Estudo – Brasilianismo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br Daniel Buarque é jornalista e escritor com mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute do King's College de Londres. Fri, 31 Jan 2020 12:20:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Democracia frágil e disputas políticas limitaram a força do Brasil no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/03/democracia-fragil-e-disputas-politicas-limitaram-a-forca-do-brasil-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2019/08/03/democracia-fragil-e-disputas-politicas-limitaram-a-forca-do-brasil-no-mundo/#respond Sat, 03 Aug 2019 07:00:47 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5688 Para o pesquisador Obert Hodzi, da Universidade de Helsinki, a democracia frágil do Brasil e as disputas políticas restringiram seu papel de potência global emergente. Autor de um artigo sobre a perda do ímpeto do grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul, ele alega que sucessivos governos do Brasil foram absorvidos pela política interna, negligenciando o papel global do país.

A credencial da democracia e o crescimento econômico foram usados pelo Brasil (junto com a Índia e a África do Sul) para tentar construir uma maior presença global para o país e reordenar a ordem internacional no começo do século. Menos de duas décadas depois da criação do grupo IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul), os três países parecem ter alcançado pouco. Para alguns analistas, o esforço deles pode ser questionado como apenas “bravatas vazias ou ilusões esperançosas”, segundo um artigo acadêmico publicado pelo pesquisador Obert Hodzi, da Universidade de Helsinki, na Finlândia.

No caso específico do Brasil, ao longo dos últimos anos, sucessivos governos foram absorvidos pela política interna, negligenciando o papel global do país, avaliou Hozdi em entrevista ao blog Brasilianismo. “Em linhas gerais, diria que a democracia frágil do Brasil e as disputas políticas restringiram seu papel de potência global emergente”, disse.

Autor do artigo acadêmico ‘Empty bravado or hopeful illusions’: rising democratic powers and reordering of the international system’ (que pode ser traduzido por algo como ‘Bravata vazia ou ilusões esperançosas’: Democracias emergentes e a reordenação do sistema internacional), Hozdi faz questão de deixar claro que não é um especialista na política externa do Brasil, mas estudou o caso do país juntamente com os outros membros do IBAS, e vê um contexto semelhante de perda do ímpeto deles no âmbito global.

Segundo ele, a expectativa dos três países de reordenar o sistema internacional está diminuindo porque eles não conseguiram converter suas credenciais democráticas e crescimento econômico em influência global.

Leia abaixo a entrevista completa

Brasilianismo – Seu artigo recente diz que houve uma época em que parecia que o Brasil (assim como a Índia e a África do Sul) seria capaz de aumentar sua influência e tornar-se um ator mais relevante no mundo. Olhando para o Brasil agora, você diria que essa oportunidade passou completamente?
Obert Hodzi – A oportunidade não passou completamente, o Brasil simplesmente perdeu o ímpeto. Sob o presidente Lula, o Brasil era um empreendedor normativo. Desde então, os sucessivos governos no Brasil foram absorvidos pela política interna, negligenciando seu promissor papel global.

Brasilianismo – O que mudou? O que deu errado?
Obert Hodzi – Em linhas gerais, diria que a democracia frágil do Brasil e as disputas políticas restringiram seu papel de potência global emergente. Além disso, a desaceleração econômica no Brasil nos últimos anos tornou difícil para o Brasil patrocinar normas globais alternativas e influenciar questões globais. A contínua ascensão da China e os desafios globais à democracia liberal contribuíram para o declínio da presença global do Brasil.

Brasilianismo – Existem diferenças entre os casos do Brasil, Índia e África do Sul?
Obert Hodzi – Os três países estão enfrentando os mesmos desafios, desacelerando o crescimento econômico e, no caso da África do Sul e do Brasil, se recuperando da depressão econômica –desafios políticos internos– e todos foram ofuscados pela China, que apesar de sua economia estar desacelerando, tornou-se uma fonte alternativa de financiamento internacional para o desenvolvimento e lançou projetos globais como a Iniciativa Cinturão e Rota e o Asia Infrastructure Investment Bank. O populismo crescente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, que está desafiando a base da ordem internacional liberal, que os três países procuraram avançar, não está facilitando as coisas para os três países. Talvez isso explique porque o IBAS está quase extinto.

Brasilianismo – A história do Brasil é fortemente marcada por essa ambição de alcançar um papel global mais proeminente. Isso foi algo alcançável? Ou você consideraria isso “bravata vazia e ilusões esperançosas”?
Obert Hodzi – A ambição de alcançar um papel global mais proeminente é inatingível para um Brasil isolado. No entanto, pode alcançá-lo através de parcerias estratégicas com outras potências globais emergentes –sua parceria com a Índia e a África do Sul teve e pode ainda ter potencial para aumentar a influência global do Brasil– mas, sozinho, com sua influência regional desafiada por outros países, é uma ilusão esperançosa.

Brasilianismo – O que o Brasil poderia fazer de maneira diferente para promover seus interesses globalmente?
Obert Hodzi – Não sou um especialista no caso do Brasil, mas posso comentar de forma geral que, como outras potências emergentes no Sul Global, o Brasil precisava investir em alianças estratégicas com poderes semelhantes no Sul Global para alavancar sua posição. Sua necessidade é a adesão e o apoio dos países de sua região e do Sul Global, a fim de alcançar seus objetivos de política externa e aumentar sua influência regional e global.

