Mídia estrangeira vê esquerda e direita juntas contra a Justiça no Brasil
A cobertura da imprensa internacional sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção evoluiu rapidamente do noticiário para análises em que políticos de esquerda e de direita são vistos juntos em uma luta contra o poder Judiciário, principal pivô da luta contra a corrupção no país.
Para muitos observadores estrangeiros, a tese de que Lula sofre perseguição política não se sustenta, e por todos os lados do país há uma tentativa de minimizar o descrédito da classe política brasileira com ataques a juízes e promotores.
Essa interpretação está evidente em uma reportagem publicada pelo jornal americano "The New York Times", que diz que rivais políticos veem o Judiciário como uma ameaça comum.
"Adversários políticos em lados muito diferentes do espectro ideológico estão confiando na mesma estratégia de sobrevivência: atacar a legitimidade dos promotores e juízes que se propuseram a desmantelar a cultura da corrupção que os políticos brasileiros institucionalizaram ao longo de décadas", diz, citando Lula e o presidente Michel Temer como parte deste movimento.
O jornal diz que os políticos acusam o Judiciário de ser tendencioso, mas explica que organizações importantes na luta contra a corrupção, como a Transparência Internacional, acreditam no processo como um "momento transformador" no país.
A tese de motivação política da Lava Jato também é recusada por reportagem na revista "The New Yorker". O ex-correspondente Alex Cuadros detalha as acusações contra Lula, mas diz que as investigações vão além dele.
"O problema dessa teoria [da perseguição política] é que a Operação Lava Jato também teve como alvo políticos de direita. O atual presidente, Michel Temer, que ajudou a orquestrar o impeachment de Dilma Rousseff, é uma das muitas figuras conservadoras que enfrentam acusações de corrupção. Na verdade, políticos poderosos tanto na direita quanto na esquerda começaram a se unir silenciosamente contra a Lava Jato", diz.
A reportagem chama a condenação de Lula de "a mais importante na história do Brasil". Cuadros explica o processo contra o ex-presidente, diz que Lula não foi o primeiro presidente a se envolver em corrupção, mas alega que ele incorporou a cultura do "rouba, mas faz".
"Lula ajudou milhões de pobres do país, mas defender ele cria o risco de enfraquecer a luta contra a impunidade."
A agência de economia Bloomberg também publicou um editorial analisando a condenação de lula e o estado da luta contra a corrupção no Brasil. Em sua avaliação, a Justiça está avançando muito no país, mas precisa garantir que as investigações têm total transparência.
"Os mercados comemoraram a condenação de Lula, cujas políticas populistas foram vistas como uma ameaça à passagem de reformas econômicas muito necessárias. Eles também saudaram a aprovação da legislação que tornará os mercados de trabalho brasileiros mais flexíveis. Mas quem torce por uma recuperação econômica mais rápida deve lembrar que o sucesso das reformas –começando com correções no sistema de previdência do Brasil – depende, em última instância, do apoio público. este apoio não existirá enquanto os eleitores acreditarem que seus representantes estão além do alcance da justiça."
A análise publicada pela revista "The Economist" vai além em sua crítica aos ataques à Lava Jato. Essa posição, diz, é que tem interesses partidários.
A publicação admite que houve alguns exageros por parte da Justiça, mas defende que, se ela for além do ex-presidente, não será possível chamá-se de tendenciosa.
A defesa da continuidade da Lava Jato além da condenação de Lula tem sido o tom mais forte da imprensa e de analistas estrangeiros desde o anúncio da decisão do juiz Sérgio Moro.
Em editorial, o jornal de economia "Financial Times" explicou que a luta contra a corrupção é um processo que afeta o país, mas que é preciso continuar com este esforço.
"Mudar o Brasil de vez requer um trabalho mais profundo –como a reforma dos sistemas partidários e eleitorais do país. É desse poço que vem a corrupção. O desafio do próximo presidente do Brasil é drenar este poço e restaurar a confiança nas instituições políticas", diz.
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