Geopolítica – Brasilianismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br Daniel Buarque é jornalista e escritor com mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute do King's College de Londres. Fri, 31 Jan 2020 12:20:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Agência dos EUA diz que Brasil não repetirá história de intervenção militar http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/06/01/agencia-dos-eua-diz-que-brasil-nao-repetira-historia-de-intervencao-militar/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/06/01/agencia-dos-eua-diz-que-brasil-nao-repetira-historia-de-intervencao-militar/#respond Fri, 01 Jun 2018 11:37:55 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4552

“A história não está se repetindo”, e o Brasil não parece seguir o rumo de uma nova intervenção militar na política, apesar de haver um crescimento de vozes a favor de uma ditadura no país.

Esta é a conclusão de um estudo publicado pelo site americano “Geopolitical Futures” a respeito da probabilidade de uma virada autoritária no Brasil.

O trabalho avaliou casos da história do Brasil em que os militares tomaram o poder (em 1889, 1930 e 1964) e comparou à situação atual do país. Segundo a análise, mesmo aceitando que haja elementos que poderiam favorecer uma intervenção, algumas características do contexto atual reduzem a probabilidade de uma ditadura. A falta de apoio internacional seria um dos pontos centrais para essa avaliação.

“Todas essas três intervenções militares ocorreram em diferentes períodos da história do Brasil e sob diferentes circunstâncias, mas ainda assim têm algumas coisas em comum”, diz o estudo. Segundo ele, os três exemplos revelam que as intervenções no Brasil têm quatro características:

“Primeiro, uma crise política resulta em um governo extremamente fraco que tem pouco ou nenhum apoio de bases históricas. Em segundo lugar, uma crise econômica ameaça os principais componentes da economia. Terceiro, uma grande parte dos militares, particularmente os oficiais, fica frustrada com o governo, muitas vezes porque os militares foram excluídos dos assuntos do Estado. Em quarto lugar, as forças estrangeiras desempenham algum papel.”

No Brasil de hoje, avalia, os dois primeiros casos (crise econômica e baixa legitimidade política) são verdadeiros. As outras duas características (exclusão dos militares e apoio internacional), entretanto, não são verdadeiras, o que torna a possibilidade de ditadura menos provável.

“As forças armadas não estão sendo negligenciadas ou minadas pelo governo hoje. De fato, nos últimos 25 anos, o governo incluiu oficiais militares no planejamento, debates e políticas nacionais de defesa. Os comentários do general Eduardo Villas Boas sobre a corrupção entre os políticos brasileiros despertaram preocupações de que o Brasil estivesse retrocedendo, mas que ele era capaz de falar sobre uma questão política em si indica que os oficiais militares não são meros observadores da política brasileira, mas também podem ter influência”, diz o estudo.

Quanto à influência externa, o “Geopolitical Futures” alega que o maior interesse de potências internacionais é em estabilidade, e que uma intervenção militar criaria muita incerteza sobre o país, criando tensões desnecessárias tanto em política quanto em economia.

“No plano internacional, não há sinais de que governos estrangeiros possam apoiar uma solução militar para a crise no Brasil. Todos os governos da América do Sul hesitam em se envolver militarmente em outros países da região. Mesmo no caso da Venezuela, que está passando por uma crise política e econômica própria, os países da região demoraram a tomar medidas concretas (como cortar os laços comerciais) contra o governo de Nicolas Maduro e estão aplicando apenas sanções moderadas. Países fora da América do Sul, particularmente os Estados Unidos, querem estabilidade no Brasil. Por conta da negociações comerciais com a China e o NAFTA, além das operações militares em curso no Oriente Médio, os EUA já estão sobrecarregados e dificilmente apoiariam uma intervenção militar no Brasil. Fora do Hemisfério Ocidental, um dos relacionamentos mais fortes do Brasil é com a China, que importa recursos naturais do Brasil. Se o governo brasileiro fosse derrubado, isso poderia desestabilizar o país e prejudicar os laços comerciais, fazendo com que Pequim não apoiasse qualquer movimento nessa direção.”

O “Geopolitical Futures” é uma publicação voltada a análises de geopolítica global e perspectivas para o futuro do mundo. A revista digital é ligada ao think tank Stratfor, uma agência de inteligência americana dedicada a estudos de política internacional. O posicionamento publicado para o público americano indica que não interessa à elite de política externa dos Estados Unidos que haja uma intervenção deste tipo no Brasil, o que diminuiria as chances de crescer o apoio externo a uma nova ditadura.

Enquanto o debate sobre intervenção cresce no Brasil, é interessante ver um posicionamento assim de fora do país, especialmente considerando que os Estados Unidos foram a principal força por trás do movimento que tomou o poder em 1964. É claro que sempre há a possibilidade do uso de publicações e estudos em atuação de contra-informação, mas a análise aparenta ser feita para consumo interno, indicando ser reflexo dos interesses políticos dos EUA.

A avaliação ganha eco em reportagens analíticas como uma publicada na revista “Americas Quarterly”. Segundo o editor-chefe da publicação, Brian Winter, o que se viu no Brasil com o aumento de vozes por uma intervenção soa quase inacreditável. “O que antes era impensável agora está se tornando normal”, diz.

Mesmo admitindo que as vozes a favor de uma intervenção pela força podem ser minoria, ele diz que o tema já chegou à elite da política, que alega que os militares não têm interesse em assumir o poder. O problema maior, segundo Winter, é que o Brasil pode acabar abraçando uma alternativa autoritária por meio do voto, sem precisar de uma intervenção violenta dos militares.

“Na verdade, um golpe tradicional com tanques nas ruas é quase impensável –uma “relíquia do século 20”, como disse um líder militar nesta semana. No século XXI, quando a democracia se deteriora, quase sempre acontece por meio das urnas. Bolsonaro prometeu, se eleito, nomear oficiais militares para cargos importantes no governo, reverter as disposições sobre direitos humanos e dar ‘carta branca’ às forças de segurança para matar suspeitos de crimes, entre outras medidas. O General Joaquim Silva e Luna, que Temer nomeou como o primeiro ministro da Defesa não-civil do Brasil em fevereiro, disse à ‘Bloomberg News’ na semana passada que ele recebeu bem a candidatura de Bolsonaro. ‘O Brasil está procurando alguém com valores … e eles consideram que as Forças Armadas têm esses atributos’, disse ele. Por que se preocupar com um golpe, quando há maneiras mais fáceis de ganhar poder?”

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