Brasilianismo – Um dos principais pontos do seu trabalho é que o Brasil (junto com Índia e África do Sul) tentou converter suas credenciais democráticas e seu crescimento econômico em influência global quando seu poder econômico ainda estava no auge e as credenciais democráticas ainda eram admiráveis. Pensando na situação atual, com a democracia sendo considerada em risco no Brasil, até que ponto isso pode afetar ainda mais a posição internacional do Brasil?
Obert Hodzi – O efeito sobre a posição internacional do Brasil é significativo –com uma economia em dificuldades e desafios políticos internos, o Brasil não tem os meios para melhorar sua influência global. A China está invadindo cada vez mais o quintal do Brasil, deixando pouco ou nenhum espaço para o Brasil manobrar. O Brasil, no futuro previsível, continuará na sombra da China.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Brasil é o 5º colocado em novo ranking de países ‘mais ignorantes’ do mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/12/21/brasil-e-o-5o-colocado-em-novo-ranking-de-paises-mais-ignorantes-do-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/12/21/brasil-e-o-5o-colocado-em-novo-ranking-de-paises-mais-ignorantes-do-mundo/#respond Fri, 21 Dec 2018 13:38:43 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=5070 O Brasil ficou em quinto lugar na nova edição do ranking que mede o quanto os países têm noção equivocada sobre a própria realidade.

Chamada “Os Perigos da Percepção”, a pesquisa anual é realizada pelo instituto Ipsos. O estudo foi realizado em 37 países e se baseia em entrevistas com pessoas em cada um deles sobre o que elas acham sobre a realidade que vivem. A pesquisa então compara esta percepção com os dados oficiais. Quanto maior a diferença entre percepção e realidade, maior a “ignorância” da população –e por isso o ranking geral foi chamado originalmente de “índice de ignorância”.

A cada edição, o foco das perguntas é diferente –portanto os rankings anuais não podem ser comparados uns aos outros ou serem vistos como evolução–, mas o Brasil esteve entre os líderes de percepção equivocada em todos os anos em que a pesquisa foi realizada. Em 2017, o país aparecia como o segundo país com menos noção sobre a própria realidade, atrás apenas da África do Sul. Um ano antes, ficou em sexto lugar.

Na edição deste ano, o foco das perguntas tratou sobre temas relacionados à formação da população, imigração, segurança, criminalidade, comportamento sexual, violência sexual, saúde, economia, ambiente e outros temas.

Em 2018, o Brasil ficou atrás de Tailândia, México, Turquia e Malásia. Os lugares em que a população tem uma maior noção sobre a realidade em que vivem são Hong Kong, Nova Zelândia, Suécia, Hungria e Reino Unido.

Essa falta de noção dos brasileiros sobre a própria realidade pode afetar até mesmo o funcionamento da democracia, segundo o ex-diretor de pesquisas do Ipsos, Bobby Duffy, autor do livro “The Perils of Perception: Why we’re wrong about nearly everything” (Os perigos da percepção: Por que estamos errados sobre praticamente tudo).

Em entrevista ao blog Brasilianismo, em setembro, Duffy indicou que candidatos extremistas tendem a se beneficiar da falta de noção da realidade.

Ele também explicou que o problema não é exatamente “ignorância”, como dizia a pesquisa originalmente, mas o fato de que as pessoas acreditam ativamente em coisas factualmente erradas, têm uma percepção equivocada da realidade (chamada “misperception” em inglês).

Segundo o livro, é possível ver uma correlação entre o nível de certeza que a pessoa tem sobre sua avaliação e o de percepção equivocada da realidade. Quanto mais certa a pessoa acha que está sobre um determinado tema, mais alta a chance de ela estar errada.

“A questão não é falta de conhecimento, mas que elas acham que estão certas, mesmo que não estejam. São duas coisas diferentes. Percepções erradas são mais difíceis de lidar do que ignorância. Quando as pessoas não têm conhecimento sobre algo, elas podem ser ensinadas. É mais difícil convencer pessoas que acham que sabem algo que na verdade está errado. Mudar a percepção das pessoas é mais difícil”, explicou.

Imigração

Alguns dos dados da pesquisa deste ano foram publicados em reportagem de Flávia Mantovani na Folha nesta sexta (21).

O jornal mostra que os brasileiros acreditam que o país tem muito mais imigrantes do que realmente tem, e que é o quarto país com a percepção mais equivocada em relação à porcentagem de imigrantes, atrás apenas de Colômbia, África do Sul e Peru. A resposta média dos entrevistados é que 30% da população é formada por imigrantes, quando o índice verdadeiro é de aproximadamente 0,4%.

Os brasileiros também acham que o país tem muito mais muçulmanos do que tem na realidade. O palpite médio foi de 16 a cada 100 pessoas, quando o dado oficial é de menos de 1%.

Ouvida pelo jornal, a pesquisadora Elissa Fortunato, vice-presidente de uma ONG que acolhe imigrantes em São Paulo, disse que o aumento dos fluxos migratórios recentemente no Brasil, principalmente de haitianos, sírios e venezuelanos, pode ter contribuído para a percepção superestimada.

“As pessoas passam a acreditar que aquilo é um problema muito maior do que é. Se as fronteiras onde chegam venezuelanos estivessem mais preparadas para recebê-los, por exemplo, o impacto sobre os serviços públicos seria menor e a percepção das pessoas poderia mudar.”

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Favorito, Brasil é o finalista que menos faz cera, diz site de estatísticas http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/07/06/favorito-brasil-e-o-finalista-que-menos-faz-cera-diz-site-de-estatisticas/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/07/06/favorito-brasil-e-o-finalista-que-menos-faz-cera-diz-site-de-estatisticas/#respond Fri, 06 Jul 2018 08:10:01 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4605 Por mais que as imagens de Neymar rolando no chão pedindo falta tenham se tornado as mais discutidas em todo o mundo durante esta Copa da Rússia, o Brasil é o time que menos faz cera e atrasa o jogo entre os oito finalistas que continuam na disputa.

A informação foi publicada pelo site de jornalismo baseado em estatísticas FiveThirtyEight, um dos mais respeitados do mundo, que calculou o tempo que cada time atrasou o recomeço do jogo durante a Copa.

