Brasil é o país das ilusões perdidas, diz livro publicado na França
Anos depois de o mercado editorial internacional assistir a uma série de lançamentos falando sobre a ascensão global do Brasil, as crises política e econômica que atingiram o país nos últimos anos começam a se refletir em novas obras publicadas no mundo. Em um desses lançamentos, na França, o Brasil é chamado de país das "ilusões perdidas".
Escrito pelo economista Jean-Yves Carfantan, que atuou por muitos anos no país e conhece bem a realidade brasileira, "Brésil : les illusions perdues, du naufrage au redressement" (Brasil: as Ilusões Perdidas, do Naufrágio à Recuperação, ed. François Bourin), trata dos erros que levaram às crises e de perspectivas para o futuro.
O Brasil "se esforça para repetir por muitos anos um modelo econômico que funcionou por um tempo, especialmente entre a Segunda Guerra Mundial e os anos 1960, com uma economia fechada, fortemente dependente do Estado, voltada ao mercado interior. Ele não se abriu e chegou a um impasse, pois é um país desconectado da globalização", disse Carfantan em entrevista recente à TV5Monde.
O país e apresentado como um um país extremamente protecionista, com um capitalismo habituado a depender do Estado, que não desenvolveu uma estratégia de conquista do mercado interior ou internacional. "É um dos mais isolados do mundo em termos de fluxo comercial. É um país que não se integra ao mundo", completou.
Segundo Carfantan, o "momento mágico" vivido pelo Brasil durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não foi usado para levar adiante reformas fundamentais para desbloquear a economia do país, abrir a economia investir em infraestrutura.
O economista criticou a carta publicada recentemente por políticos europeus cobrando que Lula possa ser candidato à Presidência, e rejeitou comparações entre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e um golpe de Estado.
"Sou de uma geração que sabe o que é um golpe de Estado. Um golpe de Estado é a suspensão da Constituição, a instalação de um poder totalmente arbitrário. No caso do Brasil, a Constituição foi totalmente respeitada, o impeachment foi decidido nos termos de um processo longo, acompanhado pela corte suprema, e todas as regras foram respeitadas", disse. Segundo ele, em vez de golpe de Estado houve uma manobra política no seio da aliança que unia Dilma Rousseff e o partido de Michel Temer.
Tudo isso, segundo Carfantan, aconteceu em um contexto de um país onde a classe política mantém reflexos arcaicos de clientelismo, de troca de favores. Ainda assim, segundo ele, nos últimos anos o país tem evoluído, especialmente por conta de um amadurecimento da população, que tem exigido melhor acesso a serviços e oportunidades.
Carfantan diz também ver com bons olhos o avanço da Justiça no Brasil. "O PT não inventou nada em termos de corrupção. Ele levou adiante uma velha tradição da vida política brasileira, que é organizada em torno de partidos que não são agrupamentos ideológicos bem definidos, são balcões de negociação, que cobram vantagens em troca de apoio. A novidade é que a Justiça brasileira começou, depois de muitos anos, a fazer seu trabalho. Claro que ela não é completamente independente, e tem suas falhas, mas é uma mudança muito positiva para o país."
Em uma avaliação dos cenários futuros do Brasil, o economista diz que todo o foco deve estar em dar prioridade à educação de base no país, o que ele diz que foi negligenciado por muitos anos.
"A educação é a prioridade para mudar o Brasil. Sabemos que a educação de base é um fator muito eficaz de redução de desigualdades, abre oportunidades a todas as categorias sociais e é importante porque o Brasil está entrando em uma economia em que o conhecimento vai se tornar essencial."
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