Ameaça autoritária à democracia brasileira chama atenção no resto do mundo
A crise política está levando a uma ascensão do populismo e a uma crescente ameaça à democracia brasileira, o que já chama atenção internacionalmente. O crescimento do apoio ao pré-candidato Jair Bolsonaro e as manifestações a favor de uma intervenção militar no país indicam que o Brasil pode estar mergulhando em uma profunda crise democrática.
Uma análise publicada no jornal francês "Le Monde" nesta quarta (6) diz que parte da população do Brasil está tão insatisfeita com a política que se sente atraída pelo autoritarismo de extrema-direita.
Segundo o jornal, a raiva do sistema político no Brasil foi alimentado por escândalos de corrupção e se transformou em ódio visceral. "Enojada por políticos tradicionais, parte do país é agora tentada pelo autoritarismo", diz.
O assunto também foi analisado pelo professor Yascha Mounk, de Harvard, uma das principais referências no debate atual sobre a crise da democracia no mundo.
Autor do livro "The People vs Democracy", ele tem discutido de que forma a insatisfação das pessoas com a elite política tem fortalecido líderes populistas em vários países, incluindo Donald Trump nos EUA. Em uma entrevista concedida à Folha, Mounk se mostrou familiarizado com o que acontece no Brasil atualmente e analisou a situação da política brasileira às vésperas de uma eleição presidencial crítica, em que um dos candidatos com maior intenção de voto se enquadra neste perfil.
Para Mounk, Bolsonaro representa "a natureza do populismo".
"O tipo de político que está destruindo a democracia flerta com líderes autoritários e com momentos de autoritarismo da história. Ele está glorificando a ditadura militar do passado e dizendo que hoje em dia ele é o único que realmente representa o povo, que fala pelos brasileiros comuns. Isso é exatamente a natureza do populismo. Estamos vendo para onde isso leva na Rússia, na Turquia, na Hungria. A deslegitimação de partidos políticos abre espaço para políticos como ele. Isso é muito preocupante."
Segundo o pesquisador, o que se vê em muitos países, incluindo no Brasil, é um crescente descontentamento com a elite política que existe. É por isso que surgem vozes que falam em intervenção militar e que apoiam candidatos populistas.
"Ainda não estamos em um ponto em que os militares estejam próximos de tomar o poder no Brasil, mas a falta de legitimidade de políticos de esquerda e de direita, e a raiva da população em relação a toda a classe política me deixam muito desconfortável. Isso é motivo para preocupação quanto ao futuro de democracias", disse.
Segundo o professor, a atual crise do sistema leva justamente a uma situação na qual as pessoas acabam rejeitando o processo político e favorecendo o autoritarismo. Para ele, em uma situação assim, o importante é continuar defendendo as regras da política tradicionais e os direitos individuais.
Além disso, ele defende a educação em história como uma forma de lembrar que o mundo já viveu sob o pesadelo autoritário. "Atualmente ouço jovens alegando que o sistema não funciona, e que talvez seja hora de tentar algo diferente. É uma mentalidade de se perguntar 'o que temos a perder?'. Para qualquer pessoa que viveu sob ditadura, como no caso do Brasil, ou do fascismo na Europa, ou o comunismo, é bem óbvio o que se tem a perder, e que o autoritarismo deixaria tudo muito pior. A educação histórica é uma parte importante de mudar isso."
A avaliaçao de Mounk se alinha também a uma análise publicada recentemente na revista "Americas Quarterly". Segundo o editor-chefe da publicação, Brian Winter, o Brasil pode acabar abraçando uma alternativa autoritária por meio do voto, sem precisar de uma intervenção violenta dos militares.
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