O levantamento analisou o tempo médio que jogadores levaram para cobrar lateral, tiro de meta, escanteio, falta e para fazer substituições. No total, foram analisados 4.529 dados da Copa para concluir que os times que estão vencendo demoram em média 34% mais tempo para realizar estas atividades do que os times que estão perdendo o jogo. Quando isolado o período final do jogo (últimos 30 minutos), a diferença aumenta para 43%.

Em vez de fazer cera, o Brasil levou em média 2 segundos a menos para executar cada uma das cinco ações enquanto estava à frente do placar. Os times que mais fizeram cera na fase de grupos foram o Peru (6,1 segundos a mais), a Sérvia (5,7 segundos a mais) e a Suécia (5,7 segundos a mais). A Bélgica, que enfrenta o Brasil nesta sexta-feira, demorou 0,1 segundo a mais do que a média de tempo de todas as equipes.

“Curiosamente, apesar de toda a atenção negativa que Neymar e o Brasil tiveram por desperdiçar tempo caindo, a equipe foi uma das três de nossa amostra que completou as cinco ações rotineiras mais rapidamente do que o ritmo médio enquanto estavam à frente no placar”, diz o site.

“Entre as oito equipes que ainda lutam para levar para casa o troféu da Copa do Mundo, a França e a Suécia foram as mais eficazes em gastar o tempo –levando uma média de quase 6 segundos a mais por atividade do que a média de todas as equipes em todos os cenários. Estes dois arrastaram os pés de formas diferentes: a Suécia demorou a fazer as substituições e bater escanteios, enquanto a França mostrou-se particularmente lenta nas cobranças de falta e lateral”, diz o FiveThirtyEight.

O site de estatísticas tem acompanhado vários detalhes da Copa do Mundo. Antes do início da competição, ele indicava que o Brasil era a equipe mais forte na disputa. Às vésperas da disputa das quartas de final, o FiveThirtyEight continua indicando o Brasil como o favorito ao título.

“Em uma Copa do mundo cheia de decepções, uma coisa se mantém consistente: O Brasil é o melhor time de futebol do mundo. A Seleção chegou ao torneio jogando como o melhor time do mundo. Após quatro partidas na Rússia, eles jogaram como o melhor time da competição –tanto na forma como atacam quanto na forma como defendem. Enquanto outros favoritos caíram, o Brasil continua entregando, e há motivo para acreditar que o time ainda não atingiu seu potencial máximo”, diz.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Por que a mídia internacional chama atenção no Brasil e por que ela importa http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/03/18/por-que-a-midia-internacional-chama-atencao-no-brasil-e-por-que-ela-importa/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/03/18/por-que-a-midia-internacional-chama-atencao-no-brasil-e-por-que-ela-importa/#respond Sun, 18 Mar 2018 20:58:18 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4359

Seminário sobre a cobertura internacional sobre o Brasil, na Universidade de Oxford

Os brasileiros em muitos momentos parecem obcecados com as descrições e comentários sobre o país na imprensa internacional. A forma como o país é retratado no resto do mundo tem importância na reputação do país, ela faz parte da consolidação da própria identidade nacional e influencia a situação política brasileira e suas relações com outras nações em uma arena global.

Este blog Brasilianismo completa três anos neste domingo (18), e esta é a postagem de número 1.001. Desde 2015, foram publicados comentários, análises e entrevistas quase diários sobre como o país é visto e analisado a partir de uma perspectiva externa. Este texto “comemorativo” resume de forma breve um seminário sobre o tema apresentado por seu autor no fim de fevereiro na Universidade de Oxford. A ideia era apresentar o interesse do Brasil pela forma como o país é retratado do exterior, e analisar a importância desse “espelho” da imagem do país.

O primeiro ponto é entender esta “obsessão” com a imagem internacional. Apesar de não haver uma explicação simples e direta para sua origem, o interesse pela forma como o país é visto no resto do mundo aparece com frequência em vários pontos da história. Desde o livro do alemão Hans Staden, que em 1557 ajudou a popularizar na Europa a imagem de selvagens canibais que viviam no Brasil, já se vê um líder indígena que é curioso sobre o que os portugueses falavam sobre ele. Mais tarde, a primeira “história” do Brasil foi amplamente construída a partir de relatos de viajantes europeus, o que criou uma dependência desse olhar externo para a própria formação do país.

A afirmação da identidade brasileira em muitos momentos se construiu em cima do discurso do “outro”, e criou no país um grande interesse pelo que dizia este discurso, tanto gerando defesas orgulhosas do país quanto se desenvolvendo como um “complexo de vira-latas” que faz os brasileiros valorizarem mais o que vem de fora do que o que é produzido no país.

Tanto foi assim que a vinda da família real portuguesa, em 1808, se deu acompanhada de uma missão de pesquisadores e artistas, que iam ajudar a desenhar a imagem do país. Depois disso, desde a Independência, no século XIX, o governo do país que se formava se preocupava com o que diziam jornais europeus, e trabalhava para melhorar a imagem do país no exterior. Isso se repetiu desde então, e até hoje volta a acontecer.

É desde este período de formação do Brasil que se consolida a frase “para inglês ver”, que já diz muito sobre a preocupação brasileira com o que é visto, e pensado, pelos estrangeiros.

Em seu recente livro sobre a história da diplomacia brasileira, Rubens Ricupero explica como o Brasil trabalhava seu “soft power”, o poder de persuasão em relações internacionais, desde o barão de Rio Branco, muito antes de a ideia de soft power existir na teoria. Segundo ele e outros historiadores, a busca por reconhecimento e prestígio foi uma das principais pautas do Brasil no cenário internacional desde o começo da sua história.

