Sequestro tem destaque internacional e piora imagem de violência do Brasil
A rede de TV americana CNN inseriu em sua programação de terça-feira entradas ao vivo e urgentes do Rio de Janeiro. "Breaking News", destacava o canal de notícias para falar sobre o sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói e, em seguida, sobre a morte do sequestrador.
A notícia teve grande destaque internacional, mas foi publicada quase sempre de forma superficial e puramente noticiosa, sem uma discussão mais detalhada sobre o caso ou a questão da violência urbana no Rio de Janeiro.
Em quase todos os veículos estrangeiros, o caso foi noticiado com informações básicas de agências internacionais e reprodução de informações da mídia local.
O jornal britânico The Guardian foi um dos que explicou um pouco melhor o contexto do caso –discutindo de forma crítica as ações policiais registradas no Rio desde o início do ano.
"Embora o número de assassinatos no Rio tenha caído drasticamente nos últimos meses, a polícia da cidade matou 15% a mais pessoas neste ano em comparação com o mesmo período de 2018. Um total de 881 pessoas, ou quase cinco por dia, morreu no mãos da polícia entre janeiro e junho, colocando 2019 no caminho para o maior número desde que os registros começaram em 2003."
A agência de notícias Associated Press também complementou a notícia com o contexto político do caso.
"O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, deu um soco no ar em triunfo ao chegar à ponte em um helicóptero depois que o seqüestrador foi morto. Mais tarde, ele elogiou a polícia, dizendo que a situação dos reféns era de alto risco, mas que os criminosos armados estão regularmente 'aterrorizando' as pessoas fora da vista da maioria dos brasileiros. Qualquer criminoso com uma arma de fogo 'pode e deve ser abatido por um atirador de elite', disse Witzel, rejeitando as preocupações de que os assassinatos por policiais de suspeitos no Rio estejam aumentando", relatou a AP, em texto publicado por veículos como a revista Time.
A grande visibilidade de mais um caso de violência em todo o mundo ajuda a reforçar uma imagem negativa do Brasil e do Rio de Janeiro –muito associada à violência.
Em uma entrevista recente com um executivo russo que realizou trabalhos no Brasil (parte de uma pesquisa ampla sobre a imagem do país), ele comentou sobre o quanto a questão da violência era repetida a todos os estrangeiros que visitavam o país. "Nunca aconteceu nada comigo, mas recebíamos muitas recomendações para tomar cuidado", disse.
A mídia estrangeira publica com frequência os números de violência no Brasil, criando uma percepção externa de grande risco no país. Casos como o do sequestro se juntam a relatos frequentes de violência urbana e notícias mais críticas sobre aumento da letalidade policial nos últimos meses.
"No Rio, muitos usam aplicativos especializados para navegar com segurança através dos combates diários entre policiais, gangues de traficantes e milícias de vigilantes formados por atuais e ex-policiais", descreve a reportagem do Guardian.
A falta de uma contextualização maior ou de uma discussão sobre o caso na imprensa internacional mostra a normalidade com que a violência é percebida no exterior. Isso piora a imagem já abalada do país.
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