Ataque a Bolsonaro oficializa tempo de caos e violência política no Brasil
Visto de fora, o Brasil parece ter entrado oficialmente na temporada de insanidade política pré-eleitoral após o ataque a faca contra o candidato Jair Bolsonaro.
Em um texto publicado na quarta-feira (5), o jornal americano "The Washington Post" dizia que era preciso estar preparado para o "caos" na eleição brasileira em outubro. Um dia depois, o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto sofreu um atentado a faca, ampliando ainda mais a sensação de incerteza e preocupação que tem marcado observadores externos sobre a política brasileira.
Para quem vê o país de fora, o caos já chegou.
No Twitter, uma correspondente internacional no Brasil resumiu a situação do país: "Então, na próxima semana, os dois candidatos à Presidência mais populares na eleição do Brasil vão fazer campanha de uma cela na cadeia e de uma cama de hospital", disse. Segundo ela, esta eleição está muito caótica, "mesmo para o Brasil".
O site de notícias australiano 9 News oficializou a percepção externa sobre a abertura da nova realidade do Brasil: "Eleição presidencial brasileira jogada no caos após líder nas pesquisas ser esfaqueado em campanha", diz.
Destaque em tempo real no "New York Times", conforme relato do colunista Nelson de Sá, da Folha, o ataque Bolsonaro está em quase todas as principais publicações internacionais na manhã desta sexta. Foi a principal notícia no resumo enviado pela manhã pelo jornal britânico "The Guardian" a seus leitores.
Além de relatar o ocorrido e explicar quem Bolsonaro é e seu apelo em meio à crise política no Brasil, o "Guardian" já cita um cientista político brasileiro que analisa os possíveis impactos do ataque na eleição –o ataque "praticamente garante Bolsonaro no segundo turno", diz.
Com uma reportagem da agência de notícias Associated Press, a rede conservadora de TV americana Fox News também já discute os possíveis efeitos eleitorais do ataque: "Pode mudar a corrida". Para partidários do candidato, diz, o ataque pode ajudar a empurrá-lo à vitória.
Se não é possível prever exatamente o impacto eleitoral do atentado contra Bolsonaro, a cobertura internacional sobre o ataque serve para dar ainda mais visibilidade ao candidato, que já é um dos temas mais frequentes na imprensa estrangeira ao tratar da escolha do próximo presidente.
Em geral, a avaliação estrangeira tem sido muito crítica ao candidato. Chamado de "ameaça à democracia" pela revista "The Economist", Bolsonaro é frequentemente comparado aos presidentes dos EUA, Donald Trump, e das Filipinas, Rodrigo Duterte, ambos criticados por posturas autoritárias no governo.
Chamado por "Trump tropical" pelo "Guardian", ou "Trump do Brasil" em muitas das reportagens sobre o ataque desta semana, Bolsonaro é descrito como um polêmico candidato de extrema-direita, defensor da ditadura militar que diz que a polícia deve matar suspeitos.
O ataque também expôs ainda mais ao mundo a profunda polarização política do Brasil –reflexo da raiva pública em relação a anos crise e de escândalos de corrupção– e o risco de escalada da violência motivada por esta divisão política.
Tema já frequente de quase toda a cobertura estrangeira, a divisão do país parece ainda mais radical. A AP também destaca que o episódio não é isolado, e que este ano registrou outros casos de violência política no país –com destaque para a morte da vereadora Marielle Franco e para os disparos a bala contra a caravana do ex-presidente Lula. O crescimento da violência política no Brasil teve destaque também no "NYT"
No fim de abril deste ano, a repetição de casos absurdos de ataques motivados pela polarização política parecia já ter criado uma aceitação de que o país agora é assim –e o noticiário internacional reflete isso com cada vez menos surpresa. O Brasil é cada vez mais visto como um país afundado em uma nova realidade na qual o caos social e a violência política viraram algo normal, incapazes de chocar.
Por mais que o assassinato de Marielle, em março, tenha sido marcante para o resto do mundo, o ataque a tiros contra a caravana que levava o ex-presidente Lula no Paraná já indicava que o país estava sendo visto como "despedaçado", conforme descreveu o jornal francês "Le Monde".
O absurdo, a violência política, tem virado tão frequente que parece estar se tornando algo normal, comum, parte da realidade brasileira e da imagem do país no resto do mundo. O caos impera.
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