Com o tempo, a imprensa estrangeira virou o centro da atenção dos brasileiros quando buscam o reconhecimento internacional. A mídia se consolidou como “árbitro” do que acontece de relevante no país, como explica o pesquisador chileno César Jiménez-Martínez em sua tese de doutorado pela London School of Economics.

A ascensão dessa importância da repercussão internacional veio com críticas, naturalmente, e muitas pessoas acham que o interesse exagerado pelo que “deu no ‘New York Times’”, ou “disse a ‘Economist’”. Há quem fale até mesmo em “nostalgia do colonizador”. A questão, entretanto, é que com exagero ou não, a imprensa estrangeira e a imagem internacional de fato são importantes para um país emergente que tenta conquistar mais espaço em relações comerciais e diplomáticas no exterior.

A imprensa é reconhecida como o principal meio condutor da imagem nacional de um país no resto do mundo, e é capaz de influenciar na forma como os outros países pensam sobre o Brasil, por exemplo. Além disso, muitos pesquisadores apontam para o fato de que a imprensa pode ser pensada como um “termômetro” do que se pensa sobre um país no resto do mundo. Ele ajuda a entender a opinião externa. Uma terceira forma de pensar a relevância da mídia internacional é como se ela desse voz ao que o mundo pensa sobre o país. A imprensa seria como um “porta-voz” do que outras nações pensam sobre o que acontece no Brasil.

Curiosamente, apesar da importância da imagem internacional na imprensa estrangeira e do interesse dos brasileiros por ela, alguns estudos indicam que o próprio Brasil é responsável por grande parte do que sai nos jornais do resto do mundo. A imprensa internacional se alimenta da mídia nacional, explica Antonio Brasil, por exemplo. Os brasileiros oferecem a base do que essa imprensa de fora diz, e a projeção de estereótipos pode até ser pensada como um resultado da auto-imagem dos brasileiros, que também se desenvolve com altas doses de clichês.

A imprensa internacional pode ser vista como um bom termômetro para analisar o impacto de grandes eventos globais sediados pelo Brasil recentemente, por exemplo. Estudos mostram como a mídia reforçou estereótipos sobre o país na Copa e na Olimpíada, reforçando a imagem do país como “decorativo”, um lugar de festas sem tanta relevância em assuntos sérios. Os eventos não chegaram a piorar a imagem do país, mas colocaram o Brasil sobre holofotes em um momento de crise, o que fez com que a força da reputação do país se deteriorasse um pouco.

Levantamentos sobre o que sai a respeito do Brasil na mídia do exterior aponta a inversão da qualidade da imagem nacional ao longo da última década. O país passou de uma situação em que 80% das menções a ele no resto do mundo era positiva para um momento em que 8 em cada dez referências são negativas. Segundo os principais estudos, o foco dessa imagem negativa é a cobertura da política brasileira como disfuncional.

A pesquisa do chileno Jiménez-Martínez aponta especificamente para as jornadas de Junho como o ponto de virada, momento em que a imagem do país passou de positiva a negativa. Ali, ele explica, houve uma disputa pela imagem que se construiria do Brasil, e manifestantes chegaram a levar cartazes em inglês para protestos nas ruas. Apesar de um otimismo inicial, em que estrangeiros viam nas manifestações um sinal de democracia, o que se construiu ali foi a cascata de notícias negativas que mostravam, pela direita e pela esquerda, que a política brasileira não funcionava muito bem.

A imagem negativa da política na imprensa estrangeira revelou um país em que o sistema tem muitos problemas em sua raiz, favorecendo a manipulação e o populismo. A análise internacional do impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, foi muito negativa. Por mais que no geral não tenha se consolidado o discurso de que houve um golpe de Estado, a avaliação mais forte foi de que não foi um processo equilibrado, justo e positivo para o Brasil.

Esta abordagem é semelhante no que se vê a respeito da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por mais que no geral se admita que ele não seja inocente, o processo parece cheio de problemas quando analisado pela imprensa internacional, que tenta explicar o que acontece no país para um público pouco familiar com as nuances da política brasileira.

Este é um ponto central da cobertura feita pela mídia estrangeira a respeito do Brasil. Ao tratar das notícias brasileiras sob um ponto de vista externo, apresentando os fatos a um público também estrangeiro, os jornalistas do resto do mundo precisam ter uma atenção muito maior a contextos e explicações. Há uma constante tentativa de resumir e explicar para leigos, o que gera uma cobertura por vezes aprofundada e interessante.

A imprensa estrangeira se comporta, portanto, como uma “floresta”. Ela dá uma visão mais distante e contextualizada do que acontece no país, enquanto a mídia nacional se ocupa de “árvores”, pequenas pílulas de noticiário apresentadas para quem está dentro da floresta. Enquanto a imprensa nacional pode noticiar a cada dia o que acontece de novo no processo contra Lula, por exemplo, a imprensa estrangeira cuida de uma cobertura mais genérica, menos atenta a cada detalhe, e sempre preocupada em contextualizar e explicar até mesmo quem é este tal de “Lula”.

Isso acaba vindo com simplificação, naturalmente, e com estereótipos. Os clichês, por mais que possam incomodar, são usados em ampla medida para atrair o leitor estrangeiro não familiarizado com o país e com o tema. Ao lembrar que o Brasil é o país do carnaval, um jornal internacional pode conseguir fazer com que um leitor que não se interessa pelo país consiga se aproximar do que está sendo tratado, se identificar com o que ele consegue entender naquela cobertura.

