'Impossível não sentir pena' do Brasil, diz ex-correspondente do 'Guardian'
Quando se mudou da China para o Brasil, em 2012, para se tornar correspondente do jornal britânico "The Guardian", o jornalista Jonathan Watts veio cheio de expectativas sobre o país que aparentava ser a grande promessa mundial. Ao se despedir do cargo e voltar para Londres, neste fim de semana, ele publicou longo um texto em que reflete sobre o tempo vivido aqui, as coisas boas, as expectativas e as frustrações encontradas durante seu período atuando no Brasil.
"É impossível não sentir pena do país. O Brasil entrou em marcha à ré em praticamente todas as frentes", diz, citando a crise econômica, o aumento na violência, a frustração da população com o governo e o tumulto político generalizado no país.
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Watts relata o grande choque que foi o contraste entre a vida na China e no Brasil, desde o contato com a natureza e as belezas do Rio de Janeiro à facilidade em ter acesso a líderes políticos do país. A expectativa dele era grande, conta:
"Uma das razões pelas quais mudei da China para o Brasil para me tornar correspondente da América Latina, em 2012, foi procurar um modelo de desenvolvimento mais sustentável. Naquela época, o Brasil parecia estar fazendo muitas coisas corretas. Sua economia em expansão acabava de ultrapassar a do Reino Unido; o popular governo de esquerda estava reduzindo a desigualdade; o desmatamento da Amazônia estava diminuindo; os negociadores brasileiros tiveram um papel positivo nas negociações sobre clima e biodiversidade; e minha nova casa, no Rio de Janeiro, estava prestes a sediar a Rio+20, a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016."
Por outro lado, diz que a população chinesa parecia mais interessada em busca por educação, enquanto os brasileiros aparentavam ser mais superficiais. Além disso, a burocracia e a falta de ambição do país também causaram impressões negativas.
"Ficou claro que haviam me vendido uma imagem sobrevalorizada do Brasil. Longe de ser um novo modelo, os últimos cinco anos se provaram um estudo de caso em como não governar um país", avalia.
O longo texto publicado no "Guardian" no domingo é cheio de reflexões sobre a situação do Brasil e da América Latina, e de comparações com a ascensão sem interrupções da China. Watts claramente desenvolveu uma relação com o Brasil, e aponta que vai sentir saudades da vida no Rio de Janeiro. O tom geral, entretanto, é de preocupação em relação aos problemas do país e o seu potencial não realizado, bem como a falta de perspectivas de correção de rumo do país.
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