jato ganhou força nas análises internacionais. A revista The Economist, por exemplo, indicava que era preciso ir além do ex-presidente para evitar que a operação se tornasse “tendenciosa”. A mesma Americas Quarterly que chamou Moro de “caça-corrupto” passou a adotar um tom mais crítico. Segundo a avaliação do editor Brian Winter, a investigação se tornou politizada, e passou a ser impossível prever onde ela iria acabar.

A percepção problemática se tornou ainda mais intensa no fim de 2018, quando Moro deixou a operação para se tornar ministro do governo de Jair Bolsonaro. A decisão do juiz passou a abrir espaço para questionamentos sobre a legitimidade e a credibilidade da Lava Jato, fortalecendo a tese de viés partidário da operação, segundo pesquisadores estrangeiros que estudam a realidade política e a questão da corrupção no Brasil.

E é assim que a operação completa cinco anos, como uma operação que mudou o Brasil e sua imagem. Elogiada por mudar a forma como o país lida com a corrupção, ela é criticada por sua politização e marcou profundamente a forma como o país é visto no exterior.

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Troca de embaixadores pode reforçar reputação de ‘ditador’ de Bolsonaro http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/03/16/troca-de-embaixadores-parece-confirmar-imagem-de-ditador-de-bolsonaro/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/03/16/troca-de-embaixadores-parece-confirmar-imagem-de-ditador-de-bolsonaro/#respond Sat, 16 Mar 2019 07:00:42 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5307 Segundo o especialista em imagens internacionais Robert Govers, medida do presidente para mudar percepção externa de que é “racista, homofóbico e ditador” parece reforçar sua má-reputação. Em sua avaliação, é típico de um presidente autoritário acreditar que a imagem do país é dominada por sua própria reputação, e a mudança pode ser interpretada como mais uma atitude de um governante antidemocrático.

O pesquisador Robert Govers

Preocupado com sua imagem no exterior, o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar pelo menos 15 embaixadores brasileiros em outros países para tentar melhorar sua reputação no resto do mundo.

Segundo reportagem da agência Reuters, Bolsonaro está incomodado com a imagem que tem no exterior, sendo sempre apresentado na imprensa internacional como “racista, homofóbico e ditador”. Ele reclamou que os atuais diplomatas não estão “vendendo uma boa imagem do Brasil”.

A medida pode ter um efeito contrário ao que o presidente espera, entretanto, e pode ser interpretada como mais uma atitude de um governante autoritário, segundo a análise de um pesquisador especializado em como se formam as imagens internacionais de países.

“As ações de Bolsonaro parecem apenas confirmar a percepção internacional. A reputação é construída pelo que você faz e não pelo que você (ou seus embaixadores) diz. Portanto, acho que essa ação pode alcançar o efeito oposto do pretendido”, explicou Robert Govers, em entrevista ao blog Brasilianismo.

“Ele não gosta do modo como os embaixadores (não) estão defendendo o país; ou (não) estão defendendo ele mesmo? Supondo que seja este último, não é normal que um presidente autoritário substitua esses embaixadores?”, questionou.

Segundo ele, as notícias sobre o governo e a associação entre Bolsonaro e Trump fazem com que não seja estranho que o presidente brasileiro esteja sendo visto internacionalmente dessa maneira. “Não deveria ser surpreendente se considerarmos algumas das coisas que ele disse e fez”, disse.

Govers é um dos principais pesquisadores do mundo em estudos sobre “place branding”, estudos e análises que tratam da imagem de lugares como se fossem marcas –e sobre como promovê-las no resto do mundo. Ele é diretor da associação internacional de acadêmicos da área (IPBA) e autor do livro “Imaginative Communities”, em que explica o que faz com que algumas comunidades, cidades, regiões e países sejam mais admiradas do que outras.

Questionado sobre os possíveis efeitos da decisão de Bolsonaro de trocar embaixadores para melhorar sua imagem, ele argumentou que é preciso separar o que o mundo pensa do governante do que pensa sobre o país, e disse que é típico de um presidente autoritário acreditar que a imagem do país é dominada por sua própria reputação.

“Felizmente ela não é. A maioria das audiências estrangeiras é perfeitamente capaz de distinguir entre ‘o país’ e sua política. O que não significa que os dois não possam influenciar um ao outro. Mas, se e quando o fizerem, no caso de países com associações de imagem historicamente fortes como o Brasil, geralmente é temporário”, explicou.

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