É este Brasil cheio de estereótipos e simplificado, mas construído em parte com base no que os próprios brasileiros pensam e falam, que se forma no “espelho” da imprensa internacional. O país é contextualizado e explicado para quem não o conhece, e acaba ajudando a consolidar a imagem geral que o resto do mundo tem a respeito do Brasil.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Pesquisa aponta sucesso de política de cotas em universidades brasileiras http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/01/09/pesquisa-aponta-sucesso-de-politica-de-cotas-em-universidades-brasileiras/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2018/01/09/pesquisa-aponta-sucesso-de-politica-de-cotas-em-universidades-brasileiras/#respond Tue, 09 Jan 2018 10:24:30 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4150

Estudo publicado nos EUA aponta sucesso de política de cotas em universidades brasileiras

Uma pesquisa acadêmica realizada nos Estados Unidos e publicada neste início de 2018  indica que não há diferença estatisticamente significativa no desempenho acadêmico entre estudantes admitidos em universidades brasileiras com cotas raciais e aqueles que tiveram a admissão sem usar cotas.

O estudo foi realizado no departamento de economia aplicada da University of Minnesota, nos EUA, pela pesquisadora Claudia Bueno Rocha Vidigal. Ele se baseou em resultados de mais de 465 mil provas do Enade no Brasil.

Com o título “Racial and low-income quotas in Brazilian universities: impact on academic performance” (Cotas raciais e de baixa renda nas universidades brasileiras: impacto no desempenho acadêmico), o trabalho foi publicado na edição mais recente da revista acadêmica “Journal of Economic Studies”.

Após a publicação acadêmica, o trabalho ganhou destaque nesta semana em uma reportagem do “Times Higher Education” (THE), um dos principais veículos de imprensa sobre educação superior do mundo.

Segundo a avaliação do “THE”, é possível indicar que as cotas são um projeto bem-sucedido no Brasil, mas é preciso haver mais políticas para reduzir a desigualdade na educação no país.

“A primeira análise nacional das cotas de admissão em universidades do Brasil encontrou altos níveis de desempenho entre estudantes admitidos por este sistema, mas adverte que as lacunas de desempenho não podem ser fechadas apenas por ação afirmativa”, diz a reportagem.

A ressalva se baseia no fato de que, apesar de mostrar que não há diferença entre os estudantes admitidos com cota racial, a pesquisa aponta que há uma lacuna entre alunos admitidos com cotas para estudantes de baixa renda. A diferença na avaliação entre cotistas de baixa renda e não cotistas é em média de 14%, segundo o estudo.

Ainda assim, a pesquisadora defendeu a importância das cotas no país. “Os dois tipos de cotas são benéficos, pois proporcionam educação universitária a estudantes desfavorecidos que normalmente não teriam acesso a ela”, disse, em entrevista ao “THE”.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Retrospectiva: 2017 foi o ano de rebaixamentos da imagem do Brasil no mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/12/29/retrospectiva-2017-foi-o-ano-de-rebaixamentos-da-imagem-do-brasil-no-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/12/29/retrospectiva-2017-foi-o-ano-de-rebaixamentos-da-imagem-do-brasil-no-mundo/#respond Fri, 29 Dec 2017 13:33:38 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4123

Ilustração da rede CNN sobre as crises da economia brasileira

O ano que chega ao fim no domingo vai ficar marcado pela série de rebaixamentos na reputação do Brasil no resto do mundo. A percepção a respeito do país piorou em todo o planeta nos últimos anos, segundo os principais estudos que avaliam a imagem do Brasil no exterior em 2017. Em muitas das pesquisas de opinião globais, o país apareceu em seu pior momento em mais de uma década de estudos deste tipo.

Um levantamento realizado pelo blog Brasilianismo revela que em sete das principais análises sobre a “marca” do Brasil a imagem internacional do país caiu várias posições nos rankings de nações do mundo. Em alguns dos estudos a queda foi de mais de dez posições em poucos anos, e em outros o Brasil chegou em 2017  a sua pior posição da história.

Todas as medidas de soft power (poder de convencimento sem uso da força), de reputação e sobre a forma como o Brasil é percebido no resto do mundo parecem mostrar que a imagem do país piorou no mesmo período em que mais tentava se promover globalmente, quando sediou a Copa do Mundo e a Olimpíada para atrair a atenção global. Por mais que usem metodologias diferentes, todas as pesquisas confirmam a mesma tendência: o Brasil perdeu seu potencial de atrair e encantar.

A tabela abaixo resume a queda nas percepções internacionais do Brasil de acordo com os diferentes estudos globais, mostrando as posições em que o país aparecia em rankings internacionais em 2016 e em 2017.

Embora não exista um modelo de medida e avaliação de imagem internacional de países aceita de forma unânime, pesquisadores da área argumentam que esses índices com diferentes metodologias normalmente se apoiam e se complementam, o que significa que as medidas têm alguma base no que realmente é a imagem do país.

Apesar de todos esses estudos se basearem principalmente na opinião de cidadãos em diferentes países do mundo, outras duas medidas diferentes de imagem internacional, com diferentes abordagens, também descrevem uma piora no posicionamento global do Brasil –e podem ajudar a explicar a queda de qualidade registrada nas pesquisas.

Em 2017, o país obteve a sua pior posição em mais de dez anos do Anholt-GFK Nation Brands Index, a pesquisa mais citada e respeitada da reputação das nações. Depois de passar anos classificado em torno do 20º lugar até antes da Copa do Mundo, tornou-se o 25º ano após os Jogos Olímpicos.

Em questão de quatro anos, entre 2013 e 2017, perdeu dez posições no levantamento Country RepTrak, caindo de 21º a 31º. Além disso, perdeu seu primeiro lugar como a nação com a melhor reputação na América Latina para a Argentina, no FutureBrand Country Brand Report.

Em uma medida mais diretamente relacionada ao soft power, o Brasil passou do 23º lugar em 2015 para penúltimo (29º) na lista Soft Power 30 em 2017.

Mesmo um novo ranking de reputação internacional, o Best Countries, primeiro desenvolvido após o país sediar a Copa do Mundo, mostrou que o Brasil caiu do 20º lugar em 2016 para o 28º em 2017.

