A imagem de exótico do Brasil no exterior é projetada pelo próprio Brasil
Algumas das principais pesquisas acadêmicas a respeito da percepção internacional do Brasil indica que o país tem imagem de exótico, de diferente, "esquisito, excêntrico, extravagante", como define o dicionário Houaiss.
Por mais que isso possa ser uma imagem que incomoda a muitos brasileiros, uma das principais linhas de estudo do tema indicam que essa representação é alimentada pelos próprios brasileiros.
Esta avaliação é um dos temas centrais do livro "A Imagem do Brasil no Turismo: Construção, Desafios e Vantagem Competitiva", de Rosana Bignami.
Publicada em 2002, a obra é um excelente tratado sobre a forma como se construiu no resto do mundo a percepção a respeito do Brasil. O livro continua muito atual no debate sobre reputação no país no exterior e traz esta interessante análise sobre a responsabilidade dos próprios brasileiros na formação dessa imagem de exotismo.
Isso em parte porque a formação da identidade nacional está intimamente ligada à projeção da imagem do Brasil no exterior e à aceitação do elemento exótico como parte da própria auto-imagem, diz Bignami.
Segundo ela, "o olhar exótico é, antes de mais nada, aceito como representação nacional. (…) O exótico não é para o brasileiro um elemento externo. O exótico participa da identidade nacional como elemento de composição e exportação, incorporado aos discursos da própria nação que também se promove por intermédio dessas imagens", diz.
E continua: "A imagem nacional não é resultante unicamente da visão do estrangeiro a respeito do país, embora exista uma tendência de se analisar a situação somente sob esse aspecto. (…) O Brasil e o brasileiro parecem se interessar muito mais pelo que se diz no exterior do que pela própria formação interna do país, responsabilizando o estrangeiro pelo que o país é. (…) Nossa imagem é também, em parte, uma projeção da nossa identidade e, estrategicamente organizada ou não, ela acabou privilegiando e ressaltando alguns aspectos da nação."
Bignami explica que a imagem estereotipada do Brasil tem aceitação no próprio território nacional e é assumida como elemento verdadeiro da cultura brasileira e dessa forma é difundida. "O elemento exótico encontra-se inserido nos discursos dos próprios brasileiros e até mesmo nas instâncias decisórias da política."
"O estrangeiro vê o Brasil como o próprio brasileiro se vê e se promove. Não cabe ao estrangeiro mudar essa imagem. As mudanças, se desejadas, devem partir da nação e não podem representar somente uma campanha publicitária restrita a alguns filmes, anúncios em algumas revistas e espetáculos de samba no exterior", explica no livro.
Parte do trabalho de Bignami tenta desfazer a ideia de que os problemas relacionados à imagem do Brasil existem por "perseguição" da imprensa internacional.
"Certamente a imprensa cria uma imagem, mas não se pode afirmar que a instituição imprensa internacional orquestra contra o país Brasil", diz.
Segundo ela, embora a imprensa seja considerada impessoal, ela é produto de variados discursos subjetivos. "O discurso da imprensa é parcial, enquanto representa o dizer de indivíduos ou grupos, situados num determinado contexto histórico-social", explica.
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