Após pedir renúncia de Dilma, 'Le Monde' chama impeachment de farsa
Se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff não é um golpe de Estado, é no mínimo uma farsa, uma tragicomédia política, diz um editorial do jornal francês "Le Monde". As verdadeiras vítimas do processo, segundo o jornal, não é Dilma, mas os próprios brasileiros.
"Dilma Rousseff cometeu erros políticos, econômicos e estratégicos. Mas sua expulsão, motivada por peripécias contábeis às quais ela recorreu bem como muitos outros presidentes, não ficará para a posteridade como um episódio glorioso da jovem democracia brasileira", defende o "Monde"
O jornal critica o processo, mas admite que o impeachment está previsto pela Constituição brasileira e tem roupagem de legitimidade. "De fato, ninguém veio tirar Dilma Rousseff, reeleita em 2014, usando baionetas."
O 'Monde' destaca ainda a ironia de que a presidente afastada tenha perdido força política em meio a manifestações contra a corrupção no país, mas que ela não é acusada por envolvimento nesses esquemas.
O editorial consolida uma mudança de posição do "Monde" em relação à política brasileira, que diminuiu o tom de críticas à presidente afastada e passou a ser mais forte contra o processo político em curso no país.
Em um texto de opinião publicado em março, o jornal criticava a defesa do governo e defendia a renúncia da presidente. Segundo o texto da época, o governo deveria escolher melhor os termos usados para se defender em meio à crise política do país, sem falar em "golpe" para tentar desqualificar o posicionamento da oposição.
O texto foi publicado com o título em francês "Ceci n'est pas un coup d'Etat" (Isso não é um golpe de Estado). Ele questionava a posição do governo e defendia que "a destituição de um chefe de Estado é prevista e regulamentada pela Constituição brasileira".
O editorial de março foi criticado internamente no jornal, e o "Monde" passou a ser mais cuidadoso com a cobertura da política brasileira desde então.
Dois meses depois, em maio, o jornal dizia que Dilma foi retirada do poder de forma brutal após manobras que não honram o conjunto da classe política brasileira, já bastante desacreditada.
"Na verdade, o triste caso e a última manifestação de um enorme mal-estar provocado por um mundo político amplamente corrompido, tanto à direita quanto à esquerda", dizia o jornal. "Sem dúvida seria melhor ter novas eleições", completou.
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