Por um lado, o Índice Good Country desenvolvido mais recentemente mostrou que o Brasil caiu da 49º posição entre os países com maior contribuição para a humanidade em 2015 para o 80º lugar no ranking de 2017. Embora os acadêmicos que desenvolveram o ranking argumentem que não é correto tratar a queda como tal, uma vez que houve uma mudança de metodologia, isso mostra que o Brasil não está se esforçando para ajudar o mundo, o que está fortemente correlacionado com a percepção estrangeira de uma nação.

Por outro lado, um estudo de como o Brasil é retratado na mídia internacional mostra que, em menos de uma década, o tom utilizado pela imprensa internacional para se referir ao país foi 80% positivo para 80% negativo.

De acordo com a análise I See Brazil, entre o ano anterior à Copa do Mundo e o ano após os Jogos Olímpicos, a proporção de reportagens com tom negativo na imprensa estrangeira passou de 3,6 em cada 10 menções em 2013 para o Brasil para 8 em 10 em 2017. Para muitos pesquisadores, a cobertura da mídia está relacionada ao desenvolvimento da imagem de um país, embora seja correto avaliar que a perspectiva negativa da mídia sobre um país mostra problemas reais que a nação enfrenta.

Não existe uma explicação simples para justificar uma piora tão marcante na avaliação do Brasil no mundo em tantos rankings diferentes, mas é fácil de perceber que a situação política e econômica do país bem no momento em que os holofotes globais se concentravam sobre ele tenha contribuído para isso.

Por mais que a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada tenham sido consideradas bem-sucedidas, ao sediar eventos globais de grande visibilidade como estes o Brasil se expôs ao mundo, com todas as suas falhas e em meio a graves crises política, social e econômica. O resto do planeta reconheceu, mais uma vez, que o Brasil sabe realizar grandes festas globais, mas reforçou a sua percepção de que este é o máximo que o país consegue fazer. O Brasil atraiu a atenção internacional, mas, por conta das duas crises, não conseguiu promover sua imagem como uma potência emergente e séria em termos de política e economia.

Alguns dos levantamentos de imagem citados acima chegam a citar a pior recessão da história, os imensos escândalos de corrupção, a crise política, o impeachment de Dilma Rousseff, a perda de credibilidade dos políticos do país, o aumento da violência e, especialmente, a piora na qualidade de vida da população, como causas para esta piora na imagem.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Pesquisa indica que o Brasil é um dos países ‘mais ignorantes’ do mundo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/12/06/pesquisa-indica-que-o-brasil-e-um-dos-paises-mais-ignorantes-do-mundo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/12/06/pesquisa-indica-que-o-brasil-e-um-dos-paises-mais-ignorantes-do-mundo/#respond Wed, 06 Dec 2017 09:40:47 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=4071

Pesquisa indica que o Brasil é um dos países ‘mais ignorantes’ do mundo

Enquanto a crise faz o Brasil cair posições em todos os rankings que avaliam a qualidade da sua imagem e reputação internacionais, o país conseguiu melhorar sua classificação em um índice bem negativo, o de países “mais ignorantes” do mundo. Em apenas um ano, o Brasil subiu da sexta para a segunda colocação no ranking nada positivo.

Uma reportagem publicada na Folha nesta quarta apresenta os resultados da pesquisa “Os Perigos da Percepção”, realizada pelo instituto Ipsos Mori. O estudo apresentou aos entrevistados de 38 países perguntas sobre a sua realidade e em seguida comparou a percepção das pessoas com dados oficiais.

O Brasil só se saiu melhor do que a África do Sul em termos de conhecimento sobre sua própria realidade.

O Ipsos até tentou diminuir o impacto da avaliação, e mudou o nome do ranking que resulta da pesquisa, que no ano passado era chamado de “Índice de Ignorância”, para “Índice de Percepção Errônea”. É verdade que as perguntas apresentadas foram diferentes das do ano passado, mas o cálculo é o mesmo, uma média entre a diferença entre as respostas fornecidas pelos entrevistados e os dados. E os brasileiros estão entre os que têm noção mais equivocada da realidade.

O Brasil é o país em que a população tem a percepção mais errada a respeito da gravidez de adolescentes. Enquanto os entrevistados em média acham que 48% das meninas entre 15 e 19 anos dão à luz, o dado real é de 6,7%.

O país ficou em terceiro lugar na lista daqueles em que a maior parte da população tem percepção equivocada sobre violência. No total, 76% dos entrevistados acham que a taxa de homicídios no Brasil é mais alta do que a registrada no ano 2000, quando o dado oficial indica estabilidade. Só 12% dos brasileiros entrevistados acertaram a resposta.

De forma surpreendente, mais brasileiros do que americanos têm impressão de aumento do terrorismo em seus países. Questionados sobre uma comparação entre o número de vítimas de atentados no período de 15 anos depois do atentado terrorista de 11 de Setembro (2002-2016), 38% dos brasileiros acham que o número aumentou (contra 37% dos americanos.

Brasileiros também têm uma percepção errada sobre imigração e violência. Para os entrevistados, 18% dos presos no Brasil nasceram em outro país, quando o dado real é de apenas 0,4%.

A percepção equivocada sobre questões de saúde também apareceu na pesquisa. Para os brasileiros, 47% das pessoas entre 20 e 79 anos têm diabetes –o dado real é de 10%.

Outro tópico abordado pela pesquisa foi o uso de tecnologias. Brasileiros acham que 85% das pessoas do país têm smartphones, quando a realidade é que apenas 38% delas têm esses aparelhos. De forma parecida, entrevistados acham que 83% dos brasileiros têm uma conta no Facebook, quando o dado oficial é de apenas 47%.

