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Um ano após Olimpíada, mundo vê caos e violência tomarem conta do Rio

Daniel Buarque

23/09/2017 04h15

Um ano após Olimpíada, mundo vê caos e violência tomarem conta do Rio

"O Rio de Janeiro está complicado."

A frase foi dita por um brasilianista, professor em Londres, durante uma conversa privada logo após a abertura do ano acadêmico do doutorado do Brazil Institute do King's College London, na sexta-feira (22).

Ela foi pronunciada no mesmo momento em que a capital fluminense registrava uma das mais graves ondas de violência, mas se referia à situação da cidade em geral, incluindo a dificuldade de realizar pesquisas acadêmicas, já que o professor acabava de voltar de uma temporada de estudos no Rio.

Apesar de genérica e simples, a definição de "complicado" parece resumir a forma como o resto do mundo vê o Rio de Janeiro um ano após os Jogos Olímpicos. Caos urbano, crise financeira, explosão de violência. Tudo isso enquanto a cidade que é símbolo do Brasil nos olhos dos estrangeiros deveria estar aproveitando o legado do maior evento esportivo do mundo.

Um ano após se tornar principal foco dos holofotes internacionais e de entregar um evento bem acima das expectativas estrangeiras, o Rio de Janeiro é visto como tendo sido tomado pelo caos e pela violência –em um símbolo da gravidade da crise que atinge todo o Brasil.

Bem além da atenção crítica dada ao "legado" dos Jogos quando se completou o primeiro ano desde seu encerramento, este olhar estrangeiro sobre a situação atual é menos temporal, mas mais chocado com o tamanho do problema, com a amplitude da violência.

A insegurança no estado do Rio já vinha recebendo mais atenção especialmente no Reino Unido depois que uma inglesa foi baleada durante viagem de turismo. "Turistas no Brasil ocasionalmente são atacados quando, por acidente, entram em favelas, que muitas vezes são dominadas por gangues", dizia uma das reportagens à época, já associando o Rio à violência.

O Rio, disse então o jornal francês "Le Monde", vive uma "guerra não declarada" um ano após a Olimpíada.

Na mídia internacional, os tiroteios nas favelas ao longo da última sexta ganharam atenção especial, com grande destaque dado ao uso de forças militares para tentar conter a violência.

"Depois de uma semana de intensos tiroteios entre gangues rivais e a polícia, o Exército do Brasil foi enviado para cercar a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro", diz reportagem do jornal britânico "The Guardian".

"Uma cidade repleta de comércio, vielas e pequenas ruas movimentadas, a Rocinha é a maior favela do Brasil. Ela se tornou emblemática do ambicioso programa de pacificação para expulsar traficantes de drogas após uma invasão pelo Exército em 2011. Agora se tornou um outro símbolo da piora da violência da cidade apenas um anos após ela sediar a Olimpíada", avalia o jornal.

As agências internacionais de notícias também publicaram textos sobre a situação da Rocinha, e a rede BBC publicou uma série de fotos mostrando tanques de guerra sendo usados na ação dos militares.

Os Jogos também foram lembrados pela reportagem publicada pela agência de economia Bloomberg. "A Rocinha, que separa alguns dos bairros mais ricos do Rio, como a Barra da Tijuca, onde a maior parte dos Jogos de 2016 aconteceram, foi marcada pela violência e tiroteios por seis dias consecutivos enquanto a polícia tentava controlar a guerra entre suas quadrilhas rivais que lutam para controlar o tráfico de drogas", explicou.

Toda avaliação da atual situação da cidade parece tomada por algum choque em relação ao contraste com o que se esperava para o Rio após os Jogos. Esperava-se um legado de bonança, e veio a crise, o aumento da violência.

Em um momento assim, talvez a análise externa mais precisa tenha sido a da jornalista e escritora Juliana Barbassa, em um artigo publicado na revista "Americas Quarterly". Segundo ela, o objetivo da Olimpíada não era o de melhorar a vida no Rio, mas enriquecer o bolso de poucos.

"O verdadeiro objetivo dos Jogos era desviar toneladas de dinheiro público para bolsos privados através de lucrativos contratos de construção gerados pelo evento", disse.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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