Morte de brasilianista especialista em ditadura militar é ‘fim de uma era'
No momento em que o Brasil vive uma das suas mais sérias crises políticas e institucionais, com surgimento de vozes que flertam com o autoritarismo e a ideia de uma intervenção militar, morreu nesta semana um dos mais profundos conhecedores do processo que levou ao golpe de 1964, à subsequente ditadura militar e a volta à democracia.
O cientista político Alfred Stepan, professor de Columbia e autor de algumas das principais referências da academia internacional a respeito da ditadura no Brasil, morreu no dia 27, aos 81 anos.
Para o professor Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil do King's College de Londres, a morte de Stepan é como o "fim de uma era".
"Stepan era uma figura inspiradora, e lembro dele ir a Harvard para um jantar com estudantes de doutorado em que ele perguntou a cada um de nós (cerca de 30 pessoautorias) o que estávamos estudando. Ele parecia relamente interessado na nossa pesquisa, e era um redemoinho de ideias e energia", disse ao blog Brasilianismo. "Ele foi um dos pesquisadores de política comparada que mais me influenciaram".
Pereira até hoje usa o livro "Rethinking Military Politics" (Repensando a política militar) como referência em suas aulas na universidade britânica.
"Li seu livro 'The Military in Politics' (Os militares na política) muito cuidadosamente na minha tentativa de entender o golpe de 64 no Brasil, no meu primeiro ano de doutorado em Harvard. Também li seu "The State and Society" (O Estado e asociedade), que é realmente interessante porque analisa uma anomalia na América Latina dos anos 1970, um golpe militar de esquerda (no Peru)", explicou Pereira.
O diretor do Instituto Brasil ressalta que Stepan examinou cinco elementos da democracia, comparando as transições a este sistema no Leste da Europa e na América Latina. Além disso, explicou, o livro "Democratizing Brazil" (Democratizando o Brasil) inspirou o trabalho dos pesquisadores Tim Power e Peter Kingstone, que lançaram três volumes sobre a política brasileira: "Democratic Brazil" (Brasil democrático, lançado em 2000), "Democratic Brazil Revisited" (Revisitando o Brasil democrático, de 2008) e "Democratic Brazil Divided" (Brasil democrático dividido, que acabou de sair).
"O trabalho de Stepan sobre federalismo e a natureza da democracia brasileira foi tema de grandes debates sobre a democracia brasileira desde o ano 2000", disse.
Enquanto o Brasil enfrenta o ressurgimento de argumentos a favor do retrocesso e uma onda de desinformação a respeito de um dos períodos mais tristes da política nacional, a perda de um importante pesquisador que ajudou a conhecermos nossa própria história serve como alerta de que é preciso conhecer o passado para evitar a repetição dos seus erros.
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