Por outro lado, o Brasil é um dos países em que menos se acredita que vacinas causem autismo. Apenas 10% dos entrevistados disseram concordar com essa relação. Por outro lado, 54% discordam dessa relação.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Com crise política, imprensa dos EUA tem pico de cobertura sobre o Brasil http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/05/18/com-crise-politica-imprensa-dos-eua-tem-pico-de-cobertura-sobre-o-brasil/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/05/18/com-crise-politica-imprensa-dos-eua-tem-pico-de-cobertura-sobre-o-brasil/#respond Thu, 18 May 2017 22:14:03 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=3383

Com crise política, imprensa dos EUA tem pico de cobertura sobre o Brasil

A crise política no Brasil e as denúncias contra o presidente Michel Temer geraram um pico no número de reportagens sobre o Brasil na imprensa dos Estados Unidos, segundo Tom Reichert, chefe do departamento de publicidade e relações públicas da Universidade da Georgia (EUA).

Em entrevista publicada pela Folha, Reichert disse que minutos antes de Temer declarar que não renunciaria ao cargo, a notícia da crise política no Brasil já era o segundo tema mais falado na mídia dos EUA. Agregadores de publicações americanas indicavam que apenas a pressão política sobre Donald Trump era mais tratado na imprensa do país.

Leia a reportagem da Folha sobre o pico de cobertura sobre o Brasil nos EUA

“Os americanos estão acompanhando o noticiário sobre a política brasileira de perto desde o ano passado”, explicou Reichert. “Agora há um pico no número de reportagens sobre o Brasil, por conta da nova crise”, complementou

O pesquisador veio ao Brasil junto com seu colega Itai Himelboim, diretor do departamento de engajamento de redes sociais e publicidade da mesma universidade, para apresentar o mais amplo estudo sobre a percepção da imprensa americana a respeito do Brasil.

Ao longo de 2016, o levantamento coordenado por eles analisou 143.549 reportagens sobre o Brasil na mídia dos EUA.

Segundo Reichert, apesar de o atual escândalo estar chamando muita atenção, e de o foco na instabilidade política levantar discussões sobre as implicações econômicas dela, há uma sensação de que pode haver finalmente uma solução para a crise.

“Depois do atual pico no noticiário, haverá uma oportunidade para mostrar o Brasil no exterior sob um enquadramento novo. Pode haver a sensação de renovação, de dar um passo adiante no sentido da busca da estabilidade e da resolução da crise”, disse.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Brasil começa a melhorar sua imagem na mídia internacional, indica estudo http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/03/01/brasil-comeca-a-melhorar-sua-imagem-na-midia-internacional-indica-estudo/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/03/01/brasil-comeca-a-melhorar-sua-imagem-na-midia-internacional-indica-estudo/#respond Wed, 01 Mar 2017 23:25:55 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=3182

Brasil começa a melhorar sua imagem na mídia internacional, indica estudo

O segundo semestre de 2016 deu início a um lento processo de recuperação da qualidade da imagem internacional do Brasil, após meses de crise que empurraram as percepções sobre o país no resto do mundo a seu ponto mais baixo. A análise faz parte do último relatório do estudo I See Brazil, da agência Imagem Corporativa, que avalia regularmente a imagem do país a partir de pesquisas e da abordagem da imprensa internacional a respeito da reputação do Brasil.

“Um ano que pareceu comportar bem mais do que os 12 meses habituais. Assim foi 2016 em diferentes geografias, inclusive no Brasil – onde tendências já presentes em 2015 seguiram seu curso e levaram tanto ao agravamento da crise econômica quanto ao impeachment da presidente Dilma Rousseff”, diz o estudo, resumindo o ano de muitos acontecimentos que afetaram a imagem do país no resto do mundo.

Ainda que a cobertura que o resto do mundo faz do Brasil tenha começado a melhorar, segundo o levantamento, apenas 29% das reportagens sobre o Brasil na mídia internacional foram positivas no último trimestre do ano passado –contra 71% de textos com teor negativo.

A tendência de melhora fica perceptível quando os dados dos três últimos meses são comparados ao de todo o ano. Em 2016, 81% das reportagens sobre o Brasil na imprensa estrangeira tiveram teor negativo, diz o estudo.

Brasil começa a melhorar sua imagem na mídia internacional, indica estudo

Na reta final do ano, o país atingiu uma nota 3,04 no índice I See Brazil, metodologia criada pela agência para medir as percepções externas sobre o país. A avaliação é melhor do que a de nota 2,278 registrada no terceiro trimestre, quando o índice começou a perceber uma retomada da imagem do Brasil no mundo, e bem mais alta do que o 1,82 ponto atingido pelo índice na média do ano.

Todos os itens avaliados pelo estudo tiveram nota baixa, mas a avaliação foi negativa especialmente por conta do quesito política, que fechou o ano com média 0,58 pontos.

Na média anual, entretanto, foram justamente as reportagens sobre política e economia que começaram a mudar o tom a partir do segundo semestre, melhorando a imagem do país no índice.

“Três fatores contribuíram para este resultado. O afastamento da presidente Dilma Rousseff, associado à continuidade das investigações do Ministério Público Federal (MPF) e à prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pareciam mostrar que a crise política que vinha desde o fevereiro de 2015 estava arrefecendo”, diz o estudo.

O estudo I See Brazil reúne e analisa menções ao Brasil em referências à política, à economia e aos assuntos socioambientais. O estudo considera o que se fala sobre o país em 13 veículos de imprensa internacionais – ”Corriere Della Sera” (Itália), ”Der Spiegel” (Alemanha), ”Economic Times of India” (Índia), ”El País” (Espanha), ”Financial Times” (Reino Unido), ”La Nación” (Argentina), ”Le Monde” (França), ”South China Morning Post” (China), ”The Asahi Shimbun” (Japão), ”The Economist” (Reino Unido), ”The New York Times” (EUA), ”The Toronto Star” (Canadá) e ”The Wall Street Journal” (EUA).

