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Blog do Brasilianismo

Protestos contra cortes na educação no Brasil têm destaque internacional

Daniel Buarque

15/05/2019 13h36

Antes mesmo do início dos maiores atos nacionais em defesa da educação pública, no fim do dia, os protestos registrados desde a manhã desta quarta-feira (15) no país começaram a ganhar visibilidade internacional. Ao longo da tarde e da noite, veículos da imprensa estrangeira passaram a dar ainda mais atenção às manifestações e à reação do presidente. Apesar de Jair Bolsonaro ter minimizado o impacto dos atos e criticado os manifestantes, a mídia estrangeira tratou os protestos como "imensos".

"Dezessete estados foram afetados por uma greve desencadeada após o anúncio de uma redução de 30% nas verbas para universidades federais", dizia uma reportagem publicada pelo jornal francês Le Monde no início da tarde (horário de Brasília).

"O recente anúncio do congelamento de 30% das verbas para universidades federais pelo novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, um tecnocrata, desencadeou uma ampla mobilização em um setor já visto como atormentado pela falta de apoio financeiro", explicava o jornal.

As manifestações nacionais foram convocadas em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica. Professores, estudantes e trabalhadores da educação participam dos protestos desde as primeiras horas da manhã. Os atos aconteceram após o MEC (Ministério da Educação) anunciar um congelamento orçamentário que atinge recursos desde a educação infantil até a pós-graduação, com suspensão de bolsas de pesquisa.

Além da reportagem do Le Monde, que foi uma das primeiras a dar destaque aos protestos nesta quarta, vários correspondentes estrangeiros em atuação no Brasil acompanham as manifestações desde o início da manhã. Ao longo do dia, a cobertura internacional foi ganhando corpo.

Até mesmo veículos conservadores, como a rede americana Fox News, trataram dos protestos registrados em todo o país. "Multidões protestam contra cortes na educação do Brasil", diz texto da agência de notícias Associated Press publicado pela Fox News.

Os protestos tiveram cobertura em veículos voltados a finanças, por exemplo. O Financial Times e o Wall Street Journal destacaram as manifestações em todo o Brasil, tratando isso como uma pressão sobre o governo.

"Estudantes e professores foram às ruas em todo o Brasil na quarta-feira para protestar contra os congelamentos, marcando as primeiras manifestações em todo o país contra o presidente Jair Bolsonaro enquanto ele luta para manter sua popularidade enquanto combate uma profunda crise fiscal", diz o WSJ.

O jornal também destacou a resposta do presidente aos atos: "O inflamado líder de extrema-direita chamou os manifestantes de 'idiotas úteis e imbecis"', relata, mencionando que os protestos reuniram "dezenas de milhares em todo o país".

O comentário do presidente se tornou o principal destaque da cobertura que o jornal britânico The Guardian fez dos atos pelo Brasil. Segundo a reportagem, os protestos desta semana foram os maiores já enfrentados pelo presidente que chegou ao poder no início deste ano, e foi mobilizado por estudantes e professores preocupados com o estado da educação no país.

"Os cortes no sistema educacional do país causaram um choque nas universidades financiadas pelo governo federal, geralmente as escolas mais prestigiosas e competitivas do país. Hospitais universitários, bolsas de pesquisa e escolas secundárias financiadas pelo governo federal também são afetadas pelos cortes, que, segundo o Ministério da Educação, faziam parte do limite de gastos imposto por Bolsonaro", diz o Guardian.

Toda a atenção dada no resto do mundo aos protestos ocorre por conta do tamanho das manifestaões em todo o país, mas em parte também porque as discussões em torno de cortes e posicionamentos do governo de Jair Bolsonaro sobre a educação têm recebido grande atenção internacional desde o início do ano.

Uma grande movimentação de acadêmicos estrangeiros foi registrada após o anúncio da intenção de rever investimentos em cursos de humanas e cortes gerais nas universidades. Milhares de pesquisadores de algumas das mais importantes instituições e universidades do mundo assinaram petições defendendo cursos de filosofia e sociologia. As declarações de Bolsonaro foram interpretadas como parte de um movimento hostil à academia.

Segundo especialistas, é preciso pensar o gasto em educação como investimento, e cortes nos orçamentos das universidades podem afetar o desenvolvimento do país.

Antes mesmo dos anúncios de redução no orçamento da educação, a imprensa internacional já destacava outras polêmicas ligadas à educação no Brasil. Uma delas foi a proposta de alunos filmarem professores que falassem sobre política. Segundo uma reportagem da rede britânica BBC, as salas de aula do Brasil se transformaram em um palco para as "guerras culturais" no país.

(O texto do post foi atualizado às 5h de 16 de maio – horário de Brasília)

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Sobre o Autor

Daniel Buarque vive em Londres, onde faz doutorado em relações internacionais pelo King's College London (em parceria com a USP). Jornalista e escritor, fez mestrado sobre a imagem internacional do país pelo Brazil Institute da mesma universidade inglesa. É autor do livro “Brazil, um país do presente - A imagem internacional do ‘país do futuro’” (Alameda Editorial) e do livreto “Brazil Now” da consultoria internacional Hall and Partners, além de outros quatro livros. Escreve regularmente para o UOL e para a Folha de S.Paulo, e trabalhou repórter do G1, do "Valor Econômico" e da própria Folha, além de ter sido editor-executivo do portal Terra e chefe de reportagem da rádio CBN em São Paulo.

Sobre o Blog

O Brasil é citado mais de 200 vezes por dia na mídia internacional. Essas reportagens e análises estrangeiras ajudam a formar o pensamento do resto do mundo a respeito do país, que tem se tornado mais conhecido e se consolidado como um ator global importante. Este blog busca compreender a imagem internacional do Brasil e a importância da reputação global do país a partir o monitoramento de tudo o que se fala sobre ele no resto do mundo, seja na mídia, na academia ou mesmo e conversas na rua. Notícias, comentários, análises, entrevistas e reportagens sobre o Brasil visto de fora.

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