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Blog do Brasilianismo

Mídia estrangeira vê esquerda e direita juntas contra a Justiça no Brasil

Daniel Buarque

14/07/2017 16h41

Reportagem da 'New Yorker' comenta ataques contra o Judiciário no Brasil

A cobertura da imprensa internacional sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção evoluiu rapidamente do noticiário para análises em que políticos de esquerda e de direita são vistos juntos em uma luta contra o poder Judiciário, principal pivô da luta contra a corrupção no país.

Para muitos observadores estrangeiros, a tese de que Lula sofre perseguição política não se sustenta, e por todos os lados do país há uma tentativa de minimizar o descrédito da classe política brasileira com ataques a juízes e promotores.

Essa interpretação está evidente em uma reportagem publicada pelo jornal americano "The New York Times", que diz que rivais políticos veem o Judiciário como uma ameaça comum.

"Adversários políticos em lados muito diferentes do espectro ideológico estão confiando na mesma estratégia de sobrevivência: atacar a legitimidade dos promotores e juízes que se propuseram a desmantelar a cultura da corrupção que os políticos brasileiros institucionalizaram ao longo de décadas", diz, citando Lula e o presidente Michel Temer como parte deste movimento.

O jornal diz que os políticos acusam o Judiciário de ser tendencioso, mas explica que organizações importantes na luta contra a corrupção, como a Transparência Internacional, acreditam no processo como um "momento transformador" no país.

A tese de motivação política da Lava Jato também é recusada por reportagem na revista "The New Yorker". O ex-correspondente Alex Cuadros detalha as acusações contra Lula, mas diz que as investigações vão além dele.

"O problema dessa teoria [da perseguição política] é que a Operação Lava Jato também teve como alvo políticos de direita. O atual presidente, Michel Temer, que ajudou a orquestrar o impeachment de Dilma Rousseff, é uma das muitas figuras conservadoras que enfrentam acusações de corrupção. Na verdade, políticos poderosos tanto na direita quanto na esquerda começaram a se unir silenciosamente contra a Lava Jato", diz.

Reportagem do 'New York Times" sobre ataques contra a Justiça no Brasil

A reportagem chama a condenação de Lula de "a mais importante na história do Brasil". Cuadros explica o processo contra o ex-presidente, diz que Lula não foi o primeiro presidente a se envolver em corrupção, mas alega que ele incorporou a cultura do "rouba, mas faz".

"Lula ajudou milhões de pobres do país, mas defender ele cria o risco de enfraquecer a luta contra a impunidade."

A agência de economia Bloomberg também publicou um editorial analisando a condenação de lula e o estado da luta contra a corrupção no Brasil. Em sua avaliação, a Justiça está avançando muito no país, mas precisa garantir que as investigações têm total transparência.

"Os mercados comemoraram a condenação de Lula, cujas políticas populistas foram vistas como uma ameaça à passagem de reformas econômicas muito necessárias. Eles também saudaram a aprovação da legislação que tornará os mercados de trabalho brasileiros mais flexíveis. Mas quem torce por uma recuperação econômica mais rápida deve lembrar que o sucesso das reformas –começando com correções no sistema de previdência do Brasil – depende, em última instância, do apoio público. este apoio não existirá enquanto os eleitores acreditarem que seus representantes estão além do alcance da justiça."

A análise publicada pela revista "The Economist" vai além em sua crítica aos ataques à Lava Jato. Essa posição, diz, é que tem interesses partidários.

A publicação admite que houve alguns exageros por parte da Justiça, mas defende que, se ela for além do ex-presidente, não será possível chamá-se de tendenciosa.

A defesa da continuidade da Lava Jato além da condenação de Lula tem sido o tom mais forte da imprensa e de analistas estrangeiros desde o anúncio da decisão do juiz Sérgio Moro.

Em editorial, o jornal de economia "Financial Times" explicou que a luta contra a corrupção é um processo que afeta o país, mas que é preciso continuar com este esforço.

"Mudar o Brasil de vez requer um trabalho mais profundo –como a reforma dos sistemas partidários e eleitorais do país. É desse poço que vem a corrupção. O desafio do próximo presidente do Brasil é drenar este poço e restaurar a confiança nas instituições políticas", diz.

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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