A avaliação dessas menções gera o índice I See Brazil, uma nota de 0 a 10 com base nessa análise, buscando traduzir como o país foi visto no exterior naquele trimestre.

A avaliação histórica dessa nota mostrou que a imagem do Brasil na mídia estrangeira alternou do seu ponto mais positivo ao mais negativo em apenas sete anos. Depois de atingir o patamar de 81,1% de notícias de teor positivo nos principais veículos da imprensa internacional no fim da década passada, neste ano o Brasil aparece com enfoque negativo em mais de 80% nas reportagens estrangeiras que citam o país.

Apesar da perceptível retomada na parte final do ano, o trabalho sobre a reputação do Brasil diz que é preciso manter cautela no otimismo, expressão que já era usada no trabalho do trimestre anterior, quando começou a retomada.

“As incertezas com relação a um possível cenário pós-impeachment e a cautela com relação às primeiras medidas do governo Temer fizeram com o tom negativo continuasse alto – embora com algum espaço para o otimismo”, avalia.

O trabalho sobre 2016 revela ainda que houve um impressionante aumento da atenção estrangeira sobre o Brasil, fruto do noticiário de crises e também da realização dos Jogos Olímpicos. Segundo o I See Brazil, o volume de reportagens sobre o país no resto do mundo subiu 75,68%, de 1.908 menções ao país em 2015 para 3.352 textos em 2016.

“O foco principal do interesse da mídia externa no Brasil em 2016 foi dirigido a questões relacionadas à política (47,37% do total) – em razão, principalmente, do processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff e de temas ligados a corrupção”, diz.

O relatório divulgado nesta semana menciona, além dos dados do estudo completo, o livro “Brazillionaires”, do jornalista americano Alex Cuadros, como “uma das análises mais interessantes do Brasil feitas no exterior ao longo deste ano”.

Em entrevista ao blog Brasilianismo, em julho, Cuadros falou sobre a obra e explicou que os ricos do Brasil merecem um tratado próprio. “A relação entre bilionários e o Estado brasileiro ajuda a entender como o Brasil chegou onde chegou”, disse.

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0
Robert Rotberg: Ação de Sergio Moro tem o potencial de transformar o Brasil http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/01/03/robert-rotberg-acao-de-sergio-moro-tem-o-potencial-de-transformar-o-brasil/ http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2017/01/03/robert-rotberg-acao-de-sergio-moro-tem-o-potencial-de-transformar-o-brasil/#respond Tue, 03 Jan 2017 17:00:17 +0000 http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/?p=2981 Robert Rotberg: Ação de Sergio Moro tem o potencial de transformar o Brasil

Robert Rotberg: Ação de Sergio Moro tem o potencial de transformar o Brasil

O trabalho do juiz federal Sergio Moro no combate à corrupção no Brasil tem o potencial de transformar o país, segundo análise do cientista político Robert I. Rotberg, ex-professor do MIT, presidente emérito da World Peace Foundation e fundador do Programa de Conflitos Intraestatais, Prevenção e Resolução de Conflitos de Harvard.

Em um artigo publicado na prestigiosa revista de relações internacionais “Foreign Affairs”, Rotberg analisou os possíveis impactos da Operação Lava Jato, e indicou que a luta contra a corrupção tem dado passos importantes no país.

“Pesquisas recentes realizadas por mim e por pesquisadores da Alemanha, Suécia e Reino Unido confirmam que liderança comprometida faz a maior diferença na redução da corrupção, especialmente quando ela está profundamente enraizada. Isso é boa notícia para o Brasil, onde Sergio Moro está liderando o processo contra a histórica corrupção endêmica”, diz o artigo.

Robert Rotberg: Ação de Sergio Moro tem o potencial de transformar o Brasil

Robert Rotberg: Ação de Sergio Moro tem o potencial de transformar o Brasil

Rotberg é especialista em temas ligados a corrupção, falência de estados, governança e liderança política em nações falidas. Ele chegou a atuar como consultor do Departamento de Estado dos EUA em temas ligados à política na África.

Segundo ele, mesmo sem ser um político, as ações de Moro criaram um modelo de um tipo único de liderança que está tendo profundo impacto na forma como o Brasil lida com a corrupção.

“Por mais de dois anos, Moro, que está baseado no Estado sulista do Paraná, ouviu um caso após o outro relacionado ao roubo sistemático dos cofres nacionais. Neste período, ele prendeu mais de 40 políticos e executivos de empresas. As punições definidas por Moro estão perto de acabar com a tradição de impunidade entre a classe política do Brasil e deram esperança de reforma aos brasileiros comuns”, diz.

O artigo menciona que críticos acusam o juiz de liderar uma cruzada, mas diz que mesmo assim ele tem tido amplo apoio popular no país, o que tem evitado ações políticas para limitar o alcance da Lava Jato.

Segundo Rotberg, a grande questão é saber se a ação de Moro, mesmo que prenda mais 50 políticos, terá capacidade de fazer com que o Brasil se torne menos corrupto.

“Vai levar uma década até que se saiba isso. Por enquanto, as coisas parecem ser positivas pois a impunidade política foi eliminada e porque as ações exemplares de Moro permitem que brasileiros pela primeira vez possam demonstrar sua intolerância em relação à corrupção pública e empresarial. Foi isso o que aconteceu nos países nórdicos, na Nova Zelândia e no Canadá ao longo de muitas décadas nos séculos 19 e 20. Em cada caso, a transformação foi levada adiante por uma figura ou por figuras como Moro. O juiz com cara de nerd parece que vai realmente transformar o Brasil.”

Siga o blog Brasilianismo no Facebook para acompanhar as notícias sobre a imagem internacional do Brasil

]]>
0