‘Humilhante’, cancelamento mostra impacto da imagem negativa de Bolsonaro
Governo diz que "ataques" levaram à decisão de cancelar viagem do presidente a Nova York, mas foram as declarações do próprio Bolsonaro que reforçaram a reputação internacional de "homofóbico", "misógino" e "machista", e ampliaram a pressão contra a homenagem que ele receberia nos Estados Unidos. Cancelamento teve repercussão internacional e pode afetar imagem da economia brasileira, diz o NYT. Segundo o jornal britânico The Guardian, cancelamento é "humilhante".
O diretor do Citigroup, Michael Corbat, apareceu visivelmente constrangido na TV americana durante a semana para tentar explicar por que o banco continuava apoiando financeiramente a homenagem que Jair Bolsonaro receberia em Nova York –que via vários patrocinadores cancelarem sua relação com o evento em meio a grande controvérsia.
"Passamos muito tempo certificando-nos de que nossos funcionários entendam os valores de nossa empresa, e espero que, no caso disso, não haja dúvida em termos de nosso apoio, nosso apoio inabalável, para nossa comunidade LGBT", disse Corbat à rede CNBC. "Lá [no Brasil], estamos apoiando a Câmara de Comércio Brasileira. Nós operamos no Brasil por muitas, muitas décadas, e eu acho que estamos muito claros em termos de nossa postura."
A resposta mostra o forte impacto internacional das declarações recentes do presidente brasileiro a respeito de não querer que o Brasil se tornasse um destino de turismo gay. A postura de Bolsonaro teve grande repercussão internacional e foi vista como uma confirmação de sua postura homofóbica, como disse reportagem da CNBC, e foi este o ponto que acabou ampliando a pressão contra a homenagem a ele em Nova York.
Na noite de sexta-feira (3), Bolsonaro cancelou a viagem que faria para receber o prêmio "Pessoa do Ano", oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Em nota, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que o cancelamento se deve aos "ataques" feitos pelo prefeito de Nova York, Bill de Blasio, do Partido Democrata, a Bolsonaro.
A questão, entretanto, é que foram as declarações públicas do próprio presidente que ampliaram sua imagem negativa no resto do mundo, e não o que o governo vê como "ataques".
Em quase todas as reportagens sobre o presidente na imprensa internacional, as declarações de Bolsonaro são tratadas como "homofóbicas", "misóginas" e "racistas". Por mais que o próprio Bolsonaro tenha revelado desconforto com esta imagem internacional de "ditador", o presidente continua dando declarações que reforçam esta percepção internacional, como aconteceu no caso da sua rejeição à ideia do turismo gay no Brasil.
Isso é evidente ao perceber que o movimento contrário à homenagem a Bolsonaro, que antes aconteceria no Museu de História Natural, começou mais sob pressão de ambientalistas e cientistas preocupados com a posição do presidente brasileiro em relação à Amazônia. A controvérsia ganhou destaque por conta do contraste da política de Bolsonaro com o que é pregado pelo próprio museu. Mas, no fim, foram declarações posteriores do próprio Bolsonaro, vistas como um ataque à comunidade LGBT, que ampliaram o movimento contra a homenagem ao presidente.
"Por causa das últimas observações racistas, homofóbicas e misóginas de Bolsonaro, os organizadores viram vários locais em Nova York se recusarem a receber o jantar de gala, incluindo o Museu Americano de História Natural. Grandes patrocinadores como a Delta Air Lines, o Financial Times e a Bain & Co esta semana retiraram seu apoio ao evento", explica reportagem publicada pela agência de notícias Reuters.
A decisão de Bolsonaro de não viajar a Nova York foi tratada como um "constrangimento" pelo jornal britânico The Guardian. "O cancelamento é um declínio humilhante para Bolsonaro, que idolatra os Estados Unidos e foi homenageado por Donald Trump durante uma visita em março a Washington. Analistas disseram que é um sinal da reprovação internacional que suas visões extremistas e posições anti-ambientais estão começando a despontar no mundo", diz o jornal.
O cancelamento da participação de Bolsonaro no evento também pode ter consequências negativas para o Brasil e a imagem da sua economia. Segundo reportagem do New York Times, o evento era visto como uma "oportunidade valiosa para Bolsonaro e sua equipe lançarem oportunidades de crescimento para os investidores, muitos dos quais tinham esperanças na eleição de um líder conservador, mas ficaram cautelosos ao assistir seus turbulentos primeiros meses no cargo", explica.
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