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Blog do Brasilianismo

Imprensa internacional fala em prisão e fim da carreira política de Lula

Daniel Buarque

05/04/2018 05h39

Ainda não eram 5h da manhã em Londres quando o "Guardian" enviou, por celular, um push alertando sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal, que negou o pedido de habeas corpus preventivo para evitar a prisão de Lula.

"O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta cadeia por corrupção depois de a suprema corte decidir contra ele", dizia a chamada.

A provável prisão de Lula após a votação de quarta (4), e o impacto político dela –com o cancelamento da candidatura dele à Presidência e possível fim de sua carreira política– são os temas centrais da cobertura que a imprensa internacional publicou na manhã desta quinta-feira (5). Nos títulos dos principais jornais estrangeiros sobre o caso, a derrota do ex-presidente é tratada como uma definição sobre seu futuro na cadeia, e longe do poder.

Segundo o "Guardian", a decisão do supremo contra Lula "provavelmente dá fim a sua carreira política".

"A decisão marca uma virada extraordinária de eventos para o político mais popular do Brasil, que deixou o cargo com uma política social que ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza. Ele lidera pesquisas de opinião antes das eleições presidenciais em outubro, apesar de sua condenação e seis julgamentos de corrupção pendentes", diz.

O jornal inglês publicou ainda uma segunda reportagem sobre o caso, alegando que mesmo com a condenação, os brasileiros ainda gostam muito de Lula e lembram com nostalgia do seu governo –por mais que ele tenha sido incapaz de introduzir mudanças estruturais no país.

Segundo o jornal americano de economia "The Wall Street Journal", a decisão do STF deve colocar "o líder populista atrás das grades e dar fim a sua tentativa de reeleição".

A rede de TV CNN também fala em "fim da carreira política" de Lula após a votação do STF.

"Lula, que governou o Brasil de 2003 a 2011, era considerado um dos principais candidatos nas eleições de outubro, mas a decisão da corte (…) coloca em dúvida sua tentativa de reconquistar o poder", diz.

A agência de economia Bloomberg explica que a lei não permite a candidatura de condenados pela Justiça, mas diz que já houve exceções. A decisão sobre uma candidatura de Lula seria tomada pelo TSE. Segundo a Bloomberg, há a expectativa de que os mercados reajam positivamente à provável prisão de Lula.

Além do impacto sobre a carreira do ex-presidente, jornais internacionais também tentam avaliar como a decisão do STF pode pesar sobre as eleições deste ano.

"Com a prisão de Lula quase certa –e a redução das suas chances de concorrer em outubro– a questão-chave é saber se ele ainda pode influenciar a eleição, potencialmente se colocando como um mártir e vítima de perseguição política. As pesquisas mostram que ele poderia transferir parte de seu apoio a um candidato de sua escolha, mas a maioria dos analistas políticos, incluindo a consultoria do Eurasia Group, diz que ele perderia influência considerável na prisão", avalia a Bloomberg.

Segundo o jornal de economia "Financial Times", "o destino do ex-presidente de esquerda tomou conta do país enquanto ele se prepara para o que se espera que sejam as eleições mais imprevisíveis em décadas".

O aspecto histórico da decisão do STF, confirmando a provável prisão de um dos políticos mais populares do país, também foi frequente na mídia estrangeira.

O tom da "virada" na história do ex-presidente foi abordado pela rede britânica BBC, por exemplo.

"Esta foi uma grande perda de encanto de um homem que já foi um dos políticos mais amados do mundo. Foi um dia histórico para a política brasileira."

O jornal francês "Le Monde" fala em "sinal verde" para a prisão do "pai dos pobres". Segundo a reportagem, a decisão foi marcada pela polarização política em um ambiente em que a população protesta contra a corrupção. O texto diz, entretanto, que muitos ainda acreditam que Lula vai ser "o único a pagar".

"Nenhuma decisão jamais dividiu tanto o Brasil, opondo os que continuam a venerar o ex-chefe de Estado como um semideus àqueles que o consideram o pior vilão da humanidade, responsável pela fúria das contas públicas e a estagnação perpétua do gigante da América Latina", diz o "